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A aplicação de substâncias preenchedoras para rejuvenescer a face tem ficado cada vez mais popular. Segundo dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, os procedimentos não cirúrgicos, como o preenchimento e a toxina botulínica, chegam a ocupar 47,5% da agenda de especialistas. Porém, com a famosa “harmonização facial” e o aumento da popularidade desse tipo de procedimento, é importante ter cautela antes de optar pela aplicação de preenchedores injetáveis, pois, se realizado de forma incorreta, o procedimento pode resultar em sérias complicações, como a perda parcial ou total da visão.
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“Isso porque a região da glabela, ou seja, a região entre as sobrancelhas, onde há grande formação de rugas, é um local de alto risco, pois contém uma série de artérias superficiais que se comunicam com as artérias da retina, que se obstruídas podem causar cegueira”, alerta a cirurgiã plástica Dra. Beatriz Lassance, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e da Isaps (International Society of Aesthetic Plastic Surgery).
E o risco está presente nesse tipo procedimento independentemente da substância preenchedora utilizada, seja ela ácido hialurônico, gordura ou hidroxiapatita de cálcio. De acordo com revisão sistemática* publicada no periódico científico PRS-Global Open, que analisou casos de perda de visão associados a preenchimentos faciais, de 190 casos, 47% foram causados por injeção isolada de gordura, 28% estavam relacionados a aplicação de ácido hialurônico e os outros 25% foram associados a outros tipos de preenchedores. Logo, é possível notar que os casos de cegueiras permanentes causadas pela aplicação de ácido hialurônico são menores do que aqueles causados por preenchimento com gordura.
Ao todo, estima-se que apenas 3 em cada 10 mil preenchimentos feitos com ácido hialurônico causem a complicação. Quando os vasos são atingidos pelo ácido hialurônico é possível realizar a aplicação imediata de injeções emergenciais de hialuronidase, enzima que promove a dissolução do ácido hialurônico. “O profissional especializado e preparado, ao notar que atingiu um vaso, agirá rapidamente e administrará a hialuronidase. Nesse cenário, é importante que você mantenha a calma para ajudar a agilizar o processo, pois a demora na aplicação da enzima pode impedir a recuperação”, explica a médica. Estudos mostram que em casos onde a enzima demorou a ser aplicada não houve reversão do quadro da perda de visão.
Além disso, as técnicas também evoluíram. Aplicação de preenchedores com microcânulas ao invés de agulhas apresentam menor risco de perfuração de vasos o que torna o procedimento mais seguro, menor riscos de marcas roxas e também menos dor. “Porém, esses fatos não querem dizer que o procedimento não demande atenção antes de ser realizado. Afinal, é sempre melhor prevenir do que remediar”, ressalta a especialista.
Por isso, o cuidado mais importante antes de você se submeter ao preenchimento facial, independentemente da substância que será usada, é se certificar de que o procedimento será realizado por um profissional especializado, já que muitas pessoas que dizem realizar esses procedimentos não são nem mesmo qualificadas, principalmente aquelas que prometem resultados por um preço muito abaixo do mercado. “O ideal é verificar se o profissional que realizará a aplicação é realmente qualificado, devendo ser médico dermatologista ou cirurgião plástico, já que a falta de conhecimento da anatomia facial é a principal causa de danos”, recomenda a cirurgiã.
Em caso de dúvida, utilize a internet e as redes sociais para verificar se o especialista que você escolheu é qualificado e experiente. O ideal é procurar por outros pacientes que também realizaram o procedimento com esse especialista para ver qual foi a experiência deles. Outra opção é entrar nos sites da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica para verificar se o profissional que realizará o procedimento está devidamente credenciado junto a alguma dessas instituições.
“Por fim, se você ainda estiver com medo de realizar o procedimento, aproveite a consulta para fazer inúmeras perguntas ao seu médico. Pergunte sobre a técnica, o produto, as possíveis complicações, o pré e o pós-procedimento, os resultados. Converse com o especialista. Se for o caso, vá embora e processe todas as informações antes de encarar o tratamento. Assim você poderá observar na prática as qualificações do médico e se sentirá realmente segura para realizar o procedimento”, finaliza a Dra. Beatriz Lassance.