© Sergio Moraes/Reuters
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, entrou em campo na negociação política com os generais Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) para tentar "dar dignidade" ao acordo com os partidos do chamado centrão em troca de apoio a Jair Bolsonaro no Congresso.
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Resistente a conchavos, Guedes mergulhou no jogo político para convencer os congressistas a encamparem os projetos reformistas da economia pós-pandemia ,que, segundo ele, trarão de volta o país aos trilhos do crescimento.
Para assessores do Planalto, a atuação direta de Guedes com o centrão também passa pelo aumento do controle da equipe econômica sobre os impactos da negociação no Orçamento, já em frangalhos por causa dos gastos para frear os danos causados pelo coronavírus.
Reflexo dessa estratégia, Guedes teve dezenas de reuniões nas últimas três semanas com representantes partidários e os dois generais do Planalto.
Líderes de partidos do núcleo duro do centrão e outras siglas de centro ouvidos pela reportagem reconhecem o esforço da aproximação de Guedes.
No encontro, Guedes ressaltou que precisa do apoio dos congressistas para aprovar reformas e outras medidas importantes para evitar uma derrocada sem precedentes.
As projeções atuais de bancos de investimento apontam queda de cerca de 9% no PIB neste ano, o dobro da estimativa do início da pandemia.
Na mesma conversa, o ministro disse aos deputados que lançará o Renda Brasil, em substituição ao Bolsa Família, como forma de compensar o fim do pagamento do auxílio emergencial – algo que, do ponto de vista político, concede aos deputados um discurso pró-Bolsonaro em suas bases eleitorais.
O chefe da Economia fez ainda questão de mostrar sintonia com Braga Netto em torno das medidas do governo, especialmente ao concordar com o Pró-Brasil, plano que prevê obras para impulsionar o crescimento do país.
Apesar de se mostrar agora favorável, Guedes disse que a prioridade serão os investimentos estrangeiros, via programa de concessões.
Depois disso, o ministro se reuniu individualmente com congressistas. Recebeu o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), e Arthur Lira (PP-AL); o líder do PL, Wellington Roberto (PB); o líder e presidente do MDB, Baleia Rossi (SP); e o líder do DEM, Efraim Filho (PB).
PP e PL fazem parte do núcleo duro do chamado centrão que tem feito negociações com o governo para se tornar base na Câmara.
Apesar de Guedes se mostrar mais flexível na articulação com os congressistas, integrantes de partidos de centro ainda veem com desconfiança a movimentação do ministro.
Primeiro, porque dizem que a pauta das siglas já é por si só reformista, ou seja, o ministro sabe que existe alinhamento prévio a boa parte de suas pautas.
Além disso, questionam a disposição de Guedes na concessão de cargos porque o ministro recusou ceder posições no Banco do Nordeste, que o Planalto tinha tinha prometido ao centrão.
Em troca do apoio dos partidos, Bolsonaro nomeou indicados das siglas para cargos importantes do Executivo, como a presidência e várias diretorias do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). A distribuição de posições em outras pastas ainda está em andamento.
DEM e MDB, partido do ex-presidente Michel Temer, também se aproximaram de Bolsonaro nas negociações do centrão, mas seus dirigentes rechaçam fazer parte da base de Bolsonaro.
O DEM, por exemplo, tem representantes em cargos do governo.
A escolha do deputado Fábio Faria (PSD-RN) para o Ministério das Comunicações, que foi recriado por Bolsonaro, também foi feita com o intuito de construir base no Congresso. Embora a escolha não seja partidária, Faria congrega o apoio de diversos deputados e senadores do partido.
A aproximação de Guedes com a ala militar do Planalto e com políticos é uma reviravolta no desgaste inicial com Braga Netto que, sem conhecimento da Economia, reuniu propostas de obras públicas apresentadas por outros ministros, particularmente Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) no plano Pró-Brasil.
O programa foi apresentado a Guedes em uma reunião ministerial, no fim de abril, e anunciado horas depois. Previa gastos fora da regra do teto, o que incomodou o ministro.
Naquele momento, a justificativa dos militares para conduzir os projetos elencados no programa era frear a escalada do desemprego diante da crise do coronavírus.
Nos bastidores, também consideravam o programa uma ferramenta poderosa na conquista do apoio de, ao menos, cem parlamentares do centrão para não só frear um possível processo de impeachment no Congresso, como ter votos suficientes para a aprovação das pautas do governo.
A lista de obras, até hoje desconhecida, seria executada em locais considerados redutos eleitorais desses parlamentares.
Guedes foi refratário a esse projeto da forma como foi apresentado. Para integrantes do governo, avaliou ser um "toma lá dá cá", um "jeito velho de fazer política".
O ministro também expressou seu desapontamento com Marinho, ex-secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, a quem chamou de traidor.
Hoje, a relação com Marinho foi reconstruída, segundo integrantes do governo próximos a eles. O projeto original está sendo refeito em parceria com a Economia e deverá cumprir as regras do teto de gastos.
Na Infraestrutura, as obras também foram enquadrados. As despesas com dinheiro do Orçamento exigirão um pequeno esforço fiscal (cerca de R$ 2 bilhões a mais).
A engenharia dos técnicos da pasta foi fazer coincidir, neste caso, o interesse público (obras necessárias aos escoamento de safra no Centro-Oeste, por exemplo), com os interesses políticos dos parlamentares escolhidos pelo governo.
Esse processo de ajustes é o que moveu Guedes para a linha de frente dessas negociações para o que ele chama de "dar dignidade ao acordo com centrão", segundo assessores do Planalto.