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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quando a primeira temporada de "O Píer" chegou ao fim no ano passado, os últimos segundos de seu derradeiro episódio deram uma reviravolta colossal à trama. O público ficou órfão de novos capítulos por um ano, remoendo a angústia deixada pela personagem de Verónica Sánchez naquela última cena.
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De origem espanhola, "O Píer" apresentou, em sua temporada inicial, a vida dupla que Óscar, papel de Álvaro Morte, levava. Casado há 15 anos com uma arquiteta bem-sucedida, ele mantinha um relacionamento duradouro com uma outra mulher.
Mas, quando ele morre em condições suspeitas, a mentira construída cuidadosamente durante anos desmorona e sua viúva descobre a amante que ele mantinha sob sigilo. Ela vai em busca da mulher e finge ser outra pessoa, até que elas se aproximam, sem que a outra suspeite da verdadeira identidade da nova amiga.
É claro que a farsa, uma hora, ia ter que acabar. Mas os fãs não esperavam que isso aconteceria justamente na cena que concluiria a primeira temporada de "O Píer". Foi o que ocorreu, e a sequência para esse grande gancho começa, para os brasileiros, neste sábado, quando a segunda e derradeira temporada da série estreia no canal Lifetime.
A trama foi criada por Esther Martínez Lobato e Álex Pina, este último querido pelo grande público graças ao fenômeno global "La Casa de Papel", que ele também concebeu. Foi de lá que tirou Morte, conhecido na série como El Profesor.
Mas, para o ator, há muito mais a ser explorado nas profundezas de "O Píer", série que não se limita a falar simplesmente de ciúmes ou traição. Afinal, a mulher de seu personagem, Alejandra, não se presta ao papel de viúva sofredora e enganada.
Ela embarca numa jornada por vezes perigosa para entender o porquê da vida dupla do morto. E, quando ela se aproxima daquela que, pelo clichê, deveria ser sua rival, o público acaba descobrindo um universo de possibilidades para aquele trio de personagens.
"Eu acredito que, da mesma forma que para o Óscar aquelas duas são as mulheres da sua vida, para Verónica e Alejandra ele é igualmente o homem das suas vidas, quem mais amaram e mais amarão", diz Morte. "E isso, no final, acaba se convertendo em uma relação a três impossível, porque uma das partes já não está mais presente."
Surge, então, um estranho triângulo amoroso, mesmo que o protagonista masculino já não esteja mais presente. Verónica e Alejandra se prendem às boas memórias do morto, que servem como combustível para a relação que constroem e também para sua busca por respostas.
Não há casamento em crise em "O Píer" e fica claro, desde o princípio, que Óscar realmente gostava das duas parceiras, sendo incapaz de escolher só uma delas. É por isso que Morte vê no programa um esforço para discutir o amor na contemporaneidade.
"Eu diria que 'O Píer' é, sobretudo, sobre novas formas de amar. E nós não deveríamos julgar nenhuma delas. Desde que nascemos, nossa cultura diz que você precisa amar só uma pessoa e, se ama mais de uma, será condenado ao inferno, julgado pela sociedade", afirma o ator, sobre relações que não se encaixam no molde de um homem com uma mulher.
"A série mostra que, pouco a pouco, podemos começar a abrir um pouco essa porta, romper barreiras. Não no sentido de mostrar como as coisas devem ser feitas, porque isso seria pretensioso e essa não é a nossa intenção. Mas queremos pôr essa discussão sobre a mesa. Se há quem queira seguir dessa maneira, quem somos nós para julgar?"
O tema continuará a ser explorado ao longo desses novos oito episódios, mas agora em segundo plano. "O Píer" vai adquirir, para seu desfecho, um clima mais investigativo, a fim de esclarecer a verdadeira causa da morte de Óscar.
Com a série chegando ao fim, Morte celebra essas duas temporadas por fazerem parte de um grupo de conteúdos audiovisuais que têm servido de contraponto para a hegemonia dos Estados Unidos e do Reino Unido na televisão - o sucesso global e avassalador de "La Casa de Papel", inclusive, talvez seja um dos melhores retratos disso.
"Eu acredito que as plataformas de hoje democratizam tudo, então alguém no Brasil pode se conectar a uma delas e ter acesso a produções de todo tipo e de todos os países", diz. "Há algum tempo estamos mostrando que somos capazes, que temos talento para isso, inclusive na América Latina. E o resto do planeta está valorizando isso, o que é muito saudável para equilibrar um pouco esse mercado.
"O PÍER"
Quando: A segunda temporada estreia neste sábado (6), às 22h, no Lifetime