Laudo indica que tiro de fuzil atingiu João Pedro pelas costas

O projétil entrou pela região dorsal direita, abaixo da axila, de baixo para cima e na direção diagonal

© Reprodução

Justiça Violência 29/05/20 POR Folhapress

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O laudo de necropsia do corpo de João Pedro Matos, 14, morto no último dia 18 durante uma operação policial em São Gonçalo (região metropolitana do Rio de Janeiro), indicou que o menino foi atingido nas costas por um tiro de fuzil.

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O projétil entrou pela região dorsal direita, abaixo da axila, de baixo para cima e na direção diagonal. Causou lesões no pulmão e no coração e ficou alojado próximo ao ombro esquerdo do adolescente, conforme divulgou o jornal Extra.

A Delegacia de Homicídios da região já havia identificado que o projétil tem calibre 5,56 mm, o mesmo calibre do fuzil de um dos policiais civis que participaram da ação, em apoio à Polícia Federal. Os outros dois levavam fuzis de 7,62 mm.

Os três agentes foram afastados temporariamente do serviço nas ruas, mas continuam na Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) exercendo atividades administrativas, conforme informou a corregedoria da Polícia Civil na última semana.

Os investigadores, no entanto, ainda aguardam o resultado do confronto balístico, que vai comparar o projétil com as armas dos policiais. Também esperam o laudo de perícia do local da morte: a sala da casa de uma tia de João Pedro no Complexo do Salgueiro.

Pessoas que estiveram no imóvel no dia seguinte da ocorrência contaram cerca de 70 marcas de tiro espalhados por diferentes cômodos, principalmente de fora para dentro. O local onde o garoto foi baleado fica acima de um degrau de cerca de 30 centímetros, o que talvez possa explicar a direção do disparo.

A perícia, feita logo após a morte, deixou para trás um objeto parecido com um pino de granada. A família diz que naquele dia também sumiram os celulares de três dos seis jovens presentes, incluindo o de João –a polícia confirmou a apreensão de dois aparelhos e afirmou que eles passariam por perícia.

Depois que os laudos que faltam ficarem prontos e todos os depoimentos forem coletados, os investigadores pretendem fazer uma reprodução simulada na residência, ainda sem data marcada. Ela deve ser acompanhada pela Defensoria Pública, que está assistindo a família, e pelo Ministério Público estadual.

Já foram colhidos os relatos dos policiais que participaram da ação, dos pilotos do helicóptero que socorreram o menino e do bombeiro que declarou o óbito, entre outras pessoas. O depoimento dos parentes de João Pedro e das testemunhas está previsto para a próxima semana.

Segundo a Defensoria, eles vão depor diretamente aos promotores do Gaesp (Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública) do Ministério Público, que abriu uma investigação independente.

As corregedorias da Polícia Civil e da Polícia Federal também instauraram sindicâncias administrativas para apurar paralelamente a conduta dos agentes envolvidos na operação.

Relembre o caso João Pedro brincava com os primos na área externa da casa de uma tia na Ilha de Itaoca, no Complexo do Salgueiro, quando começou uma grande operação da PF com apoio da Core da Polícia Civil e do Grupamento Aeromóvel da Polícia Militar.

As crianças começaram a ouvir o barulho dos helicópteros voando baixo e ligaram para a tia e o pai, que tinham acabado de sair para trabalhar ali perto, no quiosque na beira da praia. Eles então ordenaram que os jovens entrassem correndo na casa.

O relato dos adolescentes é de que, logo em seguida, policiais entraram pelo portão, lançaram bombas de gás e começaram a atirar, mesmo com os garotos se jogando no chão e gritando que havia crianças. João ficou caído na sala.

A versão dos policiais, porém, é que seguranças de traficantes tentaram fugir pulando o muro da casa e atiraram e arremessaram granadas na direção dos agentes. João teria se ferido no confronto e foi socorrido em um helicóptero da Polícia Civil, mas não resistiu aos ferimentos.

A família acredita na hipótese de que a polícia, ao ver de cima os meninos correndo em uma casa grande e com piscina, pensou que a residência pertencesse a criminosos.

O adolescente foi levado a uma base aérea na zona sul do Rio, mas já chegou morto por volta das 15h, segundo os Bombeiros. Os parentes, impedidos de entrar no helicóptero e sem receber informações, passaram a madrugada procurando o menino. Seu corpo só teria dado entrada no IML (Instituto Médico Legal) de São Gonçalo às 4h de terça (19).

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