Secom usa expressão semelhante a slogan nazista para ações na pandemia

A peça da Secom, que foi compartilhada pelo presidente Jair bolsonaro (sem partido), afirma, em determinado ponto: "O trabalho, a união e a verdade nos libertará [sic]", assim como a famosa inscrição nazista na entrada do campo de concentração de Auschwitz (Polônia)

© Reuters

Política Governo 11/05/20 POR Folhapress

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Responsável pela comunicação social da Presidência da República, a Secom publicou neste final de semana em suas redes sociais um vídeo de divulgação de ações federais no combate à pandemia e usou, em determinado ponto, uma expressão que remete à famosa inscrição nazista na entrada do campo de concentração de Auschwitz (Polônia): "Arbeit macht frei" ("O trabalho liberta").

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A peça da Secom, que foi compartilhada pelo presidente Jair bolsonaro (sem partido), afirma, em determinado ponto: "O trabalho, a união e a verdade nos libertará [sic]".

No texto em que apresenta o vídeo, o perfil da Secom no Twitter faz uma leve variação, sem o erro de concordância: "Parte da imprensa insiste em virar as costas aos fatos, ao Brasil e aos brasileiros. Mas o @govbr, por determinação de seu chefe, seguirá trabalhando para SALVAR VIDAS e preservar o emprego e a dignidade dos brasileiros. O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil."

Parte da imprensa insiste em virar as costas aos fatos, ao Brasil e aos brasileiros. Mas o Governo Federal, por determinação de seu chefe, segue trabalhando para SALVAR VIDAS e preservar o emprego e a dignidade dos brasileiros. O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil. pic.twitter.com/YoOOKONuEu

— SecomVc (@secomvc) May 11, 2020

O secretário Fabio Wajngarten reagiu ao caso em uma rede social. "É impressionante: toda medida do governo é deformada para se encaixar em narrativas. Na campanha, faziam suásticas fakes; agora, se utilizam de analfabetismo funcional para interpretar errado um texto e associar o governo ao nazismo, sendo que eu, chefe da Secom, sou judeu!"

"Abomino esse tipo de ilação canalha, sobretudo nos tempos difíceis pelos quais estamos passando. Esquecem dos ensinamentos judaicos recebidos por mim e por boa parte da minha equipe, e da tradição de trabalho do povo judeu de lutar por sua liberdade econômica."

E completou: "Acusar injustamente de nazifascismo tira o peso do termo. Se todos são nazifascistas, ninguém é, o que muito interessa aos criminosos, que passam a ser vistos como pessoas comuns.É a isso que se prestam alguns políticos e veículos da mídia na busca por holofotes a qualquer preço".

No mês passado o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi cobrado a se retratar por líderes judaicos por ter comparado o isolamento social para conter o coronavírus aos campos de concentração nazistas que mataram milhões de judeus. O ministro afirmou ter havido uma leitura distorcida de sua manifestação.

Em janeiro, o secretário especial de Cultura Roberto Alvim foi demitido após divulgar um vídeo em que parafraseava um discurso de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler, além de usar outras simbologias nazistas.

O vídeo divulgado pela Secom neste fim de semana surgiu em meio às críticas de falta de empatia do presidente com a quantidade de brasileiros mortos em decorrência do novo coronavírus.

A propaganda apresenta, em ordem cronológica, uma sequência de medidas implementadas pelo governo e declarações do presidente e de seus ministros, como Paulo Guedes (Economia), Nelson Teich (Saúde) e Ônix Lorenzoni (Cidadania).

Algumas informações, no entanto, foram apresentadas fora de contexto e por isso oferecem uma leitura distorcida dos fatos.

Em determinado momento, por exemplo, afirma-se que o Brasil tem uma das menores taxas de letalidade por milhão de habitantes, entre as maiores economias do mundo. A informação se refere ao dia 23 de abril.

O Brasil apresenta de fato um índice menor. No entanto, seria preciso levar em consideração que os países encontram-se em momentos diferentes do combate à pandemia. O surto atingiu antes a China –epicentro da crise sanitária– e os países europeus. Alguns desses agora vêm apresentando crescimento menor no número de mortos.

O Brasil aparenta ainda estar distante do pico da pandemia, que muitos especialistas acreditam que vá acontecer entre os meses de junho, julho e agosto. Como a Folha mostrou neste sábado, o número oficial de mortes no país cresce atualmente a um índice de 6,5%, muito superior aos europeus e apenas abaixo dos Estados Unidos.

O material divulgado pela Secretaria de Comunicação também ressalta frases, como a dita por Bolsonaro, afirmando que tem "o Brasil a zelar" e em outra, no qual ressalta que "estamos juntos na defesa da vida do povo brasileiro, na defesa dos empregos e também buscando levar tranquilidade e paz para o nosso povo".

Também é lembrada frase de Paulo Guedes, na qual afirma que "o presidente desde o início disse que nenhum brasileiro ia ficar para trás".

Bolsonaro vem sendo criticado por suas declarações e comportamento polêmicos em meio à pandemia do novo coronavírus. Neste sábado (9), quando o Brasil registrou 10 mil mortes em decorrência da Covid-19, o presidente havia marcado um churrasco, que acabou cancelado. Bolsonaro, no entanto, saiu para um passeio em uma moto aquática.

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