EUA mandam fechar consulado chinês, e Pequim prepara retaliação

A China tem 72 horas para cumprir a determinação do governo americano, e os funcionários do consulado devem deixar o prédio até o final da semana

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Mundo EUA-CHINA 23/07/20 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo dos Estados Unidos determinou, nesta quarta-feira (22), o fechamento do consulado da China em Houston, no estado do Texas, em meio à escalada de tensões entre os dois países.

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O Departamento de Estado americano disse que a medida é uma resposta a uma série de ações feitas por Pequim que violaram a soberania dos EUA. Segundo o comunicado da pasta, o objetivo é "proteger a propriedade intelectual americana e as informações privadas dos americanos".

"A República Popular da China se envolve há anos em amplas operações de espionagem ilegal e de operações de influências por todo os Estados Unidos contra autoridades e cidadãos americanos", disse a porta-voz Morgan Ortagus, durante visita do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, a Copenhague, na Dinamarca.

Pompeo tem se reunido nesta semana com líderes da União Europeia exatamente para reforçar os laços com o bloco e garantir o apoio da Europa nos conflitos cada vez mais frequentes com a China. A cada novo pronunciamento ou entrevista a jornalistas, o secretário retoma o discurso de oposição a Pequim.

"Os EUA não vão tolerar qualquer violação da nossa soberania nem intimidação do nosso povo por parte da China, como tampouco toleramos as práticas comerciais injustas, o roubo dos empregos americanos e outros comportamentos", disse Ortagus.

"A Convenção de Viena diz que os diplomatas de Estado devem 'respeitar as leis e as regras do país anfitrião' e 'têm o dever de não interferir nos assuntos internos desse Estado'", acrescentou ela."O presidente Trump insiste na justiça e na reciprocidade em nossas relações com a China."

A China tem 72 horas para cumprir a determinação do governo americano, e os funcionários do consulado devem deixar o prédio até o final da semana. O prazo foi considerado uma "manifestação de pânico" por Hu Xijin, editor do jornal The Global Times, controlado pelo Partido Comunista Chinês.

Na noite desta terça-feira (21), a imprensa de Houston disse que os funcionários do consulado chinês na cidade queimaram documentos no pátio do edifício. Imagens divulgadas por emissoras de TV locais mostraram barris com conteúdo em chamas e pilhas de caixas no local.Bombeiros chegaram inclusive a serem acionados por vizinhos do prédio, mas não puderam entrar no consulado.

Um policial disse à emissora KRPC que há uma ordem de despejo a ser cumprida, na tarde da próxima sexta-feira (24), no prédio do consulado e em um condomínio onde moram vários dos funcionários chineses.

Autoridades de Pequim condenaram o fechamento do consulado, classificado pelos diplomatas como uma "provocação política que viola gravemente o direito internacional".

"A China condena esta decisão escandalosa e injustificada", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Wang Wenbin. Ele pediu que Washington recue na medida e prometeu uma retaliação caso isso não aconteça.

"O fechamento unilateral do consulado geral da China em Houston dentro de um curto período de tempo é uma escalada sem precedentes de suas ações recentes contra a China", disse Wang."Instamos os EUA a revogar imediatamente essa decisão errônea. Se insistir em seguir esse caminho errado, a China reagirá com contramedidas firmes."

Segundo a agência de notícias Reuters, o regime de Xi Jinping está considerando ordenar o fechamento do consulado americano em Wuhan, cidade onde foi confirmado o primeiro caso da Covid-19.

Para Daniel Russel, o principal diplomata dos EUA na Ásia até o início do governo Trump, a medida dos EUA foi dramática e deve reduzir anda mais os canais diplomáticos com a China.

"O prazo abrupto de despejo de 72 horas parece calculado para aumentar o estrago", disse Russel. "E dado que o presidente Trump decidiu concorrer à reeleição [com um discurso] contra a China, parece plausível que esse movimento tenha mais a ver com política do que com propriedade intelectual."

Já o diplomata David Stilwell, secretário assistente dos EUA no Leste da Ásia e do Pacífico, disse que o fechamento do consulado em Houston foi um "passo prático" para impedir os esforços do Exército chinês de aprimorar suas habilidades de guerra.

"O epicentro de todas essas atividades facilitadas pela China é este consulado em Houston", disse Stilwell ao jornal The New York Times. "Ele tem um histórico de envolvimento em comportamento subversivo."

A decisão dos EUA não é inédita. Em 2017, o governo Trump fez o mesmo movimento contra um consulado da Rússia em San Francisco. Na ocasião, o fechamento foi uma retaliação às restrições feitas pelo governo de Vladimir Putin em relação ao número de diplomatas americanos em Moscou.

O fechamento do consulado em Houston, entretanto, tem um peso simbólico importante neste cenário de disputa entre China e EUA.

A unidade, fundada em 1979, foi a primeira a ser estabelecida por Pequim em território americano. Além do Texas, o segundo maior estado do país em extensão territorial, população e participação na economia, a área de cobertura do consulado abrange outros sete estados da região Sul -Oklahoma, Louisiana, Arkansas, Mississippi, Alabama, Geórgia e Flórida- e também Porto Rico.

Com o fechamento, a diplomacia chinesa nos EUA segue representada por outros quatro consulados localizados em Chicago, Los Angeles, Nova York e San Francisco, além da embaixada na capital, Washington. Os americanos, por sua vez, mantêm cinco consulados na China continental -Shenyang, Xangai, Chengdu, Cantão e Wuhan- e um em Hong Kong.

Em comparação, o Brasil possui dez consulados em território americano, além da embaixada.A pandemia do novo coronavírus acirrou ainda mais a Guerra Fria 2.0 entre China e Estados Unidos.

Nesta terça-feira (21), o Departamento de Justiça dos EUA já tinha acusado dois hackers chineses de roubar informações sobre projetos de vacina contra a Covid-19 e de violar a propriedade intelectual de empresas nos EUA e em outros países.

Os americanos, com Donald Trump à frente, passaram meses insinuando que os chineses haviam liberado o novo coronavírus, acidentalmente ou não, de um laboratório em Wuhan.

Já autoridades de Pequim chegaram a afirmar que uma delegação militar americana havia dispersado o patógeno durante competição esportiva na cidade onde a Covid-19 surgiu.

Hoje os EUA são o principal país afetado pela pandemia, com quase 4 milhões de casos, enquanto a China estacionou e conta pouco mais de 85 mil infecções.

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