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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em seu canal no YouTube, Vanderlei Luxemburgo, 67, tem um vídeo intitulado "Luxemburgo x Bolsonaro e o Palmeiras", publicado em dezembro de 2018. Nele, o técnico expressa sua opinião sobre a presença do então presidente eleito em alguns jogos do time alviverde, situação que ele classifica como "normal".
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Na visão do treinador, é "frescura" criticar o direito de Jair Bolsonaro de expressar torcida por uma equipe apenas pelo fato de ele ser um político. Da mesma forma, Luxemburgo, como figura pública do esporte, defende o seu direito de opinar sobre tudo, inclusive política.
"Eu não posso perder esse privilégio de ser um cidadão brasileiro dentro de uma democracia que tem liberdade para todo mundo", afirmou o treinador, em entrevista à Folha de S.Paulo "Às vezes, as pessoas [nos] tratam de forma diferente. Acham que nós, pessoas públicas, deixamos de ser cidadãos", acrescenta.
O "Canal do Luxa" tem 96 mil inscritos. A página do treinador no Instagram possui um pouco mais que o dobro, com 200 mil seguidores, só atrás do perfil dele no Twitter, que soma 511 mil. Para esse público, o treinador fala sobre futebol, política e, menos frequentemente, sua vida pessoal.
No vídeo em que fala sobre a relação do presidente com sua atual equipe, Luxemburgo afirma que futebol e política se misturam. "Quando a seleção ganha uma competição, tem de ir lá cumprimentar o presidente e ser recebido por ele. Não vejo problema nenhum nisso. São coisas pequenas, insignificantes dentro do contexto geral do Brasil."
Ele afirmou, ainda, que, caso fosse contratado pelo Palmeiras e encontrasse com Bolsonaro no estádio, poderia cumprimentá-lo "independentemente de ideologias diferentes".
Um ano depois de sua declaração, o técnico acertou o retorno ao time alviverde, em dezembro de 2019. No dia do anúncio da contratação, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, publicou uma postagem no Twitter em que celebrava a chegada do treinador.
"Castigo para quem imagina que o Palmeiras tem lado que não seja a alegria de sua torcida! E não sou palmeirense! Viva Rosa Luxemburgo, viva a Esquerda e a luta do povo, viva Lula!", escreveu Gleisi.
A dirigente petista publicou um vídeo de uma entrevista do técnico do Palmeiras. Nela, Luxemburgo disse ser "de esquerda, porque a democracia tem de prevalecer", e que "Sergio Moro vem sendo visto como o grande mocinho do Brasil", mas "jogou a Constituição no lixo, mandou prender e matar e passou por cima de todo mundo".
O treinador é filiado ao PT e amigo de Lula. Esteve na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, no dia 7 de abril, quando o ex-presidente foi preso.
Em 2008, um dos filhos de Lula, Luis Claúdio, trabalhou com a equipe da preparação física do Palmeiras, quando Luxemburgo era treinador.
Em 2020, o treinador terá a sua quinta passagem no clube, pelo qual ele foi bicampeão brasileiro (1993 e 1994), ganhou quatro vezes o Paulista (1993, 1994, 1996 e 2008) e conquistou o Rio-São Paulo de 1993.
Ele não era a primeira opção para o lugar de Mano Menezes, demitido em 1º de dezembro. O argentino Jorge Sampaoli, 59, ex-treinador do Santos, era o nome preferido da diretoria alviverde, mas as partes não chegaram a um acordo financeiro.
Ao tentar a contratação do estrangeiro, o Palmeiras argumentava que buscava um nome capaz de fazer o time ser competitivo ao mesmo tempo em que apresentasse um futebol mais ofensivo, como o português Jorge Jesus, 65, conseguiu com o Flamengo, campeão brasileiro e da Libertadores, além de vice-campeão mundial nesta temporada.
Luxemburgo diz não se incomodar com o sucesso de treinadores vindos do exterior. O que lhe deixa irritado são as críticas aos profissionais do país. "Depois da Copa e do 7 a 1, o treinador brasileiro passou a não prestar", afirma.
Ele próprio já teve a experiência de ser um técnico estrangeiro, quando treinou o Real Madrid, da Espanha, em 2005. Ele conta que foi bem recebido. "No Brasil execraram muito o treinador brasileiro e exaltam o estrangeiro. Lá, não. Na Espanha é normal o estrangeiro ter cobrança."
Ao ser questionado sobre a possibilidade de um técnico estrangeiro assumir um dia a seleção brasileira, Luxemburgo, porém, mantém a linha de valorizar os compatriotas.
"A CBF que tem de ver se vale a pena ou não [contratar um treinador do exterior]. Não podemos esquecer que nós fomos pentacampeões do mundo com treinadores brasileiros", destacou.