© Adriano Machado/Reuters
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, disse nesta quinta-feira (5) que a reeleição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, garantirá a continuidade de uma relação considerada promissora pelo governo Jair Bolsonaro e sinalizou um cenário de dúvida caso a vitória seja de um candidato democrata.
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"Estamos trabalhando com o governo do presidente Trump, com quem temos aberto tantas novas oportunidades. Vamos ver qual o resultado da eleição. Evidentemente, se o presidente Trump for reeleito, continuaremos certamente nesta linha que tem sido muito promissora. Em outro caso, veremos", afirmou Ernesto ao sair de uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
Bolsonaro viaja a Miami neste fim de semana, mas Ernesto não deu qualquer expectativa de encontro entre o presidente do Brasil e Trump.
O chanceler brasileiro disse que o governo acompanha com interesse e curiosidade a disputa americana. "Mas não vamos nos posicionar, de forma nenhuma, em relação aos candidatos democratas", afirmou.
Após o resultado da Super Terça, mais importante dia das primárias democratas, a corrida para ser o opositor de Donald Trump, em novembro, foi afunilada e agora está entre dois nomes: o ex-vice presidente Joseph Biden e o senador Bernie Sanders.
Ernesto foi ao Senado para falar sobre a posição brasileira acerca do plano de paz apresentado por Trump, em janeiro, para o conflito entre Israel e Palestina. Trump chamou seu plano de paz para o Oriente Médio de "acordo do século", após três anos de gestação e muitos adiamentos.
O plano do presidente dos EUA reflete a postura pró-Israel de seu governo e faz importantes concessões ao país, como o reconhecimento da soberania israelense sobre seus assentamentos na Cisjordânia e no vale do rio Jordão.
"O plano chamado 'Paz para a Prosperidade', apresentado pelo presidente norte-americano, Donald Trump, em janeiro passado, é o resultado de três anos de preparação com vistas a propor uma iniciativa inovadora para quebrar a inércia das negociações entre israelenses e palestinos, congeladas há bem mais de uma década", afirmou durante a audiência.
O chanceler brasileiro negou aos senadores que haja uma alinhamento automático a Israel, apesar da relação que o presidente Jair Bolsonaro estabelece com o país desde o início de seu governo.
"É claro que não queremos estar além do que fomos chamados pelas partes, mas estamos dispostos a estar presentes. Acho que hoje Israel nos veria como um parceiro que pode estar presente, assim como, espero, a Palestina também, o lado palestino. Então, não vejo como um alinhamento", disse Ernesto.
O ministro das Relações Exteriores também foi questionado sobre outros assuntos, como a imagem negativa do Brasil no exterior em questões como a ambiental e a dos direitos humanos.
Para ele, "parte dessa imagem é uma campanha orquestrada a partir do Brasil, a partir de setores que perderam a última eleição, que estão fora do poder, que não se conformam com isso, querem denegrir a imagem do nosso governo e organizam, com essa caixa de ressonância europeia, uma campanha contra o seu próprio país".
O ministro disse que o governo enfrenta "uma campanha que tem, inclusive, uma ligação aqui com o Brasil, tem filmes, documentários totalmente falsos sendo levados para fora".
Ele disse ver como um problema a força da imprensa profissional na Europa em detrimento das redes sociais. "Há um problema também que é o fato de que, na maioria dos países europeus, ainda a imprensa tradicional tem um espaço muito grande, e os novos meios, as redes não têm. No Brasil, a gente sabe que as redes são hoje talvez a principal fonte de informação correta e verídica", afirmou.
"A imprensa hoje é uma máquina, em grande parte, de criar factoides e de criar manchetes que não correspondem a matérias e matérias que não correspondem à realidade. Na Europa, as pessoas não estão muito acostumadas com isso, estão acostumadas a ler o jornal e achar que aquilo é verdade. Então, também é complicado de atuar", disse o ministro, que pertence à área de influência do escritor Olavo de Carvalho no governo.
Aos jornalistas o ministro disse que setores no Brasil apelam à imprensa estrangeira "procurando uma caixa de ressonância para falar mal do Brasil para dizer que existem problemas totalmente inexistentes [de] meio ambiente ou de direitos humanos".
Ele também afirmou que, às vezes, "os governos de países europeus são influenciados pelas suas mídias a ter uma imagem equivocada do Brasil".
"Vemos que, realmente, infelizmente, existem coisas que são totalmente distorcidas aqui no Brasil e que são levadas para fora", declarou o chanceler, que minimizou, por exemplo, o aumento das queimadas na Amazônia, afirmando que é preciso "colocar numa perspectiva".