Bolsonaro antecipa mudanças e infla presença militar em postos-chave

Além de manter o Planalto com generais em três das quatro pastas do prédio, novos oficiais serão colocados em posições estratégicas em ministérios para ajudar na contenção de futuras crises.

© Reuters

Política BOLSONARO-GOVERNO 05/05/20 POR Folhapress

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) irá aumentar a participação de militares em postos-chave no segundo e terceiro escalões para atenuar a entrada de indicados políticos do chamado centrão. O núcleo duro do Palácio do Planalto - formado pela ala militar e pelos filhos do presidente - desenha um governo ancorado nas Forças Armadas.

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Desde os primeiros atritos com o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Bolsonaro tem deixado clara sua insatisfação com parte dos ocupantes da Esplanada chamados por ele de estrelas.

A saída precoce de Sergio Moro da Justiça acelerou o plano de reformulação ministerial arquitetada para o pós-crise da pandemia do novo coronavírus. Para isso, Bolsonaro vai se firmar em quem confia, os militares.

Hoje, os fardados controlam 8 dos 22 ministérios e estão em 1.349 cargos do Executivo. Isso não leva em conta outros 881 postos ocupados por membros das três forças no Ministério da Defesa.

Além de manter o Planalto com generais em três das quatro pastas do prédio, novos oficiais serão colocados em posições estratégicas em ministérios para ajudar na contenção de futuras crises.

O Ministério da Infraestrutura, que está na mira do centrão, deverá receber novos militares para postos-chave como nas companhias ligadas aos portos.

A avaliação dentro da pasta é que algumas companhias no Nordeste deverão ser cedidas aos novos aliados do governo. Porém, esses cargos serão reforçados com militares.

Bolsonaro também sinalizou a assessores que quer mais nomes das Forças Armadas no Ministério da Justiça. A pasta passou a ser comandada na quinta-feira (30) pelo ex-AGU (advogado-geral da União) André Mendonça, após a saída de Moro. O presidente analisa se vai desmembrar a Segurança Pública da pasta, mas, até lá, quer ver outros militares no setor.

Com a saída de Moro, voltou-se a discutir a recriação da pasta, que poderá acabar nas mãos do PP, que já mostrou interesse, ou de um velho aliado: o ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF), fiel ao presidente e com bom trânsito no centrão.

Atualmente, o único remanescente da gestão do ex-ministro é o secretário Nacional de Segurança Pública, general Guilherme Theophilo.

O primeiro lugar a receber o choque de gestão no estilo Bolsonaro foi o Ministério da Saúde. O general Eduardo Pazuello, indicado pelo próprio presidente, assumiu a Secretaria-Executiva da pasta, o segundo cargo mais importante da Saúde no país, para ajudar o recém-empossado Nelson Teich.

A transição entre Mandetta e Teich já havia sido conduzida por outro militar, o contra-almirante Flávio Rocha. Ele é chefe da SAE (Secretaria de Assuntos Especiais), ligada diretamente à Presidência.Outros dois nomes militares podem ascender na pasta nas próximas semanas.

Na visão do presidente, a presença dos fardados evita o que mais o incomoda: insubordinação e protagonismo.

Auxiliares de Bolsonaro defendem gradualmente uma outra mudança na equipe, tirando força dos chamados "políticos clássicos" e, até, de algumas das estrelas como o ministro Paulo Guedes (Economia).

Recentemente, Guedes entrou em choque com o núcleo militar - sobretudo os generais da reserva Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) - por discordar com o Pró-Brasil, plano criado pelos militares para reativar a economia no pós-crise.

O "posto Ipiranga", contudo, parece manter força no governo por ser agora o principal fiador de Bolsonaro. A aliados o presidente diz que tem um apreço pessoal por Guedes.

Pesa a favor do ministro da Economia o fato de empresários bolsonaristas terem defendido seu nome em almoço com o presidente na quarta-feira (29) no Planalto.

O núcleo militar recuou momentaneamente da investida sobre Guedes, mas segue defendendo a Bolsonaro que a crise é um momento de elevar gastos, e não de poupar. O presidente, por ora, avaliou a aliados que era arriscado perder dois dos principais pilares do governo ao mesmo tempo.

As mudanças deverão atingir um dos poucos aliados políticos que integravam o núcleo-duro de Bolsonaro durante a campanha, Onyx Lorenzoni, hoje à frente do Ministério da Cidadania. Onyx caiu em desgraça com o presidente.

Sem conseguir ser o articulador político que Bolsonaro queria no governo, quando esteve na Casa Civil, o ministro trouxe novo desgaste desnecessário ao governo ao anunciar que iria pagar duas parcelas do benefício às vítimas de Covid-19, sem ter dinheiro em caixa.

A gestão dele na crise tem sido criticada por militares e, até, pelos filhos do presidente, que não têm a mesma confiança no ministro que o presidente. Bolsonaro usou uma live para se explicar à população e exigiu de Braga Netto um pito em Onyx.

Aos ideológicos deverá ser mantido o espaço, para manter o contentamento da militância bolsonarista e dos filhos do presidente, em áreas específicas como Mulher, Família e Direitos Humanos, com Damares Alves, e Relações Exteriores, com Ernesto Araújo.

O único que pode perder espaço é Abraham Weintraub, na Educação. O ministro sofria desgaste desde o ano passado e a pasta é cobiçada por todos os partidos do centrão. Contudo, não há expectativa na mudança da política atual do ministério.

Entre os políticos devem permanecer, por enquanto, Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), que se aproximou dos militares e está sendo fiador do centrão em alguns cargos na pasta.

O movimento de Marinho foi visto como uma boia de salvação após ele ter ido para o embate direto com Guedes sobre o plano Pró-Brasil.

Há uma pressão também para a substituição de Tereza Cristina (Agricultura) por Nabhan Garcia na pasta. Hoje é secretário de Assuntos Fundiários.

A mudança agrada a ala mais ideológica do governo que reclama do alinhamento da ministra com a China. Tereza Cristina criticou a Bolsonaro os ataques feitos pelo filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e membros do Executivo ao governo chinês.

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