© REUTERS / Andres Martinez Casares
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - O deputado opositor Juan Pablo Guanipa, 55, eleito no domingo (5) vice-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, disse que o "plano da ditadura de tomar o poder legislativo é parte de um acordo com a Rússia".
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A escolha do novo comando da Casa está no centro de uma crise porque o regime de Nicolás Maduro e a oposição realizaram eleições separadas e elegeram duas pessoas diferentes para comandar os trabalhos em 2020.
"A Rússia pediu que a Assembleia Nacional opositora deixasse de existir para continuar dando apoio ao regime." Segundo Guanipa, a informação é de fontes chavistas que se juntaram a Guaidó nos últimos meses.
Guanipa, que é do estado Zulia, um dos mais afetados pelo desabastecimento de água e luz que atinge o país, disse, em entrevista à reportagem, que Guaidó já tinha um plano B para o domingo. "Sabíamos que iam fazer algo assim."
Segundo ele, durante a semana passada, houve prisões, tentativas de suborno e pressões para que os deputados oposicionistas mudassem o voto. "Conseguiram alguns. Mas não todos os que eles queriam."
O deputado diz que a estratégia era impedir a entrada deles no Palácio para votar. "Mas a Assembleia não é o Palácio, somos nós."
Tanto o grupo de Guaidó e Guanipa quanto o de Luis Eduardo Parra, um dissidente do Primero Justicia (partido da base de apoio de Guaidó) escolhido pelo chavismo para ser o novo presidente da Assembleia Nacional, afirmam que vão realizar sessão normalmente nesta terça-feira (7).
Guanipa diz que eles estão conscientes de que é possível que não possam entrar novamente na Casa. "Se isso acontecer, não queremos violência e iremos novamente para outro lugar. A violência tem sido unilateral aqui, só nós estamos sendo agredidos."
Segundo o deputado, Parra estava expulso de seu partido quando foi eleito pelos apoiadores de Maduro. "O Primero Justicia não é o que ele representa, não se vende como ele se vendeu, não é corrupto como ele se transformou."
Ele afirma que a sessão de domingo, que escolheu Parra, não é legalmente válida porque "não houve quórum nem contagem nominal dos votos". "Estamos muito felizes com o apoio internacional que vem chegando de vários países, condenando a atuação desses legisladores."
Em Caracas, Guaidó sustentou que o que ocorreu na eleição de domingo foi um "golpe de Estado" e que o juramento de Parra foi um "ato marcado pela ilegalidade".
"Militarizaram o Congresso, foi um assalto cruel e assassino em cumplicidade com os órgãos repressivos", disse ele sobre a ação da Guarda Nacional Bolivariana, que cercou o Palácio Legislativo e impediu o ingresso de deputados de oposição.
Guaidó acrescentou que esse processo já vinha ocorrendo havia semanas, com a perseguição de deputados, ameaças e prisões (como a recente do parlamentar Gilber Caro e a de Juan Requesens, que já tem mais de 500 dias).
Ele denunciou, ainda, que várias congressistas foram agredidas enquanto tentavam ajudá-lo a entrar no prédio, entre elas Delsa Solorzano, Elimar Díaz, Olivia Lozano e Nora Bracho. Díaz teve uma fratura no ombro esquerdo.
A Argentina, que desde a eleição de Alberto Fernández vinha tomando distância de Guaidó, repudiou o ataque. "O governo argentino lamenta profundamente os episódios ocorridos na Venezuela. São inadmissíveis para a convivência democrática os ataques a deputados, jornalistas e membros do corpo diplomático que queriam entrar no local", disse o chanceler Felipe Solá.
Também se manifestaram contra os Estados Unidos, o Reino Unido, o presidente eleito do Uruguai, Luis Lacalle Pou, o Equador e os países que compõem o Grupo de Lima, incluindo o Brasil.