Economia melhora, mas terceiro trimestre tem sinais contraditórios

A desaceleração global e a crise argentina fizeram crescer a incerteza em relação ao futuro econômico do Brasil

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Economia FGV 29/08/19 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A economia brasileira emite sinais contraditórios no terceiro trimestre. Se por um lado, há uma leve melhora do nível de atividade, por outro, voltou a crescer a incerteza em relação ao futuro, em meio à desaceleração global e à crise argentina.

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Isso fica claro nas pesquisas de confiança de empresários e das famílias. Na pesquisa mais recente da FGV (Fundação Getulio Vargas), de agosto, o setor industrial afirma que tanto a demanda corrente quanto o nível de encomendas para os próximos três meses melhoraram em relação a julho.

Questionados sobre um horizonte mais longo, de seis meses, no entanto, se mostraram mais pessimistas do que estavam em julho.

"É um ambiente de muita incerteza ainda e de ajustes de expectativas. É como se o país estivesse caindo na real de que a recuperação continuará sendo lenta", diz Renata de Mello Franco, economista da FGV/Ibre.

A sondagem que a instituição faz com consumidores teve desempenho parecido. Em agosto, eles se mostraram mais confiantes em relação à situação financeira das famílias e da economia de forma geral.Essa percepção se restringe, no entanto, a consumidores de baixa renda. Além disso, não parece relacionada a um otimismo em relação ao mercado de trabalho, mas à expectativa de liberação de recursos do FGTS por parte do governo, segundo a FGV.

Um sinal de que o indicador reflete mais alívio do que retomada da confiança é o fato de que a intenção de compras de bens duráveis caiu pelo terceiro mês consecutivo, para o menor nível desde janeiro de 2017.

Uma exceção da dicotomia entre percepção de melhoria da atividade econômica no presente e expectativas piores em relação ao futuro é o setor de construção civil, que tem mostrado recuperação em ambos os indicadores de sentimento.

Segundo especialistas, esse é um movimento positivo, mas insuficiente para reativar um ritmo de crescimento econômico mais forte no país. "Os poucos dados já conhecidos do terceiro trimestre têm sido muito fracos", afirma Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco.

Embora acima da expectativa de 0,2% do mercado, o resultado do PIB no segundo trimestre veio em linha com a expansão de 0,5% esperada pelo Itaú. Os dados divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira (29) mostram que a economia brasileira avançou 0,4% de abril a junho.

O analista ressalta que o quadro da indústria, que havia esboçado uma recuperação no segundo trimestre, é, por exemplo, o de uma provável contração em julho. O resultado oficial do setor no mês passado será divulgado na próxima semana.

Em agosto, diz Barbosa, há novos sinais de fraqueza da economia. Ele cita as importações de bens de consumo intermediários -usados como insumo na indústria- que vêm registrando quedas.

"Os dados são ainda muito preliminares e 80% dos números importantes para estimar o PIB trimestral ainda serão divulgados. Mas, se a tendência dos 20% já conhecidos se mantiver, é possível que o PIB (Produto Interno Bruto) volte a contrair no terceiro trimestre", diz Barbosa.

O Itaú Unibanco mantém projeção de crescimento de 0,8% em 2019 e 1,7% no próximo ano. A percepção de que a economia deverá crescer menos de 2% pelo quarto ano consecutivo em 2020, após uma longa recessão entre 2014 e 2016, tem crescido.

Nesta quarta-feira (28/08), o banco UBS anunciou mudança tanto em sua estimativa para o crescimento do país em 2019, de 1% para 0,8%, quando em sua projeção para 2020, de 2,2% para 1,5%.

Em relatório, a instituição chama a atenção para diversos fatores que podem estar freando a capacidade de crescimento mais rápido do país, sobretudo do investimento. Entre eles, ressalta a importância da demanda argentina para os bens industriais produzidos no país.

As incertezas em relação à economia argentina tendem a aumentar após o anúncio feito nesta quarta-feira pelo governo de Mauricio Macri de reestruturação dos prazos de pagamento da dívida de curto prazo do país. 

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