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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os Estados Unidos e a China assinaram nesta quarta-feira (15) a primeira fase de um acordo que pode pôr fim à guerra comercial. O pacto já havia sido anunciado pelos países em dezembro do ano passado.
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A resolução engloba mudanças nas áreas de propriedade intelectual, transferência tecnológica, agricultura, serviços financeiros, moeda estrangeira e câmbio.
O presidente Donald Trump afirmou, durante a cerimônia na Casa Branca, com o vice-premiê chinês, Liu He, que por décadas, os trabalhadores, produtores agrícolas e fabricantes americanos foram prejudicados pelo comércio desleal da China.
"Nunca tivemos um acordo com eles. Eles faziam o que queriam. Com essa assinatura, teremos não apenas um acordo justo, nós temos uma grande mudança no comércio internacional."
Para o vice-presidente, Mike Pence, o acordo significa muito para fazendeiros e produtores agrícolas do país devido às importações de US$ 40 bilhões (R$ 167 bilhões) a US$ 50 bilhões (R$ 208,85 bilhões).
Trump afirmou que durante as negociações sua equipe sugeriu que o acordo de importação de produtos agrícolas americanos ficasse em US$ 20 bilhões, porque os fazendeiros do país não dariam conta dessa demanda. O presidente dos EUA, porém, elevou para US$ 50 bilhões.
"Eles me disseram 'nossos produtores não conseguem produzir isso tudo'. Eu disse 'eu amo nossos produtores, deixem eles me dizer que não podem produzir tudo isso. Digam para eles comprar tratores maiores e terras que eles vão conseguir'. Eu não tenho dúvidas que eles vão conseguir."
Segundo o vice-premiê da China, serão comprados US$ 40 bilhões de produtos agrícolas por ano dos Estados Unidos e que serão maiores apenas se houver demanda.
No documento divulgado pelo governo americano sobre o acordo, está prevista a importação adicional de produtos agrícolas americanos aos chineses em US$ 12,5 bilhões no primeiro ano da resolução e de US$ 19,5 bilhões no segundo ano. Essas compras anuais deverão ser acrescidas a base de importação de 2017, que fechou em US$ 24 bilhões.
Projeções da Bloomberg apontam que a compra de US$ 40 a US$ 50 bilhões de importações chinesas aumentaria o PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA em 0,2 a 0,3 pontos percentuais.
O PIB dos EUA cresceu 2,9% em 2018 e, segundo projeção do FMI (Fundo Monetário Internacional), a economia americana deve ter crescido 2,4% em 2019.
Informações divulgadas pelo próprio presidente americano à época, o acordo manterá as tarifas de 25% já aplicadas sobre US$ 250 bilhões em itens chineses, mas o restante das importações (algo em torno de US$ 125 bilhões) que chegam de Pequim deverão ter alíquota de 7,5% - valor que representa metade dos 15% que estavam sendo cobrados desde setembro sobre bens de consumo.
Na cerimônia, Trump confirmou a redução de parte das tarifas, mas disse que elas serão retiradas totalmente ao fim da fase 2 do acordo, que deve ser a última. "Vou deixá-las em vigor porque de outra forma não teremos cartas para negociar", disse.
Documento divulgado pela Representação de Comércio dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) aponta que os chineses terão que se comprometer a tomar uma série de medidas, como não pressionar mais empresas americanas a fornecer suas tecnologias, como moeda de troca para ter acesso ao mercado do país asiático.
No documento também está previsto que a China deverá acabar com barreiras a serviços financeiros, que abrangem tanto limitações a capital estrangeiro dentro do país asiático quanto serviços bancários, de seguros, de valores mobiliários e de classificação de crédito.
O acordo prevê também que os chineses se comprometam a importar um adicional de US$ 200 bilhões em bens e serviços dos EUA nos próximos dois anos. A base desse adicional é o fluxo de exportação dos americanos aos chineses em 2017, antes de guerra comercial.
Apesar da assinatura da primeira etapa do acordo, as tarifas dos Estados Unidos sobre importações chinesas permanecerão em vigor enquanto o governo de Donald Trump observa como se desenrola o cumprimento de compromissos sob essa fase da resolução com Pequim, disse o assessor econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, nesta quarta-feira.
Kudlow afirmou, em entrevista à CNBC antes da assinatura do acordo comercial da Casa Branca, que os Estados Unidos tomariam ações proporcionais adicionais se a execução das reivindicações falhar sob a fase 1 do pacto.
À mesma rede de TV, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, afirmou nesta quarta que algumas questões de tecnologia e cibersegurança serão resolvidas no próximo capítulo do acordo.
"Acho que uma quantidade bastante significativa de questões de tecnologia está na fase 1. Há outras áreas de serviços, à parte de serviços financeiros, que estarão na fase 2. Há certas questões adicionais de cibersegurança que estarão na fase 2", disse Mnuchin.
Segundo o jornal britânico Financial Times, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos deverá suspender a designação da China como manipulador de moeda. A medida reverte uma decisão controversa do governo Trump, tomada em agosto do ano passado, de rotular a China com o título de manipulador de moeda.
Trump celebrou o recorde da Dow Jones de 29 mil pontos alcançado nesta quarta, com a expectativa de investidores em torno do acordo. Por volta das 14h, o índice sobe 0,5%, a 29.085 pontos. S&P 500 e Nasdaq também operam em máximas históricas, com valorização de 0,45% e 0,4%, respectivamente.
O mercado financeiro brasileiro opera na direção oposta, com dados das vendas no varejo abaixo da expectativa do mercado. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), elas subiram 0,6% em novembro na comparação com o mês de outubro. Economistas ouvidos pela agência Bloomberg projetavam crescimento de 1,1%.
Ibovespa recua 0,85%, a 116.625 pontos. O dólar comercial sobe 1%, a R$ 4,173, maior valor desde 5 de dezembro.
DISPUTA ENTRE AS POTÊNCIAS
A guerra comercial entre os países se iniciou em 2018. Mirando um suposto roubo de propriedade intelectual americana, o governo Trump adotou medidas contra os chineses que incluíam, além de tarifas, redução de vistos a pesquisadores e restrições a investimentos do país asiático nos EUA.
No começo da briga, ainda em março de 2018, a ação mais significativa contra o poderio econômico da China foi a imposição de tarifas sobre US$ 60 bilhões em produtos chineses. O montante correspondia a cerca de 10% das exportações chinesas para os EUA.
O republicano adotou tal medida, em especial, devido ao déficit comercial dos EUA com os chineses, que foi de US$ 375 bilhões em 2017. O presidente dos EUA associava a balança desfavorável à perda de empregos e competitividade dos americanos, em especial no ramo da tecnologia.
Os EUA afirmavam que o governo chinês teria dificultado a presença de empresas americanas no país, por meio de exigências mais restritivas à tecnologia americana - o que também restringiu seu acesso a uma boa parte do mercado global.
À época da taxação dos US$ 60 bilhões, Trump já antecipava o que viria pela frente: "é o primeiro de muitos", afirmou, ao assinar o ato.
De fato, a escalada evoluiu, e as sobretaxas que os EUA impuseram sobre à potência asiática chegou a atingir cerca de US$ 360 bilhões em produtos chineses (que a China, por sua vez, retaliou com tarifas sobre US$ 100 bilhões em produtos americanos).
Um acordo entre os países foi ensaiado mais de uma vez, com direito até a uma trégua no aumento tarifário. Um alinhamento, no entanto, ocorreu só em dezembro do ano passado quando foi anunciado pelos países a primeira etapa de um pacto.