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RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A família de Wilton Oliveira da Costa, um homem negro de 33 anos, está tentando provar na Justiça que ele não tem envolvimento em um roubo de uma motocicleta, crime do qual foi acusado e pelo qual foi preso. Wilton é jardineiro no Hospital Federal do Andaraí, na zona norte do Rio.
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A prisão aconteceu por volta das 15h30 do dia 12 de maio, enquanto ele trabalhava. Wilton cursa o quinto período da faculdade de educação física na Estácio e corre o risco de perder o semestre caso não compareça para fazer as avaliações.
Ele, a mulher e a filha moram no Morro do Encontro, no Complexo do Lins, também na zona norte do Rio. O irmão de Wilton, William Oliveira da Costa, foi morto em fevereiro deste ano durante uma ação da Polícia Militar na comunidade. Para os familiares, pode ter havido um erro na acusação. Isto porque os irmãos se parecem e, de acordo com a defesa, William usava, mesmo sem consentimento, uma cópia dos documentos do irmão. Além disso, ainda segundo a família, William se apresentava como sendo o irmão em abordagens policiais, já que tinha problemas com a Justiça e não tinha documento de registro pessoal.
Wilton está cumprindo prisão preventiva no presídio Ary Franco, no bairro de Água Santa
Para a defesa, não faltam elementos para comprovar que o homem não tem ligação com os crimes, argumentando que a rotina diária do cliente não é compatível com prática de delitos. Wilton Costa, que tem a carteira assinada na mesma empresa há oito anos, trabalha de segunda a sexta-feira e, de lá, vai para a faculdade quatro vezes por semana, no horário da noite. "Ele tem vários cursos de qualificação. A empresa onde trabalha muda de contrato, demite funcionários, mas ele é mantido", diz o advogado.
Wilton responde a sete processos, sendo um com mandado de prisão expedido em 2018 pelo Tribunal de Justiça do Rio. O advogado Reinaldo Máximo afirma que, do total dos 7 processos, em 6 deles o cliente nunca foi notificado, mesmo com residência e trabalho fixos. Em um dos processos que o levaram para a prisão, não houve notificação prévia da acusação. Apenas em um, que está em fase final, ele respondeu, e a Promotoria pediu a absolvição de Wilton por falta de provas.
Marcele Oliveira de Souza, noiva de Wilton, diz que ele é um companheiro alegre, amigo e querido pela comunidade, onde atua em projeto social de futebol com crianças. O casal tem uma filha de 5 anos. Os moradores da favela estão organizando vídeos em favor da soltura de Sinha, como ele é conhecido na favela e por amigos. "A gente não tem culpa de onde vive. É porque ele é preto", diz. "Estão querendo incriminá-lo por causa da cor."
Alcemir Vieira, presidente da Associação de Moradores, que já trabalhou com Costa, diz que o caso é uma situação de racismo. "Sempre foi trabalhador, de boa índole. Não consigo enxergar como uma pessoa com tantas atividades poder ser esse criminoso", afirma.
O Ministério Público do Rio de Janeiro foi procurado pela reportagem, mas não se manifestou sobre o caso. O Tribunal de Justiça do Rio também não comentou sobre a notificação das acusações contra Wilton Oliveira da Costa.
Nas redes sociais, usuários do Twitter se mobilizam pela liberdade dele com a campanha #SinhaLivre. Colegas de faculdade postaram fotos com sua presença em sala de aula. A defesa entrou com pedido de habeas corpus, e a audiência para decidir o rumo da vida do estudante está marcada para o dia 23 deste mês.