Presença de empresas juniores cresce nas universidades brasileiras

Organizações são criadas por alunos do ensino superior para que possam praticar o que aprendem em aula por meio da vivência empresarial

© iStock

Economia Empreendedorismo 21/09/19 POR Folhapress

GRAMADO, RS (FOLHAPRESS) - Com a participação de 5.121 universitários de todo o Brasil, o 26º Encontro Nacional de Empresas Juniores (ENEJ) transformou a cidade de Gramado (RS) na capital do empreendedorismo jovem no país entre 4 e 7 de setembro.

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O evento é o mais esperado do ano por estudantes que fazem parte de empresas juniores, organizações criadas por alunos do ensino superior para que possam praticar o que aprendem em aula por meio da vivência empresarial.

Coordenado pela Brasil Júnior -confederação que representa as empresas juniores e parceira do Prêmio Empreendedor Social-, o ENEJ inspira e conecta os empresários juniores de norte a sul do país durante quatro dias de capacitação e compartilhamento de experiências, estimulando a criação de projetos transformadores.

"O evento foi o momento de desenvolver, disseminar, elucidar e debater uma estratégia alinhada em conjunto com foco nos números e metas do movimento, mas também para fortalecer o discurso e a certeza de que juntos vamos mais longe", conta Fernanda Guedes, líder de Educação Empreendedora da Brasil Júnior.

O propósito do Movimento Empresa Júnior (MEJ) é formar empreendedores comprometidos e capazes de transformar o Brasil.

Presente em 171 instituições de ensino, sendo a maioria delas universidades federais, o movimento demonstra um crescimento exponencial a cada edição do encontro nacional.

Em três anos, o número de empresas juniores confederadas mais que dobrou, enquanto o número de projetos realizados cresceu 375%.

Tudo isso graças a universitários com sede de mudança que veem no ambiente acadêmico grandes oportunidades de converter a teoria em práticas de impacto.

Renan Nishimoto, atual presidente da Brasil Júnior, acredita que o trabalho de inovação das empresas juniores combate o discurso da balbúrdia predominante no ensino público superior.

"A gente entende que o papel da universidade não pode ser reduzido às questões de balbúrdia. Além do conhecimento essencial e de qualidade das salas de aula, existem inúmeras ações no cenário acadêmico que defendem propósitos fundamentais para o Brasil", conta o estudante de engenharia da Unesp.

Reflexo do trabalho missionário da Brasil Júnior em formar estudantes empreendedores, o ENEJ deste ano também demonstrou crescimento considerável em comparação às edições anteriores.O encontro foi o maior da história e surpreendeu principalmente com a contribuição financeira à cidade em que foi sediado.

Com expectativa de movimentar R$ 5 milhões em Gramado, os estudantes mais que dobraram o valor especulado, movimentando ao todo R$ 12 milhões durante os quatro dias de evento.

Para a líder Fernanda Guedes, o número de participantes no ENEJ e o impacto milionário superaram as expectativas de toda a equipe da Brasil Júnior, tornando os empresários mais confiantes sobre os resultados que serão revelados no levantamento do fim do ano.

"Acreditamos que agora o Movimento Empresa Júnior conseguiu o gás necessário para superar a nossa previsão de desenvolver 23 mil projetos e faturar R$ 45 milhões em 2019."

CONQUISTAS DE QUEM SONHA ALTOEm 2016, o MEJ conquistou algo que almejava desde sua chegada ao Brasil, em 1988. A tão sonhada legislação da empresa júnior (Lei Federal 13.267), impulso para a expansão do movimento em todo o território nacional.

A lei determina que as universidades ofereçam espaço físico para as organizações e que professores orientem as atividades dos alunos nas chamadas empresas juniores.

"A aprovação da lei possibilitou que o MEJ fosse visto com mais seriedade pela sociedade", afirma Laura Giovelli, ex-empresária júnior e atual diretora de imprensa da Brasil Júnior.

O ENEJ 2019 foi um marco histórico também pelo fato de reunir na serra gaúcha representantes das federações de todos os estados brasileiros.

Em 2018, o MEJ conseguiu converter em federações os conjuntos de empresas juniores de Roraima e do Amapá, os dois únicos estados que faltavam para formar uma única e diversificada rede nacional do empreendedorismo universitário.

Hoje são 935 empresas criadas dentro de instituições majoritariamente estaduais e federais, um dos motivos para que o Movimento Empresa Júnior defenda as universidades por meio do estímulo e de debates que incentivem a adesão de mais estudantes à causa empreendedora.

"Além de servir como uma base para a implementação de projetos, [o empreendedorismo júnior] estimula a inovação em ambientes acadêmicos. A educação é a base para o futuro do país e é um investimento que nunca pode deixar de ser priorizado", aponta o presidente Renan Nishimoto.

GIGANTES JUNIORESOs empresários juniores atendem de microempreendedores a grandes marcas, com resultados que superam o esperado e se assemelham a serviços de empresas sênior.

Um exemplo é a Fluxo Consultoria, mantida por estudantes de engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com faturamento de R$ 1 milhão em 2018, a empresa júnior foi homenageada no 25º ENEJ, em Ouro Preto (MG).

Como os estudantes não podem receber remuneração pelo trabalho na empresa júnior, todo o lucro é reinvestido na infraestrutura do negócio e na capacitação dos funcionários, por meio de cursos e intercâmbios.

Além do potencial econômico, o empreendedorismo universitário apresenta cada vez mais projetos de inovação e impacto social.

Em 2019, os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU tornaram-se base para o planejamento estratégico do MEJ. Segundo a Brasil Júnior, para que um projeto seja de alto impacto ele deve estar ligado a pelo menos um dos ODS.

O case da EPR Consultoria, ligado ao ODS 3 (saúde e bem-estar), foi apresentado como um exemplo de sucesso aos congressistas do ENEJ 2019.

Dirigida por estudantes de engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a EPR atendeu o pedido de otimização do atendimento de um hospital de Porto Alegre.

A consultoria dos estudantes fez com que o tempo médio de internação no hospital baixasse de 3h51 para 2h30, o que possibilitou que mais de 6.000 novos pacientes fossem atendidos desde a entrega do projeto.

Já em São Paulo, a Poli Júnior se destaca quando o assunto é impacto social. No ano passado, estudantes de engenharia da Escola Politécnica da USP criaram o "pessário", dispositivo que ajuda a reduzir os índices de partos prematuros em decorrência do colo do útero curto.

Inserido na gestante, o produto funciona como um suporte estrutural e também como método de administração de medicamentos. A intenção do projeto é fazer com que deixe de ser real o dado de que, a cada hora, dois bebês morrem por terem nascido prematuramente no Brasil.

Com impacto em saúde e economia, o resultado final foi um produto fabricável em larga escala, capaz de reduzir em mais de 45% as ocorrências de parto prematuro.

Previsto para ser comercializado em dois anos, espera-se que sejam economizados mais de R$ 75 milhões e que, a cada hora, um bebê seja salvo pela inovação projetada dentro da universidade pública.

A BUSCA POR UM BRASIL EMPREENDEDOREmbora superem as expectativas sobre o que é feito em instituições de ensino superior, os ativistas do Movimento Empresa Júnior continuam sendo universitários e agindo como tal.

Repleto de música, luzes, hinos e gritos de guerra entoados por diferentes sotaques, nem mesmo o frio de 5ºC foi suficiente para conter a animação dos participantes do ENEJ em Gramado.

Itinerante, o encontro acontece uma vez por ano e leva a diferentes estados uma programação recheada de workshops, apresentações, rodas de discussão e oficinas práticas, todos voltados ao aprimoramento dos empresários juniores em conjunto.

Economia colaborativa, tipos de organograma mais eficientes e definições de impacto social e como causá-lo foram alguns dos conteúdos abordados.

Com tema "Reflexos do Movimento", a 26ª edição contou com mais de 60 palestrantes, entre eles os deputados federais Felipe Rigoni (PSB-ES) e Tiago Mitraud (Novo-MG), que fizeram parte do Movimento Empresa Júnior (MEJ) anteriormente.

Rigoni, aos 28 anos de idade, é o primeiro cego a ocupar uma cadeira na Câmara. Conforme apontou em um de seus discursos durante o evento, muito dessa conquista se deve à participação do movimento.Para ele e também para Mitraud, os empresários juniores que lutam pela causa do MEJ são agentes extremamente capazes de impactar e transformar a realidade do Brasil.

Em seu discurso final, no último dia de evento, Rigoni trouxe dados atuais sobre os índices de desemprego e o crescimento da desigualdade no país.

"Quem vai responder o chamado do gigante?", ele questiona, referindo-se à população insatisfeita com o cenário econômico e político, influenciado pela corrupção em escala.

O deputado conta com o poder de inovação do empreendedorismo universitário e sua capacidade de gerar grandes mudanças para alterar as realidades econômica, política e social do país.

No entanto, ainda há muito em que insistir e investir, principalmente em educação empreendedora. Segundo a Brasil Júnior, apenas 0,12% dos jovens brasileiros que estudam fazem parte do Movimento Empresa Júnior.

UMA ESPERANÇA PARA OS BRASILEIROSPara Renan Nishimoto, o MEJ é um movimento de amor, fé e esperança por um Brasil melhor.Ele defende que aqueles estudantes, que viajaram por horas -alguns durante dias- para enfrentar o frio de Gramado e compartilhar experiências e conhecimentos, são o futuro da nação e têm a responsabilidade de se juntar para gerar mudanças ainda mais transformadoras."Não é só por nós que estamos aqui. A gente [time da Brasil Júnior] acredita muito em vocês, e o Brasil acredita na gente."

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