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RECIFE, PE (FOLHAPRESS) - Com base em relatos de estupros e terror psicológico prestados por um grupo de 14 mulheres, o Ministério Público da Bahia instaurou procedimento para investigar um líder espiritual com atuação no estado.
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Ex-grão-mestre de uma loja maçônica, Jair Tércio de Souza, 63, responsável por realização de retiros espirituais, é acusado de usar uma autoproclamada superioridade religiosa para cometer crimes. Ele, segundo as denúncias, também teria abusado sexualmente de adolescentes. O caso foi revelado pelo programa Fantástico, da Rede Globo, no dia 2. Deste então, o Ministério Público da Bahia tem tomado o depoimento de possíveis novas vítimas. A quantidade de mulheres não foi informada.
O órgão, por meio da assessoria de comunicação, informou que só vai se pronunciar sobre o assunto quando todo o processo estiver concluído. Em entrevista à Folha de S.Paulo, a pedagoga e mergulhadora profissional Tatiana Badaró relatou uma rotina de abusos sexuais e pressão psicológica entre os anos de 2002 e 2014. Ela disse que procurou amparo espiritual após engravidar aos 16 anos. "Até os 21 anos, sofria terror psicológico. Ele conseguia destruir minha identidade e se colocava como o salvador que iria me reconstruir", diz. De acordo com Tatiana, os estupros ocorreram dos 21 aos 28 anos. Na primeira vez, segundo o relato, ele teria pedido para ela ir até a casa dele porque precisava preparar palestras.
Tatiana conta que Jair Tércio pediu que ela tirasse a roupa porque estava impregnada de energia ruim da rua. Ao penetrá-la, conforme o relato, o suposto líder religioso afirmava que precisava colocar a energia espiritual dentro dela. "Falava que era um ritual de cura, que era algo sagrado", disse.
A defesa de Jair Tércio alega que ele teve relacionamentos amorosos consensuais e que em nenhum momento houve qualquer tipo de violência psicológica ou física a ensejar qualquer tipo de estupro ou importunação.
A pedagoga afirma que tentou denunciá-lo nos anos de 2015, 2017 e 2018 em delegacias localizadas em Salvador e em Florianópolis. "Em Salvador, informaram que não havia provas.Em Florianópolis, disseram que eu teria que registrar o caso na Bahia."
Segundo Tatiana, a pressão psicológica exercida era tão grande que ela se formou em pedagogia por conta de Jair Tércio. "Eu sempre quis fazer medicina, mas ele dizia que eu não podia confiar na minha mente, que minhas escolhas seriam erradas", afirma.
Depois de conseguir romper o silêncio, Tatiana, agora, vai tentar cursar medicina.
Havia também, segundo a mulher, ameaças veladas.
De acordo com ela, o homem relatava que a entidade espiritual a castigaria se fossem feitas revelações.
A promotora do Ministério Público da Bahia Sara Gama afirmou que há uma correlação entre os depoimentos. "Todas o tinham como um líder, uma pessoa iluminada ou alguém respeitável. Há uma linha. São depoimentos bem parecidos", explicou.
Ela destacou que até o momento há indícios de autoria e materialidade dos fatos provados através de laudos. "Precisamos ter bom senso. Temos uma investigação sigilosa. Ninguém está pré-julgando ninguém. Estamos seguindo rigorosamente a lei", avaliou.
O advogado Tiago Bastos, que representa três das 14 mulheres que fizeram a denúncia, diz que os relatos se repetem. "Sabemos que é um longo processo, mas temos esperança. Até o momento, temos os depoimentos das vítimas. São relatos de pessoas que não se conhecem e eles se repetem", comenta.
As denúncias das mulheres chegaram até o Ministério Público da Bahia a partir da ouvidoria do Conselho Nacional do Ministério Público e do projeto Justiceiras, nascido durante a pandemia do novo coronavírus para acolher mulheres vítimas de violência doméstica.
Após tomar conhecimento das denúncias, a Grande Loja Maçônica da Bahia suspendeu os direitos maçônicos de Jair Tércio e instaurou um processo de sindicância para apurar a conduta dele.