© Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O ministro Augusto Heleno (GSI) afirmou à Polícia Federal que o presidente Jair Bolsonaro lhe teria dito, 'em uma ou outra oportunidade', e na presença do ex-ministro Sérgio Moro, que precisava de alguém 'mais ativo' no comando da Polícia Federal. O ministro também disse achar 'natural' a escolha de uma 'pessoa próxima' para exercer a chefia da corporação.
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"Mais ativo no sentido de maior produtividade, o que não envolveria maior produção de relatórios de inteligência ainda que isso possa estar incluído no conceito de produtividade", esclareceu o ministro.
Sobre a indicação de Alexandre Ramagem, Heleno afirmou considerar 'natural' que o presidente da República 'queria optar por uma pessoa próxima' para comandar a Polícia Federal, mas que a indicação se deveria à 'eficiente administração de Ramagem' em frente à Abin, relatada pelo próprio Heleno a Bolsonaro 'em diversas oportunidades'.
Segundo Heleno, a relação entre Bolsonaro e Ramagem 'não extrapola os limites de uma vinculação profissional entre chefe e subordinado', mas que também 'natural' que haja 'uma proximidade' de Ramagem com o presidente e seus filhos, visto que o delegado foi encarregado da segurança pessoal de Bolsonaro durante a campanha eleitoral.
Heleno disse que chegou a conversar tanto com Moro quanto Bolsonaro sobre a troca de Valeixo por Ramagem. O nome do diretor da Abin, na visão do presidente, 'daria um novo ânimo à Polícia Federal'. O ministro disse ter visto, pelas conversas, que 'o processo se caracterizava por idas e vindas'.
Segundo Heleno, Moro disse que o presidente não tinha 'elencado motivos' que justificassem a troca de comando da PF. O ex-juiz estaria 'irresignado' com a mudança na chefia da PF.
"Em uma dessas oportunidades, disse ao ex-ministro Moro que por se tratar de uma atribuição legal do presidente da República, os motivos deste não precisariam ser os mesmos que o ministro Moro acharia relevantes", afirmou Heleno, que disse que se 'tentaria falar' com Bolsonaro sobre o caso como 'gesto de amizade', mas sabendo que o presidente já estava determinado em fazer a troca de diretor-geral.
"O depoente nunca teve conhecimento de nenhuma missão específica que o presidente da República quisesse atribuir a Alexandre Ramagem no comando da Polícia Federal, seja no Rio de Janeiro, seja em Minas Gerais ou em qualquer Estado da federação, podendo apenas afirmar que o Presidente tem grande admiração por Ramagem pelo fato de tê-lo visto atuar em sua segurança pessoal e na Direção-Geral da Abin", apontou o depoimento.
Agilidade e desempenho
O chefe do GSI informou à PF que 'não tem conhecimento' dos detalhes discutidos entre Moro e Bolsonaro a respeito de troca de comando da superintendência regional no Rio de Janeiro. Ele sabia, apenas, que 'o presidente cobrava maior desempenho da Polícia Federal do Rio de Janeiro no combate à corrupção, inclusive envolvendo hospitais federais'.
Bolsonaro também teria se queixado sobre envolvimento de seu nome no depoimento do porteiro do condomínio Vivendas da Barra, segundo Heleno. O presidente teria reclamado da 'demora da investigação' sobre o caso. O ministro disse que não sabe informar 'se essa atribuição seria ou não da Polícia Federal ou da Polícia Civil'.
Em relação à reunião ministerial do dia 22 de abril, Heleno informou que Bolsonaro cobrou 'de forma generalizada todos os ministros na área de inteligência'. A reclamação seria por 'escassez de informações de inteligência que lhe eram repassadas para subsidiar suas decisões, fazendo citações específicas à sua segurança pessoal', mencionando a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a Polícia Federal e o Ministério da Defesa.
"O presidente, na reunião do dia 22 de abril, menciona o exemplo de sua segurança pessoal, que se estivesse falha, tentaria trocá-la; e que se não conseguisse, trocaria o chefe, podendo chegar ao diretor e até o ministro", disse.
Questionado se a PF estaria deixando de atender pedidos de inteligência, Heleno respondeu que a corporação estava 'atendendo pedidos feitos pelos canais adequados'. "Mas que havia uma cobrança do presidente por maior agilidade, pois às vezes, o presidente tomava conhecimento de informações pela imprensa, e não oficialmente".