Ministros pedem a Bolsonaro um alinhamento de discurso

Os ministros avaliaram com o presidente que não é hora de um novo pronunciamento e receberam a sinalização de que Bolsonaro não voltaria a falar em cadeia nacional

© Reuters

Política Reunião 29/03/20 POR Folhapress

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em reunião no Palácio da Alvorada na manhã deste sábado (28), ministros pediram ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) um alinhamento de discurso sobre as ações governamentais contra o novo coronavírus.

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Os ministros avaliaram com o presidente que não é hora de um novo pronunciamento e receberam a sinalização de que Bolsonaro não voltaria a falar em cadeia nacional de rádio e TV neste fim de semana, como estava sendo programado.

A avaliação feita por aliados ao presidente é que o pronunciamento da última terça-feira (24), apesar de ter conseguido mobilizar sua rede de apoiadores, elevou a fervura do campo oposicionista.

A fala, em que o presidente chamou o novo coronavírus de "gripezinha" e "resfriadinho", intensificou os panelaços pelo país e inflou um debate sobre impeachment.O texto foi construído pelo presidente com a ajuda do gabinete do ódio, que cuida de suas redes sociais, e dos filhos dele, em especial do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).

O presidente recebeu o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres e 8 de seus 22 ministros: Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Sergio Moro (Justiça), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Walter Braga Netto (Casa Civil), Fernando Azevedo (Defesa) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional).

Durante a reunião, que teve duração de cerca de duas horas, ministros e presidente chegaram a um acordo sobre o tom a ser adotado pelo governo no combate à Covid-19.

Os ministros avaliaram com o presidente que é preciso maneirar no discurso por haver um distanciamento entre o que Bolsonaro e seus filhos dizem nas redes sociais e as ações propostas por sua gestão, como fechamento total das fronteiras aéreas do país para estrangeiros, isolamento social e medidas de auxílio econômico para minimizar os danos da crise.

O radicalismo foi adotado pelo presidente para inflar a militância bolsonarista. Integrantes do gabinete digital da presidência haviam detectado um enfraquecimento do discurso pró-governo nas redes sociais, onde Bolsonaro tem forte apoio.

Além do pronunciamento, o governo fez circular nas redes sociais um vídeo com o slogan "O Brasil não pode parar", que sustenta o discurso de Bolsonaro de que uma paralisação total do país para o combate à doença terá prejuízos fortes à economia.

Embora a peça publicitária não tenha sido publicada em contas oficiais do governo, ela foi espalhada na rede bolsonarista e divulgada pelo senador Flávio em suas redes.Com a repercussão negativa, a Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social), que até então não respondia as demandas da imprensa sobre se tratava-se de um vídeo oficial, divulgou nota dizendo que o vídeo era um experimento.

A ação teve o resultado esperado por Bolsonaro: reascendeu a militância das redes, levou carreatas de apoio à reabertura dos comércios a algumas cidades brasileiras e diminuiu o tom dos panelaços contra o presidente.

Os ministros também fizeram um balanço de suas ações e apoiaram as medidas adotadas por Mandetta na crise.O ministro da Saúde tem sido alvo de ataques internos da ala mais ideológica do governo, que se alinhou ao discurso de Bolsonaro contra o confinamento.

Técnicos da área ouvidos pela reportagem relataram desconforto na pasta com a tentativa recente de interferência em decisões e com declarações do presidente que minimizam o impacto do novo coronavírus, sobretudo a ocorrência de mortes - ao todo, 92 pessoas já morreram pela doença, de acordo com dados divulgados na sexta-feira (27).

Em entrevista ao Programa Brasil Urgente, Bolsonaro chegou a lançar suspeita sobre os dados oficiais de mortes por coronavírus em São Paulo, mas não mostrou evidências.A preocupação foi levada ao presidente e chegou-se a um meio termo entre a defesa das ações que serão mantidas e as falas direcionadas às redes.

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