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Milhares pessoas manifestaram-se hoje no centro de Hong Kong, entoando cânticos e discursos para assinalar o quinto aniversário do 'movimento dos chapéus-de-chuva amarelos', protesto que exigia eleições livres naquele território.
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A manifestação convocada pela Frente Civil dos Direitos Humanos em defesa dos direitos humanos, realizada no parque Tamar, foi aprovada pela polícia, mas, segundo a Associated Press (AP), rodeada de segurança rigorosa, com barreiras a impedir o acesso aos edifícios do Governo e ao prédio do Conselho Legislativo, que havia sido invadido por manifestantes em julho, durante um protesto.
Os manifestantes colocaram uma grande faixa com a inscrição "Estamos de volta", próximo de uma passagem para as instalações do Governo.
Em 2014, quando os manifestantes ocuparam várias ruas da cidade durante 79 dias, nas paredes que ladeavam uma escada de acesso a uma ponte foram colocados vários cartazes, mas os contestatários não lograram qualquer concessão do Governo.
Hoje, pouco antes do início do protesto, um pequeno grupo de manifestantes vestidos de preto, usando óculos e máscaras, tentou escalar as barricadas no exterior dos escritórios governamentais, o que levou a polícia a disparar gás pimenta.
Os manifestantes recuaram mas voltaram a confrontar a polícia e a bater nas baias de metal, num confronto que se repetiu por várias vezes, com mais disparos de gás por parte da autoridade, acabando por atingir jornalistas no local.
A manifestação foi antecedida pelo anúncio de Joshua Wong, de 22 anos, de que vai concorrer nas eleições do conselho distrital em novembro e que considerou a votação crucial para enviar uma mensagem a Pequim de que o povo está mais determinado do que nunca para vencer a batalha por mais direitos.
"Há cinco anos dissemos que voltávamos e agora estamos de volta com uma determinação ainda mais forte", disse em conferência de imprensa, adiantando: "A batalha a travar é a batalha pela nossa casa e pela nossa pátria".
O ativista, que tem sido repetidamente preso por causa da organização de manifestações consideradas ilegais, adiantou estar ciente de que pode ser desqualificado, até porque membros do partido Demosisto, que cofundou em 2016, foram desqualificados no passado na corrida a cargos, porque, segundo o ativista, defendiam a autodeterminação.
"Se eles me desqualificarem, isso gerará cada vez mais força ... eles pagarão o preço", ameaçou o ativista, que saiu da prisão no início deste mês depois de pagar a fiança.
Além da manifestação, os manifestantes têm agendados para domingo comícios globais "anti-totalitarismo" em Hong Kong e mais de 60 outras cidades do mundo para denunciar o que chamam de "tirania chinesa".
Na terça-feira, data em que o Partido Comunista assinala o 70.º ano no poder em Pequim, os manifestantes planeiam uma grande marcha no centro da cidade, que se teme que possa resultar em duros confrontos.
Hong Kong enfrenta, há mais de três meses, a mais grave crise política desde a sua entrega à China, em 1997, com ações e manifestações quase diárias exigindo reformas democráticas, como eleições livres, e um inquérito independente à alegada violência policial.
Com o aproximar das celebrações dos 70 anos da fundação da República Popular da China, agendadas para 01 de outubro, os protestos prometem intensificar-se este fim de semana nas ruas de Hong Kong.
O Governo de Hong Kong anunciou a retirada formal das emendas à polémica lei da extradição que esteve na base da contestação social desde o início de junho.
Contudo, os manifestantes continuam a exigir que o Governo responda a quatro outras reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e, finalmente, a demissão da chefe de Governo e consequente eleição por sufrágio universal para este cargo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.
A transferência de Hong Kong para a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio "um país, dois sistemas".
Tal como acontece com Macau, para aquela região administrativa especial da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, com o Governo central chinês a ser responsável pelas relações externas e defesa.