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Formatado à revelia do Planalto, o auxílio emergencial de R$ 600 serviu como respiro para o presidente Jair Bolsonaro entre crises sucessivas. Segundo analistas, o benefício ajudou a melhorar a imagem do chefe do Executivo, sobretudo entre os mais pobres, mas precisa chegar ao fim com uma transição suave, sob pena de corroer o capital político que arrecadou.
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Ontem de manhã, Bolsonaro afirmou que "não dá para continuar muito" a liberar o auxílio a trabalhadores informais durante a pandemia do novo coronavírus por causa do impacto da medida na economia. Segundo ele, o benefício custa R$ 50 bilhões mensais. "Começou a pagar a quarta parcela (do auxílio emergencial) e depois tem a quinta. Não dá para continuar muito porque por mês custa R$ 50 bilhões. A economia tem que continuar. E alguns governadores teimam ainda em manter tudo fechado", disse o presidente a apoiadores, ao deixar o Palácio da Alvorada.
"O auxílio emergencial está permitindo uma estabilidade e, especialmente no Nordeste, um crescimento. Mas não podemos dizer, neste instante, que o crescimento é consistente, isto é, que a aprovação vai superar a reprovação. Ainda é cedo", afirma Adriano Oliveira, cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
O Nordeste foi a única região do País em que Bolsonaro perdeu no segundo turno de 2018. Agora, é para onde o presidente direciona agendas com verniz eleitoral. Ele pretende concorrer à reeleição em 2022 e pode usar o auxílio como bandeira.
"Só vai haver ganhos para 2022 se tiver continuidade. Se ficar até dezembro, voltamos para os parâmetros anteriores. À medida que o benefício é retirado, a avaliação pode flutuar", diz Ricardo Ismael, cientista político e professor da PUC-Rio. "Bolsonaro ainda tem rejeição no Nordeste, região ligada ao PT, grata ao ex-presidente Lula. Mas ele começa a falar para esse eleitor."
Como o Estadão mostrou, o governo estuda estender o auxílio emergencial, destinado a trabalhadores informais, desempregados e beneficiários do Bolsa Família, até o fim de 2020. Uma das opções seria pagar R$ 200 por mês, um terço do valor atual. "Claro que foi o Congresso (o responsável pelo auxílio), mas o presidente tinha o poder de vetar e não vetou", disse o deputado Júlio Cesar (PSD-PI), coordenador da bancada nordestina na Câmara.
Prorrogação
Os estudos governamentais para prorrogação do auxílio até dezembro dão sentido às análises. Mas a substituição do benefício emergencial por um novo programa social, batizado de Renda Brasil, é um "grande nó" no governo. Há dúvidas sobre a possibilidade de o programa pretendido como substituto do Bolsa Família sair do papel até o fim do ano.
Coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC-MG, Robson Sávio Reis Souza avalia que o presidente pode ser ajudado por um sentimento de gratidão à autorização do auxílio, estimulado também pelo segmento dos neopentecostais.
"É um fato importante a ser considerado. Um outro é que o governo quer mudar não somente o nome do Bolsa Família, mas agregar outras políticas ao novo benefício. Não diria que teremos uma mudança completa no perfil do eleitorado, de lulista para bolsonarista, mas pode significar a construção de uma base para o presidente nos segmentos mais pobres", disse.
Adversário de Bolsonaro, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), vê melhora na aprovação do presidente em sua região, mas a classifica como momentânea. Segundo ele, Bolsonaro enfrenta legados de programas assistenciais do ex-presidente Lula na região e dificuldades para imprimir um ritmo próprio. "Até agora, Bolsonaro tem um auxílio emergencial temporário. Eu diria que (a melhora na aprovação) é uma situação momentânea. Muito provavelmente ele deve tentar algum tipo de prorrogação. Mesmo com essa perenização, não é suficiente", disse o governador.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.