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Após enfrentar ministros militares e ser repreendido pelo vice-presidente Hamilton Mourão, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ganhou o apoio em público dos filhos de Jair Bolsonaro e alguns deputados aliados. Reservadamente, o presidente Bolsonaro também sinalizou em conversa com o ministro que o assunto que causou o mal-estar no governo no fim da semana passada está superado e não deverá ter consequências.
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Na última sexta-feira, Salles anunciou que paralisaria 100% o combate ao desmatamento na Amazônia e no Pantanal após bloqueio de verbas feito pelo Ministério da Economia a pedido da Casa Civil, comandada pelo general Walter Braga Netto, e pela Secretaria de Governo, por Luiz Eduardo Ramos. Com a ameaça, conseguiu reverter em menos de três a horas a decisão, mas integrantes do governo avaliaram que Salles colocou o seu futuro em risco ao confrontar dois dos ministros mais fortes do governo.
A partir de então, aliados de Salles articularam uma defesa do ministro no governo e nas redes sociais. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) republicou no Twitter um vídeo com ações do Ministério do Meio Ambiente com elogio à atuação de Salles, que agradeceu ao filho "Zero Três" do presidente.
Já o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o "Zero Dois", não citou diretamente Salles, mas escreveu que ministros com "posicionamento firme" são alvos da reunião do dia 22 de abril, cujo conteúdo foi divulgado após o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, que acusa o presidente de tentar interferir na Polícia Federal. Naquele dia, Salles falou em "passar a boiada" e "mudar regras" ambientais durante a pandemia. Criticado, o ministro alega que falava em "simplificação de normas" dentro da lei.
"Todos os ministros que têm posicionamento firme foram ou são os principais alvos da reunião que morno vazou. A continuidade de tais ataques não é por acaso. Algo me diz que a imprensa é apenas o meio! Tem método, ozônio, prudência, sofisticação, socialismo e liberdade", escreveu Carlos Bolsonaro. Salles retuitou com a frase "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".
Na operação de blindagem de Salles, deputados bolsonaristas como Bia Kicis (PSL-SP), Filipe Barros (PSL- PR) e Carla Zambelli (PSL-SP) postaram a hashtag #SomosTodosRicardoSalles. O termo não chegou a ficar entre os mais comentados da rede social, mas o ministro agradeceu.
"O trabalho que o ministro Ricardo Salles vem fazendo é de primeira qualidade, enfrentando gigantes que aparelhos movimentos escusos. Ricardo, saiba do nosso apoio", escreveu, por exemplo Zambelli.
Divergências
Apesar do apoio de bolsonaristas no final de semana, as divergências na questão ambiental seguem em aberto e reserva novos capítulos na disputa. Na segunda-feira, 31, o vice-presidente Mourão, que coordena o Conselho da Amazônia, voltou a criticar a postura de Salles, dizendo que ele foi precipitado em divulgar a nota sem antes falar com ele.
"Ele poderia primeiro ter falado comigo uma vez que afetava a questão da Amazônia, não era uma questão que afetasse única e exclusivamente o ministério dele. Eu teria conversado com a área econômica para suspender um eventual bloqueio de recursos na área do Meio Ambiente", disse. "Não ficou bom. A gente conversando não levaria estresses ao ponto que foi levado", completou Mourão.
Não é de agora que a relação do titular do Meio Ambiente com os militares é conflituosa. Em junho, conforme o Estadão mostrou, o ministro Ricardo Salles se tornou alvo de uma fritura atribuída justamente aos integrantes do governo egressos do Exército.
O argumento é que a condução da política ambiental do ministro era um empecilho para fechar acordos comerciais. Um grupo chegou a defender que Salles ficasse de fora das reuniões do Conselho da Amazônia, promovidas por Mourão.
Recursos
Mesmo após a reclamação de Salles, o Meio Ambiente perderá 4,57% de recursos no próximo ano, segundo projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA) encaminhada pelo governo ao Congresso na segunda-feira. Passará de R$ 3,085 bilhões em 2020 para R$ 2,944 bilhões em 2021. Pela proposta, o Ministério da Defesa, que tem atuado nas operações de combate às queimadas na Amazônia, passará de R$ 114.622 bilhões neste ano para R$ 116.127 bilhões em 2021, um aumento de 1,3%.