Apuração sobre governador aponta propina no Judiciário

Para a PGR (Procuradoria-Geral da República), o governador fluminense tentou incluir a Secretaria de Saúde num esquema pré-existente no TRT-1 (Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região)

© null

Política JUSTIÇA-RIO 30/08/20 POR Folhapress

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A investigação que afastou do cargo o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), obteve indícios de um suposto esquema de propina paga a desembargadores da Justiça do Trabalho no Rio de Janeiro.

PUB

 

Para a PGR (Procuradoria-Geral da República), o governador fluminense tentou incluir a Secretaria de Saúde num esquema pré-existente no TRT-1 (Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região).

O esquema, que acabou não se concretizando no estado, seria mais um braço de propina a ser explorada por Witzel, segundo a Procuradoria.

O governador foi afastado na sexta-feira (28) pelo ministro Benedito Gonçalves, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), sob acusação de corrupção e lavagem de dinheiro. A medida vale por 180 dias e pode ser ampliada.

O elo entre o governo fluminense e o tribunal foi, segundo a PGR, o desembargador Marcos Pinto da Cruz.

O nome do magistrado apareceu no inquérito a partir da delação do ex-secretário de Saúde Edmar Santos. Segundo ele, o magistrado o procurou para que a pasta pagasse diretamente à Justiça dívidas trabalhistas de OSs (organizações sociais) que tinham valores a receber do governo.

Essa medida agilizaria, de uma vez só, o pagamento de dívidas das entidades na Justiça e o recebimento de "restos a pagar" do estado.

"Para a OS, ingressar no esquema criminoso seria vantajoso, pois seria uma oportunidade de receber do estado os valores a título de restos a pagar, o que, em geral, é bastante dificultoso, bem como, com sua inclusão no Plano Especial de Execução na Justiça do Trabalho, poderiam obter a certidão negativa de débitos trabalhistas", escreveu a PGR.

De acordo com o depoimento de Edmar, as entidades deveriam contratar um escritório de advocacia que se comprometesse a repassar a propina para a firma da irmã do desembargador, a advogada Eduarda Pinto da Cruz.

O ex-secretário afirma que receberia 10% dos valores a serem pagos à Justiça em nome das empresas, e o desembargador ficaria com outros 10%. O magistrado disse, segundo o delator, que se encarregaria de repassar parte da propina ao governador afastado.

O ex-secretário disse aos investigadores que não conseguiu arregimentar entidades para participar do esquema, pois houve divergência sobre a divisão da propina com o presidente nacional do PSC (Partido Social Cristão), Pastor Everaldo.

A PGR afirma que o dirigente era um dos coordenadores do esquema de corrupção no estado. O pastor, que disputou a Presidência da República em 2014 e já foi próximo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), foi preso na operação de sexta.

Edmar relatou ter sido cobrado por Witzel sobre o atraso no acordo. O desembargador também o pressionou, afirmando que o governador afastado teria direito a parte do valor arrecadado ilegalmente, disse o ex-secretário.

Os investigadores dizem que o relato do delator foi em parte corroborado pelos registros de acessos ao Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador. O livro mostra que o desembargador se encontrou com Witzel em setembro e outubro -mesmo período descrito pelo ex-secretário como sendo o de debate da propina.

Neste último mês, estiveram no mesmo horário no palácio, além do magistrado, Pastor Everaldo e Cleiton Rodrigues, à época secretário estadual de Governo. O acordo ilegal, contudo, acabou não se concretizando.

De acordo com a PGR, a investigação mostrou indícios de que esse esquema está em vigor desde 2018.

Segundo os investigadores, o escritório da irmã de Cruz recebeu R$ 795 mil da empresa Atrio Rio de junho de 2018 a janeiro de 2019. Em julho de 2018, a empresa foi incluída no programa que suspendia as execuções e penhoras decorrentes de dívidas trabalhistas.

No mesmo período, afirma a PGR, o Coaf (órgão de inteligência financeira) detectou movimentações atípicas na conta bancária do desembargador. Ele recebeu R$ 1 milhão da irmã e sacou R$ 675 mil. Para justificar ao banco as retiradas, afirmou que queria guardar dinheiro em casa.

A Atrio Rio é ligada à família de Mário Peixoto, empresário que aparece em investigações como outro coordenador do esquema de corrupção na gestão Witzel.

A PGR também apontou indícios de envolvimento do desembargador Fernando Zorzenon da Silva, ex-presidente do TRT-1, no esquema de suspensão de execuções e penhoras.

O escritório de Marcello Zorzenon da Silva, filho do magistrado, recebeu R$ 360 mil de um grupo empresarial beneficiado por decisão do pai em novembro de 2018, segundo a Procuradoria.

A assessoria de imprensa do TRT-1 disse que não conseguiu contato com Cruz.

Advogado, Marcos Pinto da Cruz assumiu a cadeira de desembargador em setembro de 2017, na vaga do tribunal reservada à advocacia. Sua posse foi conduzida por Fernando Zorzenon da Silva, à época presidente. O site do TRT-1 registrou que ele se referiu a Cruz, na ocasião, como um amigo de longa data.

Em nota, a presidência da corte declarou que "não foi oficialmente comunicada nem demandada pelas autoridades públicas para o fornecimento de quaisquer informações visando à instrução de investigações em curso no Ministério Público Federal".

"A presidência do TRT-RJ informa ainda que a administração do tribunal está à disposição das autoridades competentes para colaboração com as investigações em qualquer fase, assegurando seu total interesse no esclarecimento dos fatos", disse a corte, em nota.

O advogado Marcelo Zorzenon afirmou que, na noite de sexta-feira, estava tomando ciência "desta grave e infundada denúncia". "Me manifestarei tão logo seja formalmente instado pelo poder público", disse ele.

O advogado mostrou uma correção do Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho alterando a assinatura do ato do tribunal que beneficiou o grupo de seu cliente. A publicação retira o nome de seu pai, o desembargador Zorzenon, e inclui o da vice-presidente Rosana Travesedo.

"Essa é a prova de como a denúncia é vazia e infundada", disse o advogado.

A Folha de S.Paulo não conseguiu contato com os desembargadores citados e a advogada Eduarda Cruz.

Witzel negou ter atuado em esquema de corrupção e afirmou ser vítima de uma perseguição política da PGR para beneficiar o presidente Jair Bolsonaro.

O governador disse à imprensa na sexta-feira que está sendo "massacrado politicamente" porque há interesses poderosos que não o querem governando o estado.

"Minha indignação é a de um cidadão que está aqui com o compromisso de governar o estado, reduzir os índices de criminalidade, enfrentando todas as dificuldades. Querem me tirar do governo, organizações criminosas estão perdendo dinheiro", afirmou o governador afastado.

A denúncia apresentada pela PGR contra Witzel ocorreu na esteira da homologação do acordo de colaboração premiada do ex-secretário de Saúde Edmar Santos, solto no início do mês.

"Reafirmo que não tenho medo de delação, porque a delação desse canalha do Edmar é mentirosa. Foi pego com a boca na botija", afirmou o governador afastado.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

politica Polícia Federal Há 19 Horas

Bolsonaro pode ser preso por plano de golpe? Entenda

fama Harry e Meghan Markle Há 11 Horas

Harry e Meghan Markle deram início ao divórcio? O que se sabe até agora

fama MAIDÊ-MAHL Há 20 Horas

Polícia encerra inquérito sobre Maidê Mahl; atriz continua internada

justica Itaúna Há 19 Horas

Homem branco oferece R$ 10 para agredir homem negro com cintadas em MG

economia Carrefour Há 17 Horas

Se não serve ao francês, não vai servir aos brasileiros, diz Fávaro, sobre decisão do Carrefour

economia LEILÃO-RECEITA Há 17 Horas

Leilão da Receita tem iPhones 14 Pro Max por R$ 800 e lote com R$ 2 milhões em relógios

brasil São Paulo Há 19 Horas

Menina de 6 anos é atropelada e arrastada por carro em SP; condutor fugiu

fama LUAN-SANTANA Há 19 Horas

Luan Santana e Jade Magalhães revelam nome da filha e planejam casamento

politica Investigação Há 11 Horas

Bolsonaro liderou, e Braga Netto foi principal arquiteto do golpe, diz PF

mundo País de Gales Há 18 Horas

Jovem milionário mata o melhor amigo em ataque planejado no Reino Unido