Professora é chamada de "comunista", se demite e alunos protestam
Polarização política leva professora a pedir demissão e alunos organizam protesto contra e a favor à docente
© Reprodução / Facebook
Brasil Direita-esquerda
Uma professora de História dos Movimentos Sociais, que leciona no 9º ano no Colégio Jesuíta Medianeira localizado na cidade de Curitiba (PR), foi hostilizada por pais de estudantes que a chamaram de "comunista" e pediram sua demissão, após a docente criticar em suas redes sociais uma manifestação "pró-impeachment" feita pelo estudantes do colégio ao irem à escola vestindo preto, como forma de protesto contra o governo federal e favorável ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Apesar de não ter sido demitida pela direção da escola, a professora, que não quis ter sua identidade revelada,
sofreu pressões e acabou por pedir sua demissão. Com a saída da docente, alguns alunos resolveram protestar, levando cartazes como "Opinar não é doutrinar", enquanto outra parte protestou contra a professora, e também Dilma, Lula e o PT. Para evitar conflitos, a escola acabou proibindo toda e qualquer manifestação nas dependências da unidade de ensino, de acordo com o UOL.
Confira o texto da professora no Facebook, que legendou uma imagem da década de 1930, com crianças italianas vestindo o fardamento negro do Partido Nacional Fascista, então no poder:
"Hoje, vi crianças numa escola, vestindo preto e pedindo golpe. Desprezando a democracia e exalando ódio. Parece que não conseguimos escapar do que Marx profetizou quando disse que a História se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa…"
Dentre os comentários dos pais do colégio em grupo aberto no Facebook, é possível ler posts como "Comunista descarada!", ou "SE EU PEGAR ALGUM TEXTO COMUNISTA no caderno do meu filho eu vou RASGAR e devolver rasgado. E vou convidar o professor a me convencer. O COMUNISMO SÓ DEU CERTO NA CABEÇA DELES………..Argentina caiu, Venezuela caiu, e por aí vai. MAS ISSO É CULPA DA COORDENAÇÃO DE ENSINO EM DEIXAR QUE ISSO ACONTEÇA." e ainda "À diretoria do colégio deve tomar uma providência. Sou totalmente contra a ideologia de esquerda… Não aceito em hipótese alguma que professores fiquem doutrinando minha filha… Se minha filha aparecer em casa com alguma ideia esquerdista, vai dar confusão…".
Já na página da professora, alguns pais fizeram comentários como: "Porca vermelha, se afaste do meu filho", "Petista vagabunda, vai dar aula em Cuba ou no raio que o parta", e ainda: "Comunista burra, o comunismo acabou, devia voltar para a escola como aluna".
Um grupo de pais também se manifestou a favor da professora, dizendo que "nós, pais e mães de alunos do Colégio Medianeira apoiamos a continuidade de seu projeto político-pedagógico, que é pautado, entre outros princípios, na busca do diálogo, da livre expressão de ideias, do respeito aos direitos humanos e do estado democrático."
Após a professora pedir demissão, a escola emitiu comunicado dizendo que não aceitava o pedido: "Não aceitamos a demissão, a professora é referência nesta escola, está conosco há dez anos e é um de nossos melhores quadros. Ainda temos esperança de fazê-la mudar de ideia".
Aos pais, a escola emitiu nota oficial: "Como colégio jesuíta de educação básica, os acontecimentos do tempo presente são conteúdo em nossas salas de aula, dialogando com as práticas de currículo. Os princípios do cuidado à pessoa, do diálogo, da livre expressão de ideias, do respeito aos direitos humanos, do estado constitucional democrático, da cidadania, dentre outros, não são objeto de negociação, configurando-se como prerrogativas da formação de pessoas conscientes e inseridas no tempo e espaço em que vivem".
"É fundamental que nossos educandos e educandas, professores e professoras, pais e mães, sintam-se seguros, possam manifestar seus pensamentos, convivam em meio à diversidade de opiniões e de posicionamentos políticos. São pressupostos para a formação de pessoas reflexivas com sentido de história, de tempo e de espaço, do local e do global, do racional e afetivo. Por isso, são construções e não algo dado naturalmente", finaliza.