Bolsonaro ameaça demitir ministro que não aceitar ceder cargos

Segundo relatos desses parlamentares, a atitude de Bolsonaro se deu em dois atos: primeiro, forçou a demissão de Sergio Moro (Justiça)

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Política Ameaça 02/05/20 POR Folhapress

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Líderes de partidos do chamado centrão afirmam que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) enquadrou nos últimos dias ministros que resistiam a ceder cargos de suas pastas ao grupo, deixando claro que quem se opuser pode ser demitido do governo.

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Segundo relatos desses parlamentares, a atitude de Bolsonaro se deu em dois atos: primeiro, forçou a demissão de Sergio Moro (Justiça), que no começo da gestão chegou a ser considerado "indemissível", reafirmando que tem a palavra final sobre cargos-chaves. Antes da exoneração, ele já tinha deixado claro, em reunião com todos os ministros, que a prerrogativa de fazer nomeações no governo era dele.

Depois, reafirmou a quem ficou, em encontros coletivos e a sós, que irá distribuir postos de segundo e terceiro escalão ao centrão e que não aceitará recusas. A conduta do presidente foi confirmada por integrantes do governo à Folha de S.Paulo.

Demonizado por Bolsonaro na campanha de 2018 como exemplo do que chama de velha política, formada por parlamentares adeptos do "toma lá, dá cá", o centrão reúne cerca de 200 dos 513 deputados e virou a esperança do presidente de, pela primeira vez, ter base de sustentação no Congresso.

Ao mesmo tempo em que promoveu uma ruptura pública com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Bolsonaro passou a procurar um a um líderes e presidentes de partidos do grupo, formado principalmente por PP, PL, Republicanos, PTB e PSD -esse último nega fazer parte, mas integra oficialmente o bloco do centrão na Câmara, liderado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL).

O repasse de cargos ao centrão perpassa secretarias estratégicas em ministérios e vai do porto de Santos à Funasa (Fundação Nacional de Saúde).

O grupo aceitou de pronto as ofertas –ainda não entregues, devido à burocracia federal para as trocas e o prosseguimento de acertos específicos– e saiu em defesa do presidente no Congresso, rechaçando a possibilidade de abertura de processo de impeachment contra ele. Para evitar esse risco, Bolsonaro precisa ter ao seu lado ao menos 171 dos 513 deputados federais.

Em outra frente, o centrão também apoiou a queda de Moro, mas aí a rixa do grupo com o ex-xerife da Lava Jato é antiga. A operação baseada em Curitiba levou ao banco dos réus vários líderes do grupo, sob acusação de desvio de recursos da Petrobras.

A reportagem ouviu relato de líderes do centrão e de ministros de Bolsonaro, que falaram sob condição de anonimato.

Segundo eles, o presidente já foi cobrado pela relativa demora nas nomeações e, como resposta, disse a ministros que eles têm de abrigar os indicados pelo centrão, sob pena de perder apoios.

Integrantes do Planalto informaram que os trâmites para que os nomes sejam publicados no Diário Oficial são demorados e que os indicados devem ser formalizados a partir da próxima semana.

Inicialmente, alguns auxiliares resistiram a entregar postos-chaves de suas pastas. Segundo integrantes do centrão, os principais seriam Paulo Guedes (Economia), Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Abraham Weintraub (Educação) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional).

Este último, que comanda pasta com obras em vários locais que serviriam de alavanca para o plano do governo de reaquecimento da economia no pós-pandemia, deve ser obrigado a ceder a Secretaria de Mobilidade ao Republicanos, ex-PRB, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. Outras secretarias da pasta são cobiçadas pelas demais siglas do centrão.

A reportagem perguntou ao ministro, por meio de sua assessoria, se Marinho concorda com a diretriz de Bolsonaro e se fez alguma ressalva ou estabeleceu alguma condição para a entrega dos postos. "As indicações para cargos no ministério são encaminhadas pela Secretaria de Governo após análise de critérios técnicos", limitou-se a dizer a pasta.

Na Educação, Weintraub terá de ceder a presidência do FNDE (Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação) para o PP, além de diretorias do órgão para Republicanos e PL. Segundo relatos, quando foi avisado pelo presidente de que teria de abrigar os indicados, o ministro pediu a Bolsonaro para criar filtros que garantissem controle de gestão.

Procurado pela Folha de S.Paulo, Weintraub não respondeu às perguntas feitas, se limitando a dizer que não fala com a família Frias, proprietária da Folha de S.Paulo.

Nesta semana, os partidos já enviaram nomes à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, que ficará com o PL, e à Secretaria de Mobilidade do Ministério do Desenvolvimento Regional.

Outros órgãos terão a presidência dada a um partido e as diretorias divididas entre os demais. O FNDE e o Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), sob o guarda-chuva do Desenvolvimento Regional, devem ser partilhados dessa forma.

Já o PL, além da Secretaria de Vigilância em Saúde, do time do recém-empossado ministro Nelson Teich, deverá comandar o Banco do Nordeste. O partido de Valdemar Costa Neto também queria o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), dentro do Ministério da Infraestrutura, área que controlou por anos, mas o governo vetou.

Outros cargos federais nos estados foram colocados, de acordo com os parlamentares, à disposição dos partidos em troca de apoio. A ideia dos líderes de siglas maiores é trazer para a base de Bolsonaro também legendas menores.

As assessorias da Economia e da Infraestrutura, assim como o Palácio do Planalto, não quiseram se pronunciar.

Quando deu início a seu governo, Bolsonaro tentou criar uma base de apoio no Congresso negociando com frentes parlamentares (como ruralista e evangélica), escanteando líderes e presidentes de partidos. O modelo não deu certo, e a situação do presidente se agravou quando ele rompeu com a cúpula do seu partido, o PSL, do qual se desfiliou.

Na última semana, Bolsonaro foi questionado sobre as tratativas com partidos, mas não deu respostas diretas. "Por que não vou conversar com nomes do Partido Progressista que foram meus colegas por uns 15 anos? Qual o problema?"

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