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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Um documento do Ministério da Saúde aponta risco potencial de que o novo coronavírus atinja 11.732 idosos que vivem em instituições de longa permanência, como são chamados hoje os antigos asilos.
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O cálculo considera a existência de 78.216 pessoas com mais de 60 anos vivendo em instituições vinculadas ao SUAS -sistema de assistência social que inclui as entidades que recebem verbas públicas- e uma estimativa de 15% de incidência da doença.
A taxa tem referência em parâmetros de casos de síndrome gripal, segundo técnicos da pasta.
O documento estima ainda que, entre os casos, ao menos 2.346 podem precisar de internação hospitalar. Desses, metade, de assistência em UTI por até 21 dias. O texto não cita índice de letalidade.
A estimativa faz parte do "Plano nacional de contingência para o cuidado às pessoas idosas em situação de extrema vulnerabilidade social", elaborado pela secretaria de atenção primária em saúde do ministério e publicado em sistema interno da pasta na sexta-feira (24).
Especialistas ouvidos pela reportagem, porém, dizem que os números estão subestimados e tendem a ser maiores.
"Uma instituição de longa permanência de idosos é um ambiente em que, ocorrendo uma contaminação de alguns residentes, pode ser catastrófico, com mortes de muitos idosos. Isso pela característica dos idosos que estão lá. São idosos mais dependentes, com perda de autonomia, comorbidades e muitos com mais de 80 anos. Vimos casos de instituições com 50% ou mais de óbitos [em outros países]", diz Carlos André Uehara, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
O plano de contingência indica medidas de prevenção que devem ser adotadas pelas instituições e pela rede de saúde, na tentativa de tentar reduzir a transmissão e identificar possíveis casos. Também traz ações que devem ser adotadas para assistência diante de suspeita da doença.
Entre as medidas está fornecer 5 milhões de equipamentos de proteção individual a idosos e cuidadores, aumentar o uso nesses locais de sistema telefônico do Telesus para análise de sintomas e fazer um rastreamento ativo de casos, com envio de lista de idosos a equipes de Saúde da Família.
Uehara lembra que as instituições citadas pelo ministério são apenas uma parte das existentes no país.Dados de estudos apontam que, somadas instituições particulares, públicas, filantrópicas e outras clandestinas, o número de idosos em instituições pode chegar a 300 mil.
A presença de pessoas com idade mais avançada, o compartilhamento de ambientes e a dependência de apoio para realizar atividades colocam hoje esse grupo entre os mais vulneráveis ao vírus, aponta o documento do Ministério da Saúde.
Atualmente, sete em cada dez mortes pela Covid-19 no país ocorrem em pessoas com mais de 60 anos. "É essencial perceber que as pessoas idosas institucionalizadas apresentam tanto o risco individual, decorrente da maior agressividade da Covid-19 nesse grupo, quanto a exposição consequente do caráter asilar das instituições de longa permanência, nas quais se lidam frequentemente com espaços coletivos, aglomerações no uso de áreas comuns, com possibilidade de contágio de grande número de pessoas", aponta o documento do ministério.
O plano prevê ainda que residentes que apresentarem sintomas de síndrome gripal sejam imediatamente isolados do restante do grupo e submetidos a exames.
Caso não haja condições de isolamento e assistência dentro da instituição, o documento recomenda que seja feita uma internação social com uso de leitos em hospitais de pequeno porte e de retaguarda.
Pacientes também devem ser submetidos a testes mesmo em quadros leves. Inicialmente, o documento indica que seja privilegiada a oferta de testes do tipo PCR, considerados mais precisos e indicados, em geral, após o terceiro dia de sintomas.
Caso não haja disponibilidade do teste em até sete dias, a recomendação é pelo uso de testes rápidos, que usam amostras de sangue, modelo tido como mais limitado que o anterior.
O documento sugere ainda que o valor de diárias de internação de idosos tenha aumento de 100%, em uma tentativa de forçar o aumento do cuidado para esse grupo. A medida, porém, depende de decisão de outras equipes da pasta.
Questionado oficialmente pela reportagem sobre a implementação do plano e o número de casos de coronavírus já identificado em asilos, o Ministério da Saúde não respondeu. Em nota, disse apenas que o assunto está sendo coordenado pelo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, que deve ser porta-voz de um plano de ações para esses locais.
A ideia do governo é fazer um plano conjunto, o qual incluiria ações de saúde e outras medidas, como doação de cestas básicas.
Recentemente, o país começou a registrar mortes de idosos em asilos por coronavírus. Em um deles, em Piracicaba, no interior de São Paulo, foram sete mortes em seis dias. A situação motivou uma investigação do Ministério Público sobre as condições do local.
Em Campinas, também no interior paulista, um asilo clandestino foi interditado após um idoso morrer com a doença.
Antes da elaboração do plano, o ministério enviou a estados e municípios duas notas técnicas sobre a prevenção de casos nesses locais. A primeira ocorreu em março, e a segunda, há duas semanas.
Uma delas recomenda que haja monitoramento diário dos idosos para analisar possíveis sinais de febre e outros sintomas. Recomenda ainda que haja avaliação durante a admissão de novos residentes, evitando convívio nos primeiros 14 dias.
Outras ações de prevenção também são recomendadas, como limitar a presença em áreas comuns, restringir o uso de objetos compartilhados e servir as refeições em horários escalonados ou preferencialmente nos quartos.
As notas também orientam que visitas de familiares sejam suspensas, com contato mantido por telefone e vídeo, e que idosos sejam orientados a não sair das instituições neste período.
Em caso de sintomas, a recomendação é que o idoso seja mantido em quarto privativo ou encaminhado a internação social. Em casos graves, deve ir a hospital de referência.