Ministros militares agora negociam com o Centrão

A negociação, com aval de Bolsonaro, tem sido capitaneada pelo ministro-chefe da Secretaria de Governo e general da ativa, Luiz Eduardo Ramos.

© Twitter / Planalto

Política Centrão 26/05/20 POR Estadao Conteudo

Partiu do general reformado Augusto Heleno Ribeiro, o atual ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), na convenção do PSL que confirmou a candidatura de Jair Bolsonaro ao Planalto em julho de 2018, um dos mais duros ataques ao Centrão, classificado por ele como "a materialização da impunidade".

PUB

Quase dois anos depois, é de mãos dadas com a ala militar que o bloco entra no governo e avança sobre cargos do Executivo em troca do apoio ao presidente, que tenta evitar a abertura de um processo de impeachment. O encontro dos dois extremos foi apelidado em Brasília de "Centrão Verde-Oliva" e acumula discórdia e desconfiança em todos os lados.

A negociação, com aval de Bolsonaro, tem sido capitaneada pelo ministro-chefe da Secretaria de Governo e general da ativa, Luiz Eduardo Ramos. O ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, também general, eventualmente participa das conversas que ocorrem dentro do Palácio do Planalto. É um papel que já foi exercido por políticos como Geddel Vieira Lima, Antonio Palocci e José Dirceu, auxiliares de Michel Temer, Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, respectivamente.

Do outro lado do balcão, o principal negociador é o líder dos Progressistas na Câmara, o deputado Arthur Lira (AL), que informalmente passou a exercer a liderança do governo. O Centrão de Bolsonaro ainda tem Republicanos, PL, PSD, Solidariedade, PTB e parte do DEM.

Entre militares, existe um desconforto em ver generais envolvidos diretamente na articulação política, mas argumentam que seguem a disciplina das Forças Armadas e cumprem ordens do comandante, no caso o presidente Bolsonaro.

Políticos do Centrão que agora frequentam o gabinete do ministro Luiz Ramos dizem que as conversas são diretas e chamam de "lenda" o estigma de que os militares não têm experiência política. Dois deputados contaram ao Estadão que não há constrangimentos ou senhas para a oferta de cargos. É o ministro quem puxa o assunto e já apresenta um papel com a lista de postos nos Estados para o convidado escolher. "Não fica nem vermelho", ironiza um parlamentar recém convertido à base do governo. A cena é bem diferente do início do governo, quando o Centrão parou de frequentar o Planalto por medo do general Santos Cruz, antecessor de Ramos.

Em uma tentativa de conter o desgaste com a aproximação, o presidente determinou aos auxiliares evitar usar o termo "Centrão" e fala agora em "aliança de centro-direita". Para diminuir a resistência interna, o argumento que tem sido usado é que as conversas são "republicanas" e as indicações precisam ser aprovadas pelo Sistema Nacional de Indicação e Consultas (Sinc).

Lava Jato

Bolsonaro chegou a gravar um vídeo em tom amistoso com Arthur Lira, de quem foi colega de partido. O parlamentar foi um dos alvos da Operação Lava Jato e é réu por corrupção passiva no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele foi acusado de ter encabeçado negociação de pagamento de propina a agentes públicos, com repasses que totalizaram R$ 1,94 milhão.

Na nova relação que governo tenta construir com o Congresso, Lira tem atuado para levar os pedidos de cargos ao ministro Ramos. Bolsonaro tem cedido e desagradado fiéis aliados.

Integrantes do Palácio do Planalto do grupo ideológico acusam, nos bastidores, a ala militar de convencer o presidente a ceder ao fisiologismo e, ao mesmo tempo, fazer do governo um refém da "velha política" em troca de formar uma base de apoio no Congresso. Entretanto, em abril, quando iniciou o movimento para criar uma articulação, Bolsonaro recebeu líderes do Centrão sozinho em seu gabinete, sem a presença de ministros.

Abraham Weintraub, ministro da Educação, tentou resistir à entrega de cargos. Por um mês, ele não aceitou nem mesmo receber nomes de apadrinhados do Centrão para consulta. Ameaçado de demissão, o ministro acabou cedendo. Ele diz estar na mira dos militares.

Saúde

Em plena pandemia da covid-19, o Ministério da Saúde passa por reformulação. Cerca de 20 militares já foram nomeados para áreas estratégias durante as gestões de Nelson Teich e do general Eduardo Pazuello, que comanda a pasta interinamente. Outros 20 devem ganhar cargos nos próximos dias.

O Centrão também deve receber uma fatia do ministério. Líderes do PP e PL chegaram a um acordo para indicar o médico Marcelo Campos Oliveira a secretário de Atenção Especializada à Saúde, área cobiçada por liberar recursos para custeio de leitos em hospitais de todo o País. O secretário ainda não foi nomeado. Durante a pandemia, a secretaria já autorizou bancar R$ 911,4 milhões para o funcionamento, por 90 dias, de 6.344 quartos de UTI para a covid-19.

Em reunião com representantes de secretários de saúde de Estados e municípios, na quinta-feira passada, o ministro interino disse que os militares devem ficar temporariamente.

A maioria ocupa cargos na secretaria-executiva, responsável pela gestão de contratos, pessoal, orçamento e dados do ministério. A ideia é que os cerca de 20 militares que ainda devem entrar na Saúde recebam também, a maioria, cargos na secretaria-executiva.

Pazuello estuda, no entanto, nomear um militar como Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, posto responsável pelo estudo de novos produtos e pelo diálogo com a indústria farmacêutica. A pasta é estratégica para a análise, por exemplo, de evidências científicas sobre uso da cloroquina contra a covid-19.

Procurado, o Ministério da Saúde informou que as nomeações feitas "envolvem profissionais capacitados e com experiência em lidar com situações de crise". Apesar do avanço de casos da pandemia no País, a pasta alega que "a estratégia de resposta brasileira à covid-19 não foi prejudicada em nenhum momento." 

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

economia Dinheiro Há 9 Horas

Entenda o que muda no salário mínimo, no abono do PIS e no BPC

mundo Estados Unidos Há 9 Horas

Momento em que menino de 8 anos salva colega que engasgava viraliza

fama Patrick Swayze Há 22 Horas

Atriz relembra cena de sexo com Patrick Swayze: "Ele estava bêbado"

brasil Tragédia Há 2 Horas

Sobe para 14 o número desaparecidos após queda de ponte

brasil Tragédia Há 9 Horas

Vereador gravou vídeo na ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira pouco antes de desabamento

tech Aplicativo Há 8 Horas

WhatsApp abandona celulares Android antigos no dia 1 de janeiro

fama Emergência Médica Há 10 Horas

Gusttavo Lima permanece internado e sem previsão de alta, diz assessoria

fama Condenados Há 17 Horas

Famosos que estão na prisão (alguns em prisão perpétua)

brasil Tragédia Há 9 Horas

Mãe de dono da aeronave que caiu em Gramado morreu em acidente com avião da família há 14 anos

fama 80s Há 19 Horas

Os casais mais icônicos dos anos 1980