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CARAPICUÍBA, SP, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na casa de Alenice Maria Tigre, 40, e Gezuino de Abreu Tigre, 46, o dinheiro do auxílio emergencial tem sido a única fonte de renda garantida.
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O casal de autônomos vive com o filho de três anos em uma casa na comunidade da Travessa Bootes, no Novo Horizonte, bairro de Carapicuíba, na Grande São Paulo.
Gezuino é jardineiro e conserta máquinas; Alenice, diarista e cabeleireira. Para eles, o futuro a curto prazo sem repasse dos R$ 600 é fonte de preocupação, já que ambos ainda não conseguiram voltar a trabalhar como antes da pandemia.
"Temos medo de perder o auxílio, porque não estamos trabalhando. Por enquanto a gente está dependendo dele", diz ela. "Quando aparece um bico, a gente faz. Mas apenas bico."
O casal e outros 66 milhões de trabalhadores informais que contam com o benefício acompanham, de longe e com apreensão, as indefinições sobre a prorrogação e o valor do auxílio emergencial e a piora no mercado de trabalho.
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes (Economia) e lideranças do Congresso não chegam a um consenso, o desemprego segue aumentando. Na sexta-feira (27), a Pnad-Covid, pesquisa do IBGE que busca dimensionar a situação do trabalho no país durante a pandemia, indicou que o desemprego avançou em 11 estados no segundo trimestre deste ano.
Já são 12,8 milhões de desempregados que buscam trabalho e não encontram. Outros 5,7 milhões são qualificados como desalentados, que não buscam emprego porque acreditam que não vão encontrá-lo.
Na avaliação de especialistas, o governo não tem margem para suspender o auxílio emergencial agora, e a leitura é que os próprios técnicos que analisam o benefício constataram sua importância há algum tempo.
Um estudo da SPE (Secretaria de Política Econômica), divulgado em julho pelo Ministério da Economia, apontou que o auxílio emergencial de R$ 600 foi a principal fonte de renda de 93% dos domicílios mais pobres do país e conseguiu elevar o padrão de vida em 23 milhões de residências.
O texto do levantamento diz que o benefício teve um impacto significativo entre os domicílios de baixa renda per capita, onde os efeitos da pandemia da Covid-19 foram mais graves.
Os próprios beneficiários afirmam que os R$ 600, mesmo não suprindo todas as necessidades, se tornaram essenciais para que possam resistir à crise, que ainda não chegou ao fim para muitos e está apenas no começo para outros.
Mariana de Oliveira Menezes, 23, por exemplo, perdeu o emprego, em abril, na secretaria da universidade onde atuava. Moradora do Grajaú, na zona sul de São Paulo, não encontra oportunidades na sua área de atuação e recorreu ao auxílio emergencial para arcar com suas responsabilidades financeiras.
"Seiscentos reais não dão conta de tudo, mas não saber se o auxílio vai ter continuidade ou não é ainda mais desesperador", diz.
Mariana vive com os pais e um irmão. Para tentar manter a ren- da, abriu um brechó de roupas online e planeja com a família investir em um delivery de lanches na região do Grajaú.
"Tento dar meus 'pulos' para não ter que depender só do auxílio ou esperar por uma oportunidade de emprego que não sei quando vai surgir. Eu tenho procurado algo na minha área, mas, infelizmente, não tem dado certo."
O destino dos R$ 600 foi tema de uma das pesquisas feitas pelo Instituto Data Favela, parceria do Instituto Locomotiva com a Cufa (Central Única das Favelas). A compra de alimentos foi o principal uso do valor, com 95%. Na sequência, aparecem os produtos de higiene (91%), limpeza (90%), pagamento de contas básicas (80%) e remédios (77%).
Mas o estudo também apurou que 56% dos moradores de favelas brasileiras que receberam o auxílio emergencial compartilharam o recurso com familiares e amigos que precisavam de ajuda.
Morador de Sapopemba, na zona leste da capital, Robson Aparecido, 37, ficou desempregado na pandemia e passou a ser motorista de aplicativos para sustentar as três filhas e a esposa. Mas a fonte de renda garantida da família hoje é o auxílio emergencial.
"Esse dinheiro tem sido a única certeza em casa para quitar dívidas que não param de chegar", afirma Aparecido.
Apesar da situação em que vive, o valor conseguido por ele foi compartilhado entre parentes, que também estavam sem emprego e precisaram de ajuda.
"Acabei dividindo o valor com meus irmãos que não conseguiram pegar o auxílio e, assim, a gente passou esses meses tendo o que comer na mesa."
O vendedor Ítalo Almeida, 24, fazia faculdade de administração e trabalhava como garçom até a pandemia. Demitido e sem condições de manter o curso, conseguiu o benefício.
No entanto, o valor não é suficiente para manter ele e a mãe, que deixou de ter renda. Diarista com 65 anos, ela atuava em casas no centro da capital, mas o isolamento fez com que fosse dispensada.
Para tentar alguma renda, ela começou a vender salgados na garagem de casa e ele passou a comercializar máscaras. Agora, de segunda a sábado, ocupa um dos portões de um mercado em Guaianases, no extremo leste, e oferece máscaras de pano para quem passa pelo local.
"Aqui é uma por R$ 5 e três saem por R$ 10. Não consigo muita grana não, mas é alguma coisa que complementa outras coisas que surgem e a gente vai levando", afirma Ítalo.
"Se está ruim com o auxílio, imagina sem. Não foi só minha família que pegou fila por esse valor, mas muita gente. Acho que o governo não entendeu que a gente está precisando."
Nem todos os informais e desempregados, no entanto, conseguiram acesso ao benefício. Em Itaquera, na zona leste, Elvis da Silva, 27, não teve o cadastro aprovado e segue tendo como única fonte de renda a vende máscaras na região central do bairro.