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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Apesar de uma interinidade que já dura mais de dois meses e de o país ter ultrapassado a marca de 80 mil mortos pela Covid-19, a maior parte dos políticos ouvidos pela reportagem nos últimos dias defende o trabalho do general Eduardo Pazuello à frente do Ministério da Saúde, afirmando que, para esse tipo de cargo, é preciso mais ser gestor do que ter especialidade na área.
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Reflexo, em parte, da adesão do centrão ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido), a boa vontade é justificada por esses políticos pela necessidade de que recursos e equipamentos cheguem mais rapidamente a estados e municípios.
Segundo eles, apesar de haver vários problemas e dos números alarmantes da pandemia no país, estaria havendo empenho de Pazuello e de sua equipe (ele levou outros 15 militares da ativa) em ouvir os pleitos dos políticos e fazer a máquina funcionar.
A ressalva feita por alguns é a de que Bolsonaro precisa definir logo quem será o titular. Com exceção da oposição, a maioria criticou a manifestação do ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), de que a militarização de postos de comando na Saúde estaria levando o Exército a se associar a um "genocídio".
Desde o início da pandemia, dois ministros caíram, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, por divergências com Bolsonaro.
O presidente é um crítico contumaz das principais medidas defendidas pelas autoridades sanitárias e a Organização Mundial da Saúde, tendo pregado contra elas em diversas oportunidades.
"Em um momento de uma pandemia como essa, a gente quer que se resolvam as questões. Precisamos que cheguem equipamentos, que chegue material, que se reúna com o Conass [colegiado de secretários de saúde dos estados], com o Conasems [secretários de saúde dos municípios], que tenha uma interlocução clara e rápida. E isso tem ocorrido", afirmou o deputado Antonio Brito (PSD-BA), presidente da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara.
O senador Izalci Lucas (PSDB-DF), que integra comissão do Congresso de acompanhamento das medidas de combate ao coronavírus, tem discurso semelhante."Nem sempre o melhor secretário de Saúde é um médico. Você tem que ter especialiasta para discutir técnica, mas a gestão tem que ser por especialistas em gestão. O Pazuello está fazendo um ótimo trabalho", afirma o senador.
Ele faz algumas ressalvas, entre elas a de que a população acaba sendo prejudicada com a indefinição sobre o titular e a de que se Pazuello ficar, tem que ir para a reserva.
Relator da comissão, o deputado Francisco Jr. (PSD-GO) também diz ser necessário um bom gestor e afirma não ver problema na militarização dos postos de comando da pasta.
"Tenho visto que o ministro [Pazuello] tem conseguido dar resultado, porque ele é especialista em logística. Esse é um momento que é preciso alguém que faça chegar onde precisa, que está sendo o maior drama nosso. Pela comissão a gente vê que tem uma liberação de recursos e uma dificuldade de gastar esses recursos. Uma dificuldade de conseguir fazer que eles se transformem em equipamento, em algo mais efetivo para o combate à pandemia."
Francisco Jr. criticou as afirmações de Gilmar. "Justiça se manifesta nos autos, no processo, não tem opinião política. Isso me preocupou. O que isso colaborou? Na verdade ele fez um julgamento sem prova e sem processo."
Líder da bancada do DEM, partido que ocupa as presidências da Câmara e do Senado, o deputado Efraim Filho (PB) defende, inclusive, a permanência de Pazuello."Vimos o que ocorreu com a saída do Mandetta, que fazia um bom trabalho, e ao alterar o ministro, altera toda a equipe, e se perde um longo tempo de ajuste, tempo que já não dispomos. O que deveria ser feito era focar no trabalho do ministro Pazuello e contribuir com ele e a sua equipe. Pensar menos na política e mais na nação."
Conforme mostrou a coluna Painel, Pazuello também tem apoio quase unânime entre os secretários estaduais da área, que não estavam tão alinhados aos antecessores. Dos 27 secretários das unidades da federação, 17 disseram à coluna que aprovam o trabalho do general.
A avaliação sobre os militares na Saúde encontra tom crítico em ex-aliados de Bolsonaro e na oposição.
"A minha posição é clara: não são as Forças Armadas que assumiram a Saúde. Foi a indicação do presidente da República por um militar que, por acaso, ainda está na ativa. Vejo que na saúde tem que ter alguém que tenha qualificação para o estabelecimento de políticas públicas de saúde", diz o senador Major Olimpio (SP), líder do PSL.
"Ao que me consta, o general Pazuello é um excepcional militar, um especialista em logística e um ótimo cumpridor de ordem. Então o Bolsonaro o deixou ali como interino para não ter um ministro da Saúde, porque ele vai ter dificuldade muito grande para achar alguém que queira rasgar a sua biografia para acompanhar as teses dele sobre isolamento social, contaminação de rebanho e o uso da cloroquina como remédio para todos os males em relação à Covid."
Embora diga não concordar com as palavras usadas por Gilmar, Olimpio afirma que por Pazuello ser da ativa e ter levado 15 pessoas das Forças Armadas para trabalhar com ele, "quer queira, quer não, acaba tendo uma associação com o Exército brasileiro e acaba resvalando".
Lider do PT, o maior partido de oposição a Bolsonaro, o deputado Enio Verri (PR) diz concordar com a avaliação do ministro do STF.
"Entendemos que é genocídio sim. Estão se associando a isso, na medida que estão concordando que um militar, que não é da reserva, esteja ali tomando as providências que ele está tomando e não resolvendo nada", afirma o petista, segundo quem Pazuello não tem autonomia e se submete a ideias de um presidente sem capacidade de gestão ou de formulação de políticas de saúde pública.
Para o líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ), a intensa participação de militares da ativa no governo Bolsonaro começa a criar uma confusão sobre o papel da instituição, que é de estado, não de governo. "Como bem disse o vice-presidente [Hamilton] Mourão no ano passado, as Forças Armadas podem ser associadas ao fracasso deste governo. É ruim pra imagem das Forças Armadas e péssimo pra democracia."
Conforme mostrou o jornal Folha de S.Paulo neste domingo (19), a presença de militares da ativa no governo federal cresceu 33% sob Bolsonaro, mais que dobrando em 20 anos.