© Roberto Jayme / TSE
SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - Indicado na última quinta-feira (5) pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) para o comando da Procuradoria-Geral da República, o subprocurador Augusto Aras tem recebido críticas de aliados e eleitores do presidente por supostamente ter vínculo com partidos de esquerda.
PUB
A ideia é refutada por seu pai, o advogado Roque Aras, 87. Ex-deputado federal pelo MDB da Bahia de 1979 a 1982, Roque Aras também foi filiado ao PT, partido pelo qual disputou, sem sucesso, o Senado, em 1986, e a Prefeitura de Feira de Santana, em 1988.
Em entrevista à reportagem, Roque Aras afirma que o filho, ao contrário dele, nunca teve vinculação com partidos nem pretensões político-partidárias.
"Não existe essa história de ele ser de esquerda. Ele é um liberal na economia e conservador nos costumes, mais conservador do que eu até. Em alguns temas, me considero mais avançado que ele", afirma o advogado.
Deputado durante a ditadura militar (1964-1985), Roque Aras ficou conhecido por seu perfil conciliador. Ao presidir o MDB na Bahia nos anos 1970, serviu como ponte entre os deputados autênticos, com posição mais firme de oposição ao regime militar, e os adesistas, mais próximos ao governo.
Mostrando que ainda mantém o mesmo perfil político, afirma circular bem tanto entre petistas, que desde 2007 comandam o Governo da Bahia, quanto entre os oposicionistas.
E fez questão de esclarecer episódio no qual, em abril de 2013, Augusto Aras abriu as portas de seu apartamento em Brasília para um jantar de lançamento do livro do jornalista, escritor e então deputado federal Emiliano José (PT).
"Emiliano quis me homenagear por minha atuação como conciliador no período da ditadura. E Augusto aceitou que a homenagem acontecesse em seu apartamento", diz Roque Aras, afirmando que além de petistas, o jantar também teve a participação de políticos da oposição.
Sobre a indicação de Augusto Aras para a PGR, diz que o filho é um legalista e seguidor fiel da Constituição. E diz que ele terá uma "missão dificílima" caso sua indicação seja referendada pelo Senado. "A Procuradoria está desorganizada, está precisando de alguém que faça a instituição retomar a função de servir a sociedade, exatamente como foi pensada pela Constituição de 1988" afirma o ex-deputado.
Ele diz concordar com as críticas que o filho fez à atuação da força-tarefa da Lava Jato. Em entrevista, Augusto Aras afirmou que apoia a Lava Jato "como política de Estado", mas criticou o seu personalismo. "Os fatos demonstraram que Augusto tinha razão. A Lava Jato teve uma função muito importante na politica do país, mas cometeu excessos. A força-tarefa deve retomar o caminho exclusivamente da lei", afirma o ex-deputado.
Mesmo tendo atuado na oposição à ditadura militar, período defendido por Jair Bolsonaro, Roque Aras adota um tom político ao falar do presidente. Questionado sobre declarações em que o presidente defende torturadores como o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, diz que as falas não passam de estratégia de Bolsonaro para cativar um eleitorado mais à direita. "Ele tem suas estratégias para manter unida e forte a sua base mais próxima. Como todo governante, está pensando na continuidade do seu mandato", afirma.
Elogia o presidente pelas privatizações e por ter indicado um ministério sem indicações diretas dos partidos. Por outro lado, critica a atuação do governo na área ambiental e diz que o governo deve definir limites claros sobre quais áreas podem ser exploradas pelo agronegócio e quais não podem.
Ainda defende que o governo atue de maneira firme no combate à devastação e queimadas que acontecem ilegalmente: "Não é possível que a floresta seja derrubada de maneira criminosa".