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Legalmente, uma dívida prescreve no Brasil após o prazo de cinco anos, o que significa que o consumidor deixa a lista de inadimplentes e não pode mais ser acionado judicialmente. Apesar disso, muitos fazem questão de acertar as contas.
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Como o débito continua existindo, bancos e empresas de recuperação de crédito mantêm a cobrança, inclusive com incidência de juros. "O que não pode é recorrer à Justiça nem negativar o consumidor após esse período", explica a chefe da área de Cobrança da Recovery, Marcela Gaiato.
Ela afirma, contudo, que boa parte dos consumidores quer regularizar a situação. "Nossa experiência mostra que as pessoas fazem questão de pagar suas dívidas mesmo após esse período. Isso ocorre especialmente nas classes mais baixas."
No ano passado, cerca de 38% dos inadimplentes com dívidas acima de cinco anos, que fecharam acordo com a Recovery, pagaram os valores em dia. Os demais começaram a quitar o débito, não chegaram ao final, mas voltaram a renegociar. Nas dívidas vencidas há menos de cinco anos, a taxa de sucesso é de 43%.
Segundo especialistas, apesar de ter novamente o nome limpo após cinco anos, os consumidores podem ter restrições na hora de tentar novos créditos. Hoje, quase toda a carteira em atraso das instituições financeiras e do comércio vai para empresas de recuperação de crédito, que têm equipes especializadas em ir atrás dos devedores.
Reserva
"A inadimplência no Brasil é resultado do descontrole dos consumidores e da incerteza sobre a renda", diz o fundador e presidente do Guiabolso, Thiago Alvarez. Segundo ele, dois terços dos brasileiros não são assalariados e enfrentam forte incerteza sobre seus rendimentos.
Portanto, diz ele, a dica para não entrar na lista de devedores é ter uma reserva financeira capaz de suportar as contas por um determinado tempo. "Pelo menos dois motivos que levam à inadimplência podem ser evitáveis se o consumidor tiver uma reserva: um é a perda de emprego e o outro é doença em família." O terceiro principal fator de inadimplência é o empréstimo do CPF ou do cartão de crédito para terceiros.
Criar uma reserva, no entanto, não é uma tarefa fácil. O caminhoneiro Alceo Tramujas Neto é autônomo e ainda não conseguiu encontrar uma alternativa para se livrar das dívidas. Motorista há 27 anos, ele conta que a situação do setor tem sido tão difícil que coloca o trabalhador numa posição humilhante. "Passo meses na estrada e volto para casa sem dinheiro suficiente para bancar as despesas."
Desde a greve do ano passado, as coisas pioraram, diz ele. Nesta semana, para pagar a parcela do caminhão, foi obrigado a pegar dinheiro com agiota. Também decidiu colocar as duas carretas à venda para tentar organizar sua vida financeira. Ele ficará apenas com o cavalo do caminhão. "Sem as carretas terei de buscar cargas em empresas que tenham a carreta", explica. "Minha situação é a de milhares de outros caminhoneiros que sofrem com as condições do setor, onde quem ganha dinheiro é o atravessador", afirma Tramujas.
Além de estar com o nome sujo na praça, o caminhoneiro está com parcelas atrasadas da compra de pneus, aluguel da casa e outras despesas. "O que eu queria era vender o caminhão, pagar as contas e virar empregado novamente."
Acordo
Bernadete do Carmo França, de 46 anos, fez o caminho inverso. Depois de ficar desempregada por oito meses conseguiu vaga numa empresa que começou a atrasar o salário. Viúva e inadimplente, ela decidiu trabalhar por conta própria. Hoje, é confeiteira e tem de controlar muito bem seus gastos.
Depois de fazer acordo com a Recovery e regularizar sua situação, seu único objetivo é não fazer mais dívidas e gastar de acordo com sua renda. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.