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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em oposição ao discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), os ministros Paulo Guedes (Economia) e Sergio Moro (Justiça) reforçaram nesta terça-feira (31) a importância do isolamento social como forma de conter a disseminação do coronavírus.
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O posicionamento dos dois foi evidenciado no novo modelo de entrevistas adotado pelo governo para a divulgação de informações relativas à Covid-19. Para ofuscar o ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Bolsonaro transferiu as conferências de imprensa do Ministério da Saúde para o Palácio do Planalto, com a participação de outros ministros.
Quando os ministros foram questionados sobre o que pensavam do isolamento social, o chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto, se antecipou e respondeu por todos. "Os ministros concordam com posição do Mandetta."
Ainda na entrevista, o ministro Paulo Guedes disse estar seguindo as orientações do Ministério da Saúde."Nós fomos atingidos por essa onda. Essa onda é da maior gravidade, daí o nosso estado de calamidade pública. Nós estamos sob orientação do ministro Mandetta, então, estamos em isolamento oficialmente. Porém, é perfeitamente válido que o presidente dê um alerta", disse Guedes.
O ministro da Economia também disse que a prioridade é a saúde das pessoas e afirmou mais de uma vez que "nenhum brasileiro será deixado para trás" e que está trabalhando " muito próximo ao ministro Mandetta".
"O Mandetta está administrando esta primeira onda. São duas ondas. O presidente tem chamado a atenção também para o perigo da segunda onda [do desemprego]. Esta primeira onda é uma onda de saúde, já invadiu o Brasil. O Mandetta está com um plano de combate bastante bem definido", afirmou Guedes.
Já Sergio Moro defendeu que o isolamento social é justamente um dos fatores que têm evitado que o coronavírus chegue aos presídios brasileiros até agora. "Há um ambiente de relativa segurança para o sistema prisional em relação ao coronavírus, pela própria condição dos presos de estarem isolados da sociedade", afirmou Moro, acrescentando que a situação não é "muito diferente das restrições a que os cidadãos brasileiros estão sendo submetidos".
Conforme o jornal Folha de S.Paulo revelou nesta terça, nos bastidores, os dois ministros já vinham defendendo a manutenção das medidas de distanciamento social e isolamento da população no combate à pandemia, num movimento antagônico ao de Bolsonaro, que vem reiteradamente defendendo o fim da quarentena para minimizar os efeitos econômicos do fechamento do comércio.
Com isso, o isolamento político do chefe da República aumenta diante do apoio que Mandetta já tem da cúpula do Legislativo e do Judiciário. O ministro da Saúde voltou a frisar a necessidade de manter o "máximo de distanciamento social".
"Vamos fazer o máximo de distanciamento social, máximo de distanciamento dentro das nossas residências, de home working. Se acharmos que está alta, diminui um pouco. Se achar que está tranquilo, volta a andar", disse Mandetta.
A relação entre o ministro e Bolsonaro vem numa escalada de tensão e subiu mais um nível no domingo (29), quando o presidente resolveu dar um passeio pela periferia do Distrito Federal, contrariando todas as orientações do Ministério da Saúde.
Na noite desta terça, na porta do Palácio da Alvorada, onde parou para cumprimentar eleitores, Bolsonaro indicou que Mandetta deve ser mantido no cargo. "Comigo ninguém vai viver sob tensão. Está bem o Mandetta", respondeu o presidente ao ser perguntado sobre a manutenção do ministro no cargo.
A resposta de Bolsonaro faz referencia a uma declaração de Mandetta, feita na segunda-feira (30). Ele disse que as "tensões" são normais no governo diante do tamanho da atual crise de saúde. Nos últimos dias, Moro mostrou a pessoas próximas sua insatisfação com as recentes atitudes do presidente, como o tour feito no fim de semana.
Aliados vinham relatando que Moro se disse indignado com a decisão de Bolsonaro de romper o acordo feito, no sábado (28), com ele e com outros ministros no sentido de buscar um discurso afinado sobre a pandemia.
Nas redes sociais, Moro disse estar em "autoisolamento" no último fim de semana.
Já Guedes disse publicamente, em duas ocasiões, que não vê motivos para que o país coloque fim ao isolamento, sempre sinalizando em aceno a Mandetta.
Em conversas com prefeitos e investidores, o chefe da economia disse que, como pessoa, preferia ficar em casa. A declaração dele enfraquece a tese defendida por Bolsonaro de que é necessário retomar o funcionamento do país para que a crise econômica não se torne mais aguda.
Diante do isolamento cada vez mais evidente, Bolsonaro tem se apoiado nos filhos, na ala mais ideológica e no diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, além do ex-ministro Osmar Terra, que é médico e foi demitido do Ministério da Cidadania em fevereiro deste ano.