Bruce Springsteen vira inspiração para jovem lidar com xenofobia

O filme é sobre a história real de um adolescente de origem paquistanesa que descobre Bruce Springsteen e usa a música para suportar o dia a dia na xenófoba Inglaterra da década de 1980

© Divulgação

Cultura CINE-LANÇA 18/09/19 POR Folhapress

RODRIGO SALEMLOS ANGELES, EUA (FOLHAPRESS) - "Blinded By The Light" foi o primeiro single do disco de estreia de Bruce Springsteen, "Greetings from Asbury Park, N.J.", lançado em 1973. A música agora batiza o novo drama da diretora britânica Gurinder Chadha ("Driblando o Destino"). Mas apenas na versão original em inglês. 

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No Brasil, o filme, que estreia nesta quinta-feira (19), recebeu o título genérico de "A Música da Minha Vida". "Me soa interessante, mas qual a razão? Bruce não é tão conhecido no Brasil?", pergunta a cineasta à reportagem.

Quando descobre que Springsteen só visitou o Brasil apenas duas vezes, em 1988 e 2013, e não é um nome tão popular quanto nos Estados Unidos ou Inglaterra, ela não desiste. "Precisamos mudar isso. Ele precisa voltar para outro show e tocar com Caetano Veloso e Marisa Monte."  A improbabilidade do encontro só não é maior que a da própria existência de "A Música da Minha Vida". 

O filme sobre a história real de um adolescente de origem paquistanesa que descobre Bruce Springsteen e usa a música para suportar o dia a dia na xenófoba Inglaterra da década de 1980 é baseado na autobiografia "Greetings from Bury Park: Race, Religion and Rock N' Roll" (2007), do jornalista Sarfraz Manzoor.

Manzoor conheceu a música de Bruce Springsteen durante o colegial e, mais tarde, começou a seguir o ídolo por diversos países, testemunhando mais de 150 shows e outros eventos. 

Na pré-estreia londrina de "The Promise: The Making of Darkness on the Edge of Town" (2010), documentário oficial sobre Springsteen, o jornalista foi tietar no tapete vermelho ao lado de uma amiga, também fã do roqueiro: era Gurinder Chadha. 

"Me perguntava se éramos os únicos fãs de Springsteen com aquele visual asiático", brinca a diretora. "Ele reconheceu Sarfraz dos shows e se aproximou de nós."

Naquele momento, a diretora já tinha feito sucesso com "Driblando o Destino" (2002), que revelou a atriz Keira Knightley, e o jornalista tinha acabado de lançar o livro. Os dois queriam levar a biografia para o cinema, mas não começariam o projeto sem a bênção de Springsteen, já que o roteiro é inteiramente ancorado pelas músicas e letras do Boss.

"Bruce falou que leu o livro e que a história era linda. Sarfraz surtou. Pensei: 'Tenho três segundos para conseguir vender o filme. Falei que era uma grande fã e que dirigi 'Driblando o Destino'. Ele falou que ouviu falar do longa, então expliquei que gostaria de adaptar o livro, mas precisaria do apoio dele", lembra Chadha.

"Bruce olhou para nós dois e disse: 'Me parece legal. Falem com Jon [Landau, produtor e agente de Springsteen]'. Foi assim que conseguimos fazer o filme."

Com os direitos musicais garantidos, "A Música da Minha Vida" conta a história de Javed (Viveik Kalra), descendente de paquistaneses que vive na cinzenta Luton, cidade ao redor de Londres.

Ele sonha com poesia, letras e música, mas precisa lidar com o pragmatismo do pai (Kulvinder Ghir), que enfrenta a dura crise econômica na Inglaterra de Margaret Thatcher e o preconceito contra imigrantes. Temas que retornaram em 2019. "Não imaginava que o filme seria tão relevante hoje em dia", admite a cineasta.

"Assim que o brexit ganhou, fiquei chocada com o tamanho da xenofobia que emergiu de todos os lugares. Achei tudo um horror e precisava falar algo sobre isso. Tornei o racismo que vivemos bastante visceral e grotesco no filme, mas também queria mostrar que existe esperança, que a maioria das pessoas deseja viver junta em sociedade."

Essa mensagem vem quando Javed descobre Springsteen. Ouvindo álbuns como "Born to Run" (1975), "Darkness on the Edge of Town" (1978) e "The River" (1980), o jovem é tomado por rebeldia, inspiração e indignação pelo sentimento de ser considerado um pária.

"Springsteen tem cantado por cinco décadas sobre como devemos nos respeitar, que ninguém vence a menos que todos vençam", explica Chadha.

"Ele escreve sobre as pessoas à margem da sociedade, que lidam com depressão, desejam uma vida melhor, trabalhadores. Bruce clama para que tenhamos empatia e simpatia uns pelos outros. Acho que agora precisamos dessa mensagem mais que nunca. Bruce Springsteen é um profeta."

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