Vinte anos sem Domingos da Guia, o Divino Mestre

Nascido em 19 de novembro de 1912, o Divino teria 117 anos de idade se estivesse vivo

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Esporte Zagueiro 18/05/20 POR Agência Brasil

Dezoito de maio de 2000, há exatos 20 anos faleceu, aos 87 anos, aquele que foi considerado por muitos o melhor zagueiro de todos os tempos, Domingos Antônio da Guia, ou simplesmente Domingos da Guia, como era conhecido no mundo do futebol.

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Nascido no bairro de Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro, o menino de 17 anos, pobre, negro, viril e com 1,86m de altura, após sucesso nos campos de pelada, iniciou a carreira no Bangu Atlético Clube em 1929. Os três irmãos (Ladislau, Luiz e Mamede) também ingressaram no futebol, mas sem dúvida foi ele que obteve o maior sucesso na trajetória como jogador. Ele foi tão marcante na equipe banguense que é citado no hino composto por Lamartine Babo em 1949: “O Bangu tem também a sua história, a sua glória, enchendo seus fãs de alegria! De lá, pra cá, surgiu Domingos da Guia”.

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“O Bangu sempre revelou grandes jogadores, especialmente nos anos de 1920, época na qual o clube era chamado de celeiro de craques. Assim, Domingos foi o maior expoente de sua geração, que conquistou maior projeção e glórias internacionais. Era um talento precoce, tanto que com apenas 19 anos já deixara o clube seduzido por uma proposta de 5 contos de réis a título de luvas e 500 mil réis mensais do Vasco. Algo inimaginável para um jogador de futebol naquela época, na qual o esporte ainda era amador”, diz o historiador e jornalista Carlos Molinari.

Após o início no Bangu, ele foi transferido para o Vasco, onde teve duas passagens. A primeira foi breve, em 1932. Logo depois saiu do país para defender o Nacional do Uruguai e foi campeão nacional em 1933. Além disso, no país vizinho recebeu a alcunha de El Divino Mestre. Logo depois voltou à equipe vascaína, mas desta vez com o título de campeão estadual de 1934.

Em 1935 tomou o avião rumo a Buenos Aires (Argentina). Na terra do tango defendeu com êxito a camisa do Boca Juniors, levantando a taça de campeão argentino. Este seria o terceiro troféu erguido por ele em três anos consecutivos, defendendo três clubes diferentes.

“Domingos, é bom lembrar, jogou num país como a Argentina, que nos anos 30 ainda via com reticência a presença de atletas negros. E foi campeão nacional pelo Boca Juniors em 1935, quebrando o estigma de que os jogadores brasileiros eram sempre os macaquitos”, afirma Molinari.

Após vestir a camisa da equipe argentina, retornou ao Rio de Janeiro, porém o destino foi o Flamengo. No rubro-negro carioca seguiu o mesmo sucesso que trilhou em outros times, alcançou o tricampeonato carioca em 1939, 1942 e 1943. A história de Domingos da Guia ficou tão vinculada ao clube que o samba-enredo da Escola Estácio de Sá em 1995, que homenageava o Flamengo, citou o nome do craque: “Seis jovens remadores / Fundam o grupo de regatas / Campeão o seu destino (ô) / É ganhar em terra e mar / Fazendo sol / Pode queimar, pode chover / Vou ver Fla-Flu / Fla-Vas vou ver / Diamante negro, Fio Maravilha / Domingos da Guia, Zizinho, Pavão / Gazela negra”.

Molinari descreve os atributos que levou o ex-zagueiro a ter sucesso por onde passou: “Um zagueiro clássico, que sabia sair jogando, desarmava com facilidade, não levava dribles e, além disso, driblava dentro de sua própria área os atacantes adversários”.

O primeiro clube no Brasil ao qual Divino Mestre prestou seus serviços fora do Rio de Janeiro foi o Corinthians. O clube paulista, em seu site oficial, conta que na época pagou 300 contos de réis, a maior quantia desembolsada por um jogador no futebol sul-americano. Por ironia do destino, seu filho, Ademar da Guia, se tornou anos depois o maior ídolo do arquirrival Palmeiras e herdou o apelido do pai. Pela equipe corintiana, venceu a Taça Cidade de São Paulo em 1947. O comentarista Mário Silva relembra um caso curioso no clube do Parque São Jorge: “Domingos da Guia foi uma lenda do futebol. Dele surgiu o termo domingadas, que significa não dar chutão. No Corinthians ele ganhava mais que toda a defesa, e os companheiros de zaga ficaram zangados. E o que eles faziam, vai Divino, vai Divino, e não iam na bola. Até que ele, esperto, reuniu todos e disse: 'olha aqui, vou rachar o bicho com vocês e vamos jogar'. Só depois o Corinthians foi campeão”, o termo domingada ganharia um sentido pejorativo anos depois por causa de um lance do qual ele participou na Copa de 1938, que será abordado adiante.

E como diz o ditado, o bom filho à casa torna. Domingos encerrou a carreira no Bangu em 1949: “Sua família tem história dentro do clube, com outros três irmãos atuando com destaque na equipe. E o mais interessante é que ele fez questão de voltar para atuar no Bangu no fim de sua carreira, em 1948. Afinal, realmente, sentia uma dívida de gratidão com o Bangu. E, principalmente, queria mostrar que, apesar de ser um jogador de fama internacional, não esquecia suas origens. Aliás, Domingos e sua família sempre moraram em Bangu. Só, mais tarde, é que ele foi morar no Méier”, diz Molinari.

Fazendo parte do seleto grupo de jogadores que tem o potencial de abrilhantar uma competição, Domingos da Guia disputou a Copa do Mundo de 1938. Caso não tivesse participado, caberia aquela frase famosa proferida quando um craque termina a carreira sem um título mundial por seu país, “o azar é da Copa”. Neste caso, a afirmativa também faz sentido, pois o ex-zagueiro não foi campeão na França, na ocasião levou a seleção brasileira à terceira colocação, porém levou o título individual como melhor da posição.

“Na Copa foi considerado um grande zagueiro, mesmo tendo participado do lance polêmico do pênalti no italiano Piola. Ele teria chutado o jogador adversário fora do lance e o juiz deu pênalti”, recorda Mário Silva ao comentar a semifinal contra a Itália, jogo que marcou o fim do sonho do Brasil de conquistar o primeiro Mundial de sua história.

Nascido em 19 de novembro de 1912, o Divino teria 117 anos de idade se estivesse vivo.

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