©  Reuters
Temendo o avanço do novo coronavírus, índios de Roraima estão interrompendo o acesso de veículos e de não-índios a seus territórios. Segundo o Conselho Indígena de Roraima (CIR), ao menos 25 comunidades já bloquearam o tráfego e proibiram a aproximação de pessoas de fora. Como parte das vias interditadas leva a outros agrupamentos, o número de aldeias tentando se isolar pode ser maior que o contabilizado pela entidade, que afirma atuar em 241 comunidades indígenas de Roraima.
PUB
Até esta manhã, o estado contabilizava 16 casos confirmados da doença, uma suspeita e 62 notificações já descartadas. Dos pacientes cujos testes deram positivo, 13 foram notificados na capital, Boa Vista, e três na cidade de Bonfim. Um destes pacientes segue isolado no Hospital Geral de Roraima Rubens de Souza Bento. Servidores públicos ouvidos pela Agência Brasil confirmaram a iniciativa indígena, mas garantiram que os bloqueios estão montados próximos às comunidades, em vias vicinais, e que não há, até o momento, registro de barreiras em rodovias estaduais ou federais.
Uma das comunidades que restringiu a circulação de pessoas é Morcego, localizada na Terra Indígena Serra da Moça, na zona rural de Boa Vista. Em nota, líderes da comunidade informaram que a interdição dos acessos é por tempo indeterminado e visa a preservar a saúde dos habitantes da área. “Durante este período turbulento, a estrada que dá acesso à vila passará a ficar fechada, sem possibilidade de ser aberta para ninguém”, informam os líderes da Morcego. Além de vetar a entrada de pessoas que não pertençam ao grupo, os índios decidiram restringir a movimentação dos próprios moradores da área, proibindo-os de deixar a comunidade, salvo em casos de emergência e notificando previamente às lideranças de cada grupo.
O coordenador-geral do CIR, Enock Taurepang, disse à Agência Brasil que bloqueios já foram montados em comunidades de várias regiões do estado, inclusive na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, que abrange parte do território das cidades de Pacaraima, Normandia e Uiramutã e onde vivem cerca de 26 mil índios das etnias Wapichana, Patamona, Makuxi, Taurepang e Ingarikó. “Barreiras já foram erguidas na entrada de algumas terras indígenas, no acesso às comunidades. Isso porque pessoas das cidades, principalmente de Boa Vista, estavam indo para a zona rural como que para passar férias. Muitas vezes, eram pessoas sem qualquer tipo de informação, que não receberam as orientações devidas, o que nos deixou muito preocupados. ”.
Ainda segundo Enock, cada comunidade está definindo sua própria estratégia para controlar o fluxo de pessoas e, assim, tentar impedir a doença de chegar às áreas indígenas. A medida, segundo os índios, segue as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e dos técnicos do Ministério da Saúde, que recomendam o isolamento horizontal - ou seja, para o máximo de pessoas possível, independentemente da idade ou condição de saúde - como melhor forma de conter a disseminação do vírus.
A Associação Comunidade Waimiri Atroari, por exemplo, decidiu suspender por 15 dias o controle de tráfego de veículos que realiza durante as noites, com autorização judicial, na BR-174. Em nota divulgada no último dia 25, a entidade explicou que a abertura das correntes leva em conta “a situação de pandemia de covid-19 e a necessidade excepcional de necessária colaboração, razoabilidade e proporcionalidade nas ações de exercícios dos direitos garantidos à população indígena”. Ainda assim, “considerando a necessidade de adoção de medidas excepcionais de segurança da saúde”, “continua vedado o acesso de pessoas não autorizadas às aldeias e postos de fiscalização e apoio localizados na Terra Indígena Waimiri Atroari, sendo permitido somente o tráfego de veículos pela BR-174”.
De acordo com coordenador do CIR, por precaução, organizações indígenas e seus apoiadores iniciaram uma campanha para arrecadar alimentos e itens de higiene. O material será distribuído aos índios do estado, principalmente aos que vivem em áreas de difícil acesso. “No estado inteiro, comunidades indígenas já começam a ser afetadas por toda esta situação, pois estão suspendendo seus trabalhos comunitários e regionais”, afirmou Enock. “Temos como nos manter dentro destas comunidades por algum tempo, mas como não há como prever até quando tudo isto vai durar e por quanto tempo será possível permanecermos assim, isolados. Estamos preocupados”, acrescentou o coordenador.
Para doar qualquer quantia para os índios de Roraima, os interessados podem depositar ou transferir o valor para a conta do CIR (Agência 2617-4 conta: 8198-1 - Banco do Brasil). A entidade garante que todo o dinheiro arrecadado será usado para a compra de material higiênico e alimentos.
Com informações da Agência Brasil