© Reuters
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Apenas 9% dos infectados pelo coronavírus dizem não ter sentido algum sintoma de que poderiam ter sido contaminados. Foi o que relataram entrevistados do estudo nacional Epicovid-BR, que procura estimar o espalhamento do vírus e da doença pelo país e as características da população afetada.
PUB
O estudo testou e entrevistou 89.397 pessoas em três etapas de coleta de dados, a primeira delas em maio, a mais recente entre os dias 21 e 24 de junho, em 133 cidades de todos os estados do país.
Entre as pessoas examinadas, 2.064 tinham anticorpos, o que indica que foram infectadas pelo coronavírus. Dentre os infectados, os sintomas relatados com mais frequência foram as alterações em olfato e paladar (62,9%) e a dor de cabeça (62,2%).
Como têm indicado outros estudos, os mais pobres são mais atingidos pela epidemia. No quinto mais pobre da população (os 20% com menor renda), a taxa de infecção era de 4,1% na terceira etapa da pesquisa; entre o quinto mais rico, de 1,8%. A diferença da taxa de contaminação entre mais pobres e mais ricos aumentou entre maio e junho: da primeira para a terceira fase do estudo, passou de 1,1 ponto percentual para 2,3 pontos.
Segundo os dados da Epicovid, a prevalência do vírus é maior entre os que se declararam indígenas: 5,4%, o quíntuplo da taxa de infecção de brancos (1,1%) e mais que o dobro dos que se dizem pretos (2,5%).
"O percentual da população com anticorpos não diferiu entre homens e mulheres em nenhuma das fases da pesquisa. Da mesma forma, não foi observada uma tendência nítida por idade, confirmando que o risco de infecção não depende da idade", escrevem os pesquisadores. Ressaltam, no entanto, que a doença tende a ser mais severa, assim como a taxa de letalidade, entre os mais velhos.
No estado de São Paulo, segundo dados oficiais, cerca de 74% dos mortos de Covid-19 têm mais de 60 anos; os homens são 58% das vítimas de todas as idades.
Nas casas em que havia uma pessoa com anticorpos para o coronavírus, os demais moradores também foram testados. Dentre essas pessoas, 39% também tiveram testes positivos, indicou a pesquisa.
A prevalência da doença nas cidades estudadas ainda seria relativamente baixa, segundo o estudo Epicovid, de 3,8% em 83 cidades nas quais foi possível entrevistar mais de 200 pessoas nas três fases da pesquisa.
Ainda assim, trata-se de um número seis vezes maior que o de casos oficialmente notificados nesses municípios. Com base nos dados da população de todas as 133 cidades pesquisadas, a taxa de letalidade (número de mortes dividido pelo número de infectados) seria de pouco mais de 1%.
A taxa de infecção para a cidade de São Paulo estimada pela Epicovid é muito diferente daquela obtida por outra pesquisa amostral, realizada pela prefeitura paulistana em meados de junho. Na terceira etapa da Epicovid, a prevalência seria de apenas 1,4%, na terceira etapa (ante mais de 3,3% na primeira). Pelo estudo paulistano, de 9,5%.
Segundo os dados da Epicovid, o número de contaminados na cidade seria então próximo daquele divulgado pelas estatísticas oficiais da doença, os quais costumam registrar apenas os casos de pessoas com sintomas mais evidentes ou doentes que precisam de internação.
Em geral, estudos por amostragem indicam que o número oficial de casos representa um sexto do total de infecções, por vezes bem menos (um nono, na estimativa da prefeitura).
O epidemiologista Pedro Hallal, coordenador da pesquisa, diz que pode ter havido um problema com a amostra paulistana. "Existem diferenças metodológicas importantes. O estudo de São Paulo não incluiu crianças e adolescentes, por exemplo. O tamanho de amostra do estudo de São Paulo é bem maior do que o nosso", diz Hallal, que, no entanto, reconhece que tais diferenças não explicam a disparidade dos números e que o dado da prefeitura está mais próximo da realidade. No estudo da prefeitura, foram examinadas 5.664 pessoas. No estudo Epicovid, 250.
O estudo Epicovid é um teste de uma amostra da população. Na terceira fase, o pesquisadores colheram exames gratuitos de 33.207.
O trabalho é coordenado por Hallal, reitor da Universidade Federal de Pelotas, em colaboração com pesquisadores de Universidade de São Paulo, a Universidade Federal de São Paulo, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a Fundação Getúlio Vargas e a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.