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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Defensor da flexibilização do isolamento social, o ex-ministro e deputado Osmar Terra (MDB-RS) ofereceu ajuda ao ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, para trocar o titular da Saúde, Henrique Mandetta, de quem diverge sobre as medidas de combate ao novo coronavírus.
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"Eu ajudo, Onyx. E não precisa ser eu o ministro, tem mais gente que pode ser", afirmou Terra em conversa ouvida e divulgada pela CNN Brasil nesta quinta-feira (9).
O vazamento ocorre em um momento de desgaste de Mandetta com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Eles divergem sobre o protocolo de isolamento para evitar aumento da dispersão do vírus e sobre o uso de medicamentos no tratamento da Covid-19.
O novo impasse fez com que uma entrevista coletiva marcada para a tarde desta quinta-feira fosse cancelada. Houve um entendimento de que a divulgação da conversa entre Onyx e Terra poderia dominar a entrevista, ofuscando os anúncios que seriam feitos pelos ministros.
Além de Mandetta, estava prevista a participação dos ministros Walter Braga Netto (Casa Civil), Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) e Bento Albuquerque (Minas e Energia).
À Folha de S.Paulo o ministro da Saúde evitou comentar a conversa.
"Eu só trabalho, trabalho, trabalho", afirmou, dizendo não ter visto a notícia sobre a conversa e perguntando do que se tratava.
Em seguida, ao ser informado de que o diálogo era de críticas a ele, apenas disse: "Deixa eles".
Embora tenha sido um dos responsáveis pela indicação de Mandetta para o governo, já que ambos são do DEM, Onyx disse nesta quinta que "cortaria a cabeça" do ministro se estivesse na cadeira presencial.
No diálogo, o titular da Cidadania faz uma menção à reunião ministerial ocorrida na segunda (6), quando a demissão de Mandetta foi cogitada pelo presidente.
"Se eu estivesse na cadeira [do Bolsonaro]... O que aconteceu na reunião eu não teria segurado, eu teria cortado a cabeça dele", diz um trecho da conversa publicada pela emissora.
No diálogo, Terra, que está de olho na cadeira de Mandetta, defende mudança da política de distanciamento social defendida pelo ministro da Saúde.
Em outro trecho da conversa, Terra diz que Mandetta deveria se adequar ao discurso de Bolsonaro. Em seguida, afirma que, em caso de troca, não precisa ser ele o ministro.
Após o cancelamento da coletiva, o presidente recebeu o ministro da Saúde em seu gabinete. O compromisso não estava previsto inicialmente e foi acrescentado na agenda no início da noite. O assunto do encontro não foi divulgado.
Logo depois, Bolsonaro mencionou brevemente o vazamento do diálogo no início de sua live semanal pelas redes sociais, afirmando que não comentaria o caso.
"Quem está esperando eu falar do Mandetta, Osmar Terra e Onyx pode passar para outra live. Não vai ter este assunto hoje aqui", disse.
Procurada, a assessoria de Terra informou que o deputado não comentaria por tratar-se de uma conversa privada.
Na tarde desta quinta-feira, em meio à crise ministerial, o presidente foi a uma padaria em Brasília. Acompanhado de Tarcísio e de um de seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o presidente comeu um sonho e cumprimentou clientes do local.
O entendimento de auxiliares de Bolsonaro é de que o vazamento foi arquitetado por Terra para manter a fritura de Mandetta. Eles dizem acreditar, porém, que Onyx não sabia que a conversa estava sendo acompanhada por um jornalista.
Apesar da insistência da ala ideológica em manter a tensão, as áreas militar e técnica afirmam que a situação se acalmou e o incêndio hoje está resumido a brasas.
Técnicos do Ministério da Saúde comentaram, em tom de brincadeira, que, quando o sol parecia aparecer, outra nuvem carregada se aproximou. Um ministro reagiu dizendo que era possível soprar esta nuvem para longe.
O vazamento do áudio gerou revolta na bancada de deputados do DEM, que se mobilizaram nos últimos dias para defender a permanência de Mandetta no cargo.
Na avaliação de parlamentares, o ato de Onyx foi uma traição. Houve entre os deputados quem defendesse que o partido adotasse algum tipo de sanção contra o ministro da Cidadania.
O líder da bancada do partido na Câmara, Efraim Filho (PB), disse que o episódio gera um "ruído péssimo", mas, numa sinalização contra eventuais punições, disse que os deputados do DEM vão "olhar para frente".
"É um episódio que impacta na bancada, gera um ruído péssimo, já que todos tínhamos nos mobilizado para dar suporte ao Mandetta na crise da pandemia. E assim continuaremos. Se trata um diálogo pessoal que não nos cabe avaliar a conduta de cada um. A bancada vai olhar pra frente e focar no trabalho para salvar vidas e empregos", disse.