Mãe que perdeu filho é funcionária da prefeitura de Tamandaré

Mirtes figura na folha de pagamento do município desde fevereiro de 2017, apesar de trabalhar como doméstica na casa do prefeito.

© Reprodução / Arquivo Pessoal

Brasil MORTE-PE 05/06/20 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O nome da mãe do garoto Miguel Otávio Santana da Silva, 5, que morreu depois de cair do 9º andar de um prédio no centro do Recife, nesta terça-feira (2), figura no quadro de servidores da Prefeitura de Tamandaré, no litoral sul de Pernambuco, desde 2017.

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Mirtes Renata de Souza trabalhava havia quatro anos como empregada doméstica na casa do prefeito do município, Sérgio Hacker (PSB), e da primeira-dama, Sari Côrte Real, localizada no Recife.

Na terça-feira (2), a Polícia Civil de Pernambuco prendeu Sari em flagrante por homicídio culposo após ela deixar o filho de Mirtes sozinho no elevador, de onde ele se deslocou até um andar mais alto, escalou um buraco de ar condicionado, caiu e morreu.

Sara foi liberada no mesmo dia depois pagar fiança no valor de R$ 20 mil.

Nesta sexta (5), a Promotoria de Justiça de Tamandaré instaurou um inquérito civil com a finalidade de apurar possível prática de improbidade administrativa do prefeito Sérgio Hacker.

O Ministério Público constatou, por meio de busca no portal da transparência municipal, que Mirtes figura na folha de pagamento do município desde fevereiro de 2017. Ela recebe um salário mínimo e está lotada no setor de manutenção de atividades de administração.

A Promotoria de Justiça de Tamandaré expediu ofício requisitando à chefia de gabinete da prefeitura para que informe, no prazo de três dias úteis, dados funcionais sobre a servidora, como cargo, função, método de controle de ponto, local de lotação, dentre outros.

A Prefeitura de Tamandaré declarou que só vai falar sobre o assunto na próxima semana. Em nota, afirmou que o prefeito Sérgio Hacker se encontra profundamente abalado e que, no momento próprio e de forma oficial, prestará informações aos órgãos competentes.

Mirtes trabalhava na casa da suspeita e levou o filho, Miguel, ao local de trabalho por não tinha com quem deixá-lo. Escolas e creches estão fechadas devido à pandemia do novo coronavírus, e a mulher continuava trabalhando para o casal apesar da alta incidência da doença em Recife. O próprio Hacker anunciou em abril que estava infectado pelo novo coronavírus.

De acordo com as investigações da polícia, Mirtes havia descido para levar a cadela da família para passear e deixado o filho sob os cuidados da patroa. Depois disso, a criança saiu do apartamento e tomou o elevador desacompanhada.

Os policiais analisaram imagens do circuito interno do condomínio e verificaram que a proprietária do apartamento permitiu que a criança de cinco anos entrasse sozinha no elevador.

O delegado Ramon Teixeira, que preside o inquérito, afirmou que o menino primeiro tentou sair do apartamento, e a mulher o repreendeu. Em nova tentativa, relatou o delegado, a criança retornou ao elevador e nada foi feito para impedir.

Os investigadores afirmam que as imagens de circuito interno mostram a mulher observando o menino entrar no elevador no 5º andar e registram o momento em que ela apertou o botão para a cobertura.

Ainda segundo o vídeo, na presença de Côrte Real, Miguel acionou os botões do 7º e do 9º andar. A porta do elevador então se fecha e ele sobe desacompanhado, primeiro até o 7º andar, sem desembarcar, e depois até o 9º andar.

Após deixar o elevador, Miguel subiu em uma caixa em que havia condensadores de aparelhos de ar-condicionado. Em seguida, de maneira acidental, segundo as investigações, ocorreu a queda, porque o local não estava devidamente protegido. O garoto caiu de uma altura de 35 metros.

Os investigadores afirmam que, naquele momento, o menino gritava pela mãe, que passeava com o cadela na avenida em frente ao edifício Píer Duarte Coelho, mais conhecido no Recife como Torres Gêmeas. Ao retornar ao prédio, alertada pelo porteiro, Mirtes encontrou o filho estirado no chão, gravemente ferido.

"A responsabilidade legal naquela circunstância era da moradora. A criança permaneceu e estava sob a sua responsabilidade", disse o delegado. "Ela tinha o poder e o dever de cuidar da criança e impedir, em última análise, o trágico resultado que adveio de uma tragédia."

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