Bolsonaro fura bolha do centrão, negocia com partido e planeja viagens

Bolsonaro tem sido aconselhado por pessoas próximas a, além de tentar fortalecer sua relação com o Congresso

© Reuters

Política Em meio à crise 25/06/20 POR Folhapress

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em meio às crises sanitária, econômica e política, o presidente Jair Bolsonaro pretende ampliar sua base no Congresso para além do centrão, furando a bolha desse bloco de partidos e negociando diretamente com legendas menores.

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Além disso, pretende começar a rodar o país fazendo inaugurações e entregas. Trata-se de uma tentativa de impor uma agenda positiva, com a justificativa de não deixar que governadores se apropriem de feitos de seu governo e para prestigiar regionalmente seus aliados.

Veja também: Advogados reforçam pedido de impeachment baseado em fatos novos

Na manhã desta quarta-feira (24), Bolsonaro recebeu a bancada do PSC (9 deputados e 1 senador) em café no Palácio da Alvorada. A bancada ficou de apresentar ao general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) a lista de cargos em que tem interesse nos estados.

"Isso está se ajustando no governo. Tem muita gente de outros governos ocupando cargo. Se ele fizer isso, não vai estar se contrapondo ao que falou na campanha. Não vai dar ministério. Agora, a base aliada participar da gestão é natural e republicano. Isso é prestígio", disse à reportagem o líder do PSC na Câmara, deputado André Ferreira (PE).

Bolsonaro foi eleito com um discurso que condenava a política e negava a troca de apoio no Congresso por espaços no governo. Neste ano, porém, ele refez seu posicionamento.

A negociação direta com partidos menores representa uma mudança na estratégia do governo. Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou em maio, o Palácio do Planalto vinha oferecendo os cargos à cúpula do centrão –Progressistas, PL e Republicanos– para que estes gerenciassem as vagas para as legendas menores.

Agora, Bolsonaro quer incluir partidos além daqueles que integram o centrão na rede de proteção que tenta construir no Congresso para se blindar de um eventual processo de impeachment caso os desdobramentos da prisão do policial militar reformado Fabrício Queiroz agravem a atual crise política.

Na semana passada, no mesmo dia em que o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi detido, o presidente promoveu um almoço com deputados e disse que pretende fazer reuniões frequentes com integrantes do Congresso.

Queiroz foi preso em um imóvel em Atibaia (SP) pertencente ao advogado Frederick Wassef, responsável pelas defesas de Flávio e de Bolsonaro até o domingo passado (21). O mandado de prisão foi expedido pela Justiça do Rio de Janeiro.

Além de o policial reformado ter sido preso preventivamente, há mandado de prisão contra a mulher dele, Márcia Aguiar, que foi assessora de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

O fato de Bolsonaro ter ampliado seu diálogo para além das fronteiras do centrão não significa que o grupo vai perder espaço no governo.

Na semana passada, auxiliares palacianos disseram que o presidente sinalizou que novos indicados do centrão devem ser nomeados para cargos de segundo e terceiro escalões nos próximos dias, na tentativa de assegurar o apoio das siglas que compõem o grupo em um momento de fragilidade do governo.Em outra frente, Bolsonaro quer começar a viajar pelo país promovendo entregas de equipamentos e inaugurações de obras.

Por causa da pandemia do novo coronavírus, o presidente viajou pouco no primeiro semestre. A última inauguração da qual participou foi em fevereiro, quando foi ao Rio de Janeiro para cortar a fita da alça de ligação da ponte Rio-Niterói à Linha Vermelha. Somente no primeiro semestre, o Ministério da Infraestrutura contabilizou 31 inaugurações.

O presidente foi cobrado por aliados nos estados que viram governadores adversários se apropriando do capital político de entregas de empreendimentos bancados pelos cofres da União."Há uma série de sugestões de visitas para entregas de obras. A ideia é viajar toda semana", disse o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

O périplo de Bolsonaro pelo país começa nesta sexta-feira (26), quando vai a Penaforte, no interior do Ceará, sobrevoar a ferrovia Transnordestina e inaugurar obra da transposição do rio São Francisco. Na semana que vem, está prevista viagem a Palmas (TO) para entregar máquinas como retroescavadeira, pá carregadeira e escavadeira.

O Ministério da Infraestrutura vai apresentar na próxima semana um cardápio de mais de 30 obras que podem ser inauguradas no segundo semestre, como a segunda ponte sobre o rio Guaíba, em Porto Alegre (RS), mais 66 km de duplicação na BR-381 entre Governador Valadares e Belo Horizonte (MG), e uma ponte sobre o rio Madeira, em Rondônia, na BR-364, que vai ligar o Acre à Malha Rodoviária Nacional e criar um corredor com o Peru.

"O governo federal tem feito muitas ações e, por ausência do presidente, capitaliza o governador", afirmou o líder do PSC na Câmara.

No café da manhã, parlamentares disseram a Bolsonaro haver deficiência na comunicação institucional do Planalto. Diariamente, em suas redes sociais, o presidente lista de forma burocrática realizações do Executivo.

Para se esquivar das crises, Bolsonaro parou de falar com jornalistas e, quando muito, conversa por alguns minutos com apoiadores que são chamados para o jardim do Palácio da Alvorada, longe dos microfones.

Bolsonaro tem sido aconselhado por pessoas próximas a, além de tentar fortalecer sua relação com o Congresso, se distanciar da polêmica envolvendo seu filho e a estender uma bandeira branca ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Desde a semana passada, a Secom (Secretaria de Comunicação) passou a ficar debaixo do recém-criado Ministério das Comunicações, sob o comando do deputado Fábio Faria (PSD-RN).

Veja também: Projeto das fake news prevê rastrear mensagens e exigir documento

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