Joice usa recurso público de gabinete em guerra digital

A deputada teria usado sua cota parlamentar para pagar uma empresa que gerencia suas redes sociais

© Valter Campanato/Agência Brasil

Política Deputada 24/10/19 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ex-líder do governo no Congresso, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) utiliza dinheiro de sua cota parlamentar para pagar uma empresa que gerencia suas redes sociais, usadas como armas na guerra digital que trava com os filhos do presidente Jair Bolsonaro.

PUB

A EG Consult, sediada no Rio de Janeiro, recebe R$ 2.500 mensais da verba pública para, entre outras tarefas, administrar um grupo de Whats-App em que a deputada rebate acusações de traição e critica adversários.

Joice tem denunciado o uso de uma estrutura sediada no Palácio do Planalto para coordenar "milícias digitais" usadas contra desafetos do governo. Ela afirma que essa rede, que passou a tê-la como alvo e seria chefiada pelos filhos de Bolsonaro, teria 20 perfis no Instagram alimentando uma rede de cerca de 1.500 páginas.

A proprietária da EG Consult, Elisa Gomes de Oliveira de Morais, é administradora e criadora do grupo de WhatsApp "Joice, eu apoio!", parte da estrutura de comunicação da deputada.

Mensagens enviadas para o grupo são respondidas de forma automática com a assinatura "Atendimento JH".

Esse serviço não aparece discriminado nas notas fiscais emitidas até o mês passado pela EG Consult para receber o dinheiro da cota da deputada. As notas citam "geração de materiais de ordem gráfica e multimídia, gerenciamento, atendimento e suporte aos usuários das plataformas de comunicação utilizadas pela deputada federal", e mencionam Facebook, Instagram, YouTube e Twitter.

A cota parlamentar é uma verba da Câmara criada para custear despesas do mandato. Entre os gastos previstos está "divulgação da atividade parlamentar", segundo ato da Mesa Diretora da Câmara de 2009, que regulamentou o uso dos recursos.

O conteúdo das redes sociais de Joice, no entanto, inclui mais do que a exposição de sua atividade como deputada federal. Textos e vídeos com ataques a opositores são frequentes.

O mesmo ocorre com o grupo de WhatsApp gerenciado por Morais. Nos dias seguintes à destituição de Joice do cargo de líder do governo, a administradora postou: "Joice nunca traiu o governo. Isso é discurso de quem é membro do Gabinete do Ódio".

A referência é a uma estrutura com três assessores da Presidência -Tercio Arnaud Thomaz, 31, José Matheus Salles Gomes, 26, e Mateus Matos Diniz, 25- que seriam parte da chamada "milícia digital".

Em outro diálogo, Morais reage a um membro do grupo que chama Joice de "traidora disfarçada de justiceira".

"Não existe nenhuma traidora aqui. Que saiam [do grupo] todos os fakes e MAVs", disse ela, em referência à sigla para Militância em Ambientes Virtuais.

A administradora também postou um banner com texto em que Joice diz: "Os filhos dele [Bolsonaro] estão induzindo ele ao erro constante e enterrando o governo. Vou proteger o presidente até mesmo dos próprios filhos. Sigo lutando pelo Brasil".

O contrato com a Eg Consult foi assinado no mês de junho. Segundo a deputada, a razão foi a necessidade de prestar contas do mandato e ouvir as pessoas que a procuram.

OUTRO LADO

"São milhões de seguidores e cidadãos que precisam ser atendidos, de modo que eu, sozinha, infelizmente não tenho condições de atender a todos", afirmou a deputada federal Joice Hasselmann, por meio de nota.

Segundo a parlamentar, as postagens em redes sociais que são ataques a adversários são de sua responsabilidade. "Se eu for atacada, irei rebater. A empresa não tem nada a ver com esse tipo de conteúdo", declarou.

Isso não se aplica ao grupo de WhatsApp, porém, em que os textos são de responsabilidade da proprietária da EG Consult, de acordo com registros obtidos pela reportagem.

Segundo a parlamentar, a ação da empresa contratada por seu gabinete não tem semelhança com a milícia virtual que ela denuncia.

"Estamos falando de uma empresa regulamentada que presta serviços, que tem CNPJ, que emite notas fiscais. [...] A milícia digital atua por baixo dos panos, são perfis fakes que fingem não estar vinculados a determinadas pessoas e que espalham discurso de ódio", afirma.

A reportagem não conseguiu contato com Elisa Morais, dona da EG Consult.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

fama Luto Há 14 Horas

Morre o cantor Agnaldo Rayol, aos 86 anos

esporte Peru Há 17 Horas

Tragédia no Peru: relâmpago mata jogador e fere quatro durante jogo

mundo Loteria Há 17 Horas

Homem fica milionário depois de se esquecer do almoço em casa: "Surpreso"

fama Televisão Há 16 Horas

'Pensava que ia me aposentar lá', diz Cléber Machado sobre demissão da Globo

politica Tensão Há 18 Horas

Marçal manda Bolsonaro 'cuidar da vida' e diz que o 'pau vai quebrar' se críticas continuarem

lifestyle Alívio Há 17 Horas

Três chás que evitam gases e melhoram a digestão

tech WhatsApp Há 17 Horas

WhatsApp recebe novidade que vai mudar forma como usa o aplicativo

fama Saúde Há 17 Horas

James van der Beek, de 'Dawson's Creek', afirma estar com câncer colorretal

fama Luto Há 18 Horas

Morre o lendário produtor musical Quincy Jones, aos 91 anos

mundo Catástrofe Há 16 Horas

Sobe para 10 o número de mortos após erupção de vulcão na Indonésia