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BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Um dia depois de o Supremo Tribunal Eleitoral da Bolívia impugnar sua candidatura ao Senado, Evo Morales convocou a imprensa nesta sexta-feira (21) para reagir à decisão.
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Em Buenos Aires, onde vive na condição de refugiado, o ex-presidente afirmou que "não há garantia de uma eleição limpa e transparente" e que a Bolívia "vive uma ditadura que responde ao poder dos EUA".
Evo renunciou em novembro, pressionado pelas Forças Armadas e por manifestações, após um pleito marcado por denúncias de fraude e que indicavam a conquista de um quarto mandato pelo líder indígena.
Na entrevista coletiva desta sexta, ele argumentou que suas atitudes após deixar a Presidência "foram para o bem da Bolívia", mesmo que, segundo ele, tenha vencido a eleição.
"Ainda assim eu concordei em realizar outra, por conta dessa avaliação fraudulenta da OEA [Organização dos Estados Americanos] de que havia irregularidades na contagem dos votos."
Também "pelo bem da Bolívia", Evo diz que não aceitou se candidatar à Presidência nas eleições do próximo dia 3 de maio. A lei que convocou novas eleições, porém, com base em um artigo da Constituição boliviana, proíbe a reeleição após dois mandatos para o mesmo cargo.
A proibição para a disputa ao Senado seria uma ilegalidade, defende o ex-presidente. "Eles [o atual governo boliviano] têm medo de mim e medo da democracia. Não querem nem que eu retorne ao país."
Sem apresentar evidências, ele afirmou que está convencido de que os EUA estão por trás das decisões da presidente interina, Jeanine Añez, e do tribunal eleitoral. "Os EUA não me deixam nem chegar perto da fronteira. Tentei realizar um ato lá, na fronteira entre a Bolívia e a Argentina, e não deixaram."
Na quinta (19), a procuradoria boliviana abriu um processo criminal contra o ex-presidente e alguns de seus colaboradores mais próximos por fraude.
Carlos Mesa, que disputou as eleições contra Evo, pediu na semana passada que a procuradoria ampliasse as investigações sobre suspeitas de crimes eleitorais cometidos por Evo, seu ex-vice-presidente, Álvaro García Linera, e os ex-ministros Juan Ramón Quintana, Héctor Arce e Carlos Romero.
Os crimes denunciados por ele são uso de documento falsificado e alteração e obstrução dos processos eleitorais, além de ocultação de resultados. A Justiça também investiga Evo por sedição e terrorismo.
"Eu não fraudei nada, eles é que roubaram essa eleição", disse Evo em Buenos Aires. "Eu ganhei. E não há nenhuma garantia de que não vão roubar novamente no próximo dia 3 de maio."
Durante a entrevista coletiva estava presente também o ex-juiz do Supremo Tribunal Federal Argentino, Raúl Zaffaroni, responsável pela defesa do líder indígena.
Para impugnar a candidatura de Evo, o Supremo Tribunal Eleitoral alega que o ex-presidente não comprovou que reside de forma permanente no distrito do território boliviano que pretendia representar no Senado.
Zaffaroni afirmou que "Evo Morales não está fora da Bolívia por vontade própria". "Se ele ficasse na Bolívia, seria morto."
Ao final, Evo, sem dar detalhes, levantou a possibilidade de contar com militares para reagir à decisão do tribunal. "Se não posso me candidatar, saibam que na Bolívia tenho contato com militares patriotas."