Evolução do vírus no BR veio a partir de tipos da Europa, EUA e Ásia

O estudo considera como principal conclusão o entendimento de que a pandemia ainda não passou no país e de que não é o momento de afrouxar medidas de proteção

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Brasil CORONAVÍRUS-ESTUDO 28/07/20 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma pesquisa brasileira publicada no último dia 23 na revista científica Science revelou a evolução do coronavírus a partir de três linhagens distintas que se espalharam pelo país pelas vias aérea e terrestre.

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O estudo foi coordenado pela professora Ester Sabino, da Faculdade de Medicina da USP, em colaboração com pesquisadores da Universidade Oxford e de outras instituições.

Os pesquisadores sequenciaram amostras coletadas em 85 municípios de 18 estados entre 5 de março a 30 de abril e chegaram a 490 sequências genéticas distintas, que foram comparadas com os diferentes genomas do vírus encontrados no mundo.

O vírus entrou no país por voos internacionais no final de fevereiro e início de março. Ele é formado por RNA -material genético "primo" do DNA, porém com apenas uma fita- com cerca de 30 mil bases.

Foi possível traçar a origem do coronavírus no Brasil a três cepas distintas com sequência genética muito parecida à encontrada no vírus da Europa (28%) e Estados Unidos (6%), e em uma menor porção às linhagens asiáticas.

O primeiro clado é também o mais abundante no estado de São Paulo (85%) e chegou ao país em 28 de fevereiro. O segundo, mais espalhado por todo o país (34%), possivelmente chegou por via área no Rio de Janeiro em 22 de fevereiro. A última linhagem data do dia 11 de março e é mais comum no Ceará.

Além disso, foram analisados dados de vigilância epidemiológica, como os novos casos de SRAG (síndrome respiratória aguda grave) e de mobilidade humana para investigar a transmissão do vírus.

Com isso, os pesquisadores concluíram que o espalhamento do vírus teve início antes mesmo que as medidas de intervenção disponíveis na falta de medicamentos e vacinas, como fechamento de escolas e comércio e imposição de quarentena fossem efetivadas no Brasil.

Segundo Celso Granato, infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury e um dos autores do estudo, o fechamento dos aeroportos para voos internacionais foi pouco efetivo na contenção da doença porque àquela altura já havia uma circulação interna do vírus.

"Como não houve medidas mais restritivas de isolamento e controle da mobilidade, o vírus continuou se espalhando por via terrestre e aérea, enquanto medidas como isolamento de contaminados e rastreamento de contato teriam ajudado a impedir a disseminação dentro dos estados."

Os pesquisadores localizaram a origem do vírus que causou a pandemia em Manaus: São Paulo. "A medida de restringir os voos domésticos teria ajudado a impedir essa disseminação", diz Granato.Além de identificar as linhagens do coronavírus Sars-CoV-2 presentes no país, os pesquisadores também estimaram a taxa de reprodução do vírus, o R efetivo, relativo a quantas novas pessoas uma pessoa contaminada pode infectar, nas duas maiores cidades: São Paulo e Rio de Janeiro.

No início da pandemia, o valor R0 era 3, ou seja, cada pessoa infectada contaminava outras três. Entre 21 e 31 de março, logo após o início da quarentena, o valor de R0 era consistentemente abaixo de 1. No entanto, a partir de abril essa taxa passou a subir e atingiu um valor de 1,3 em 4 de maio, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, junto com uma queda na taxa de isolamento de 54% para 47%.

A velocidade de disseminação do vírus aumentou consideravelmente a partir do mês de maio, quando o país passou a registrar número de óbitos diários acima de mil.Para Granato, se a restrição tivesse sido mantida em níveis acima de 60% em todo o país, provavelmente a pandemia não teria atingido as proporções encontradas. "A taxa R tenderia a ficar abaixo de 1 e teríamos conseguido controlar a pandemia. A taxa atual, que varia regionalmente de 0,5 a 1,5, não é péssima, mas poderia ser melhor."

Outra conclusão importante foi a determinação de duas ondas distintas de transmissão do vírus. Na primeira fase, a disseminação do coronavírus na população era mais local e dentro dos estados.

Já a segunda foi caracterizada por uma movimentação do vírus por distâncias mais longas e o crescimento da epidemia em outras regiões que não a Sudeste.Ao longo dos seis meses em que a pandemia está em curso no Brasil, a disseminação do vírus foi cinco vezes maior dentro dos estados do que entre os estados. Isso pode explicar, por exemplo, o crescimento acentuado da Covid-19 na Amazônia, onde a pandemia foi mais impactada devido à escassez de serviço de saúde nas cidades ribeirinhas, do que em Santa Catarina.

O estudo considera como principal conclusão o entendimento de que a pandemia ainda não passou no país e de que não é o momento de afrouxar medidas de proteção.

"Não podemos baixar a guarda. Mesmo com a reabertura gradual da economia, as pessoas precisam manter a higiene, o distanciamento individual e a proteção por meio do uso de máscaras. Estamos ainda longe de atingir a imunidade de grupo."

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