Higienópolis vê alta em relatos de roubos e convive com insegurança

Os crimes ganharam repercussão após vídeos de câmeras de segurança terem sido divulgados em redes sociais

© H. Newberry / Pixabay

Brasil Insegurança 19/09/19 POR Estadao Conteudo

Os moradores do bairro de Higienópolis, na região central de São Paulo, têm relatado crescente sensação de insegurança diante da recorrência de furtos e roubos contra pedestres e até tentativas de invasão a condomínios. Os casos levaram a Polícia Militar (PM) a reforçar o policiamento na área. A corporação disse analisar permanentemente os índices criminais para reorientar o patrulhamento e traçar novas ações de combate à criminalidade no local.

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Os crimes ganharam repercussão após vídeos de câmeras de segurança terem sido divulgados em redes sociais. Alguns deles mostram ações rápidas de criminosos em bicicletas que furtam celulares de pessoas que estavam usando o aparelho na rua. Em outras imagens, duplas abordam as vítimas nas calçadas e fogem rapidamente levando pertences. Um terceiro tipo de gravação mostra pessoas estranhas aos condomínios tentando entrar no local, o que os moradores acreditam ser indício de que ali aconteceriam roubos.

Há dez anos trabalhando em uma banca na Avenida Angélica, Eduardo Luna, de 41 anos, está acostumado a ver a atuação da chamada gangue da bicicleta, jovens que rondam a região em busca de potenciais vítimas desatentas. Sua banca, contou, passou a ser alvo dos criminosos, que ficam observando quem ali recarrega o celular. "Muitos não conseguem chegar com o aparelho até a esquina", disse.

Luna atribuiu os casos recorrentes ao fluxo intenso de pessoas na avenida. "Chego às 6h e saio às 21h e a todo momento há crimes por aqui", disse ele, acrescentando que pontos de ônibus são locais preferenciais dos grupos criminosos.

Pessoas que esperam pedidos de aplicativos de transporte com o aparelho na mão também se transformam em alvo, relatou o taxista Pedro Henrique da Costa, de 26 anos, que trabalha em um ponto da mesma avenida. Ele disse ter notado uma intensificação dos casos nas últimas três semanas. "Eles chegam quando você está desatento e puxam rapidamente pelo alto. Eles ficam esperando a oportunidade", detalhou.

Seu colega, o taxista Fernando Alves da Silva, de 64 anos, voltou no mês passado a circular com seu veículo após mais de dois meses parado. O motivo foi o reparo necessário no carro depois de disparos terem furado diversos pontos da lataria durante uma tentativa de assalto no primeiro semestre perto dali.

O carro foi levado de um estacionamento da região por criminosos, mas a polícia chegou a tempo para prender os criminosos. Na placa, uma marca remanescente de bala não deixa Silva esquecer o caso. "Não estava lá no momento, mas escutei os tiros e pensei que estavam assaltando o banco. Mas não ousei por a cabeça para a fora da janela em razão do risco", disse.

Morador da região, o advogado Rodrigo Karpat disse ter alterado a rotina após os relatos de crimes. "Já não saio mais com o cachorro à noite na rua. O bairro era uma área residencial onde a qualquer horário havia pessoas circulando. Hoje, depois das 21h, as pessoas estão enclausuradas e os bandidos estão na rua", disse.

Ele atua na área de condomínios e sobre os casos específicos contra prédios disse ver uma necessidade de medidas que competem aos síndicos e aos moradores, mas também ao Estado. "O síndico pode adotar mais medidas de segurança visando a controlar o acesso de visitantes, por exemplo, e integrar as câmeras do prédio ao sistema da Prefeitura, o City Câmeras", destacou.

Por outro lado, Karpat também cobrou uma participação da comunidade por meio do programa Vizinhança Solidária, iniciativa do governo que aproxima a comunidade entre si e permite melhor contato com as polícias. "O programa tem contribuído muito para que os vizinhos tomem conta um dos outros e acionem as autoridades quando houver indícios de alguma situação incomum."

A participação dos moradores na causa da segurança da região é o ponto central da análise que a professora e tradutora Marta Lilia Porta faz sobre a questão. Presidente há cinco anos do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) da Consolação, Higienópolis e Pacaembu, ela reforça a necessidade de envolvimento da comunidade para que melhorias sejam obtidas. "O bairro de Higienópolis tem uma característica muito particular: é muito pouco colaborador com ações comunitárias voltadas para a segurança. São pessoas que gostam muito de reclamar, mas que não são capazes de registrar um boletim de ocorrência para que a polícia possa ter o registro e avaliar se precisa de mais ou menos viatura no local", disse.

Os dados do 4º DP (Consolação), que abrange Higienópolis, mas também outras áreas vizinhas, mostram que de janeiro a julho deste ano foram registrados 1.559 casos de roubo e 4.132 furtos. Os números são menores se comparados com o mesmo período do ano passado: 1.617 e 4.572, respectivamente.

Assim como a polícia, Marta reforçou a necessidade de que chamadas sejam feitas ao 190 e os boletins sejam registrados nas delegacias da área (4º DP Consolação ou no 77º DP Santa Cecília). Ela disse reconhecer em parte a realidade de sensação de insegurança e até de diminuição de viaturas disponíveis para a região, mas voltou a cobrar participação para melhoria de parte dos problemas. "É o Estado que deveria dar essa estrutura, lógico. Mas tivemos reunião com o secretário em que ele falou sobre a necessidade de ter uma câmera apontada para a rua e a integração com o City Câmeras. Sabe qual foi a resposta? Reclamaram do gasto que teriam. É um bairro nobre e ninguém consegue uma coisa dessa ou uma doação de três bicicletas para a polícia."

Policiamento reforçado

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública disse que a Polícia Militar reforçou o policiamento na região citada. Informou também que um homem acusado de roubo foi preso no sábado, dia 14, depois do trabalho de investigação do 77º DP. "As vítimas de roubos na área estão sendo convocadas a realizar o reconhecimento dele."

"As polícias analisam permanentemente os índices criminais para reorientar o patrulhamento e traçar novas ações de combate à criminalidade no local. Além disso, desde o início da nova gestão o trabalho das polícias na capital tem sido aprimorado com a realização de megaoperações, como a São Paulo Mais Seguro. As ações na área do 77º DP resultaram na prisão e apreensão de 194 criminosos e recuperação de 51 veículos."

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