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NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro usou um colar indígena ao sair de seu hotel para um jantar em Nova York nesta segunda-feira (23). Segundo o Palácio do Planalto, o adereço foi um presente da índia Ysani Kalapalo, que foi convidada para integrar a comitiva brasileira na viagem.
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Bolsonaro deixou o hotel Intervontinental Barclay por volta das 19h50. Estava acompanhado de Ysani e, quando as câmeras das emissoras de TV se aproximaram, ele abraçou a convidada e passou a caminhar ao lado dela. Os dois viajaram no mesmo carro até o jantar. Questionado sobre a peça que usava em volta do pescoço, o presidente não quis dar detalhes.
Em meio à crise da Amazônia - com repercussão internacional - o presidente faz um movimento alegórico para tentar refutar a ideia de que tem uma política negligente em relação ao meio ambiente, prejudicando a floresta e a população da região, inclusive indígenas.
A decisão de levar uma índia na comitiva presidencial aos EUA foi mais um movimento do governo para tentar acalmar os ânimos fora do país. Bolsonaro ficou sob pressão de líderes e organizações internacionais devido ao afrouxamento de mecanismos de fiscalização do meio ambiente. Ele defende, inclusive, a revisão da política de demarcação de terras indígenas.
A participação de Ysani na viagem aos EUA é alvo de contestação de um grupo de defesa de direitos indígenas. A Atix (Associação Terra Indígena Xingu) afirma em nota divulgada no sábado (21) que ela não foi indicada por nenhuma entidade representativa para compor a comitiva do governo e acusa o Planalto de desrespeitar "povos e lideranças indígenas renomados do Xingu."
Apoiadora de Bolsonaro desde a campanha eleitoral, Ysani diz ser da aldeia no Parque Indígena do Xingu, mas a ATIX declara que a índia é "residente e domiciliada em Embu das Artes", na Grande São Paulo.
No texto assinado por 14 caciques, a associação diz que a índia "vem atuando nas redes sociais para ofender e desmoralizar as lideranças e o movimento indígena no Brasil." "Não aceitamos e nunca aceitaremos que o governo brasileiro indique por conta própria nossa representação indígena sem nos consultar através de nossas organizações e lideranças reconhecidas e respaldadas por nós."
Ysani defende o discurso do governo de que há notícias falsas sobre a abrangência do desmatamento e queimada na Amazônia. A intenção inicial era que Ysani assistisse ao discurso de Bolsonaro de dentro do plenário, diante de todas as delegações internacionais. O Brasil, porém, terá direito a seis lugares no salão principal da ONU e a previsão é que eles sejam ocupados, além de Bolsonaro, por Michelle Bolsonaro, o chanceler Ernesto Araújo, o general Augusto Heleno (GSI), além do deputado Eduardo Bolsonaro e do senador Nelsinho Trad, presidentes das comissões de relações exteriores da Câmara e do Senado, respectivamente.
Durante a cúpula da ONU, uma das principais organizações multilaterais do mundo, líderes, empresários e investidores estarão com os olhos voltados para a maneira como o Brasil conduz a crise, agravada com o aumento de queimadas e desmatamento da floresta.
O governo Bolsonaro minimiza o tamanho dos incêndios, afirma que eles estão na média dos últimos 20 anos, e insiste no discurso de que o desenvolvimento sustentável não exclui as atividades econômicas que poderiam, na avaliação do Planalto, ajudar a população local.
Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), porém, mostram que o desmatamento na Amazônia aumentou 222% em agosto deste ano em comparação com o mesmo período em 2018. Os índices são corroborados pela Nasa, a agência espacial americana.