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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Assim como o presidente Jair Bolsonaro, o seu irmão Renato Bolsonaro, 56, desprezou recomendações sanitárias que têm como objetivo evitar o avanço da epidemia do novo coronavírus no país.
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O comerciante esteve na segunda-feira (13) em um açougue na cidade de Registro (SP), distante 194 km da capital paulista, e se recusou a cumprir medidas estipuladas pela prefeitura para prevenir o contágio. Por isso acabou barrado na porta e não foi atendido.
Renato Bolsonaro mora em Miracatu (SP), no Vale do Ribeira, mas pretendia fazer compras no açougue Carne, Queijo e Cia, que fica na cidade vizinha. Uma norma do município de Registro, porém, determina que durante a crise do coronavírus o acesso ao estabelecimento é limitado a dois compradores por vez e só entra quem estiver vestindo máscara de proteção.
Segundo relatos de testemunhas, o irmão do presidente aguardou na fila até chegar a sua vez, mas na hora de entrar no estabelecimento se recusou a vestir uma máscara.
A reportagem conversou com uma funcionária do açougue que disse que Renato, ao ser informado de que não poderia entrar sem a proteção, teria exigido que alguém o servisse no lado de fora do açougue, o que também é irregular.
Como o atendimento na parte externa também foi negado, Renato passou a reclamar na frente do estabelecimento, segundo testemunhas ouvidas pela reportagem.
Os funcionários e clientes sabiam que se tratava do irmão do presidente da República. Sem ser atendido, ele foi embora reclamando.
O presidente Jair Bolsonaro também tem tomado atitudes contrárias às recomendações de órgãos de saúde, cientistas e até do próprio Ministério da Saúde, que recomendam o isolamento social e adoção de cuidados, como usar máscaras e evitar aglomerações.
Durante a crise do coronavírus, o presidente juntou aglomerações ao visitar padarias e farmácias, circulou sem proteção no rosto e tocou em populares para tirar fotos.
Jair Bolsonaro é contra o isolamento total durante a pandemia e considera que o ideal é confinar apenas grupos de risco. Ele se mostra favorável a uma maior flexibilização para a reabertura de estabelecimentos comerciais.
Renato Bolsonaro e sua família têm uma rede de lojas de móveis nas cidades do Vale do Ribeira, uma das regiões mais pobres do estado de São Paulo. Sua filha Vitória administra a unidade de Miracatu.
Na terça (14), Vitória Bolsonaro juntou-se a comerciantes da cidade para uma reunião com o prefeito de Miracatu, Ezigomar Pessoa (PSDB), em que foi solicitada a reabertura do comércio local.
A Prefeitura de Miracatu negou o pedido dizendo que segue a orientação da Secretaria de Saúde do Governo de São Paulo e do Ministério Público, que são contra qualquer flexibilização neste momento em que se aproxima o pico da pandemia da Covid-19.
Na cidade de Miracatu, onde moram Renato e Vitória Bolsonaro, há 29 casos suspeitos de coronavírus. Só agora a prefeitura conseguiu contratar testes de um laboratório particular. Não há leito de UTI no município.
A região do Vale do Ribeira tem cerca de 300 mil habitantes e apenas dois hospitais preparados para receber pacientes com coronavírus, totalizando 39 leitos de UTI. São 30 leitos na cidade de Registro e outros 9 no hospital de Pariquera-Açu.
Já são 24 casos confirmados de coronavírus no Vale do Ribeira e mais de 300 casos suspeitos. Há o temor de que possa haver um colapso do sistema de saúde local se a epidemia se alastrar.
A reportagem tentou contato com Renato Bolsonaro e sua filha Vitória, mas eles não atenderam aos telefonemas nem responderam os recados deixados em seus celulares.
Em janeiro, a Folha de S.Paulo mostrou que Renato Bolsonaro atuou como mediador informal de demandas de prefeitos interessados em verbas federais para obras e investimentos.
A reportagem identificou a participação do irmão do presidente na liberação de dinheiro para ao menos quatro municípios do litoral paulista e do Vale do Ribeira.
Sem cargo público, ele participou de solenidades de anúncio de obras, assinou como testemunha contratos de liberação de verbas, discursou e recebeu agradecimentos de prefeitos pela ajuda no contato com a gestão federal.
Ao todo, após a atuação de Renato, foram mais de R$ 110 milhões repassados para construção de pontes, recapeamento asfáltico e investimento em centros de cultura e esportes em São Vicente, Itaoca, Pariquera-Açu e Eldorado, município onde moram familiares do presidente.Renato diz não ter cobrado pela ajuda às prefeituras.