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Os dados da Federação Nacional das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) sobre o desenvolvimento municipal mostram um país dividido. As regiões Norte e Nordeste tinham, em 2013, quase 70% dos municípios com desenvolvimento regular ou baixo. No Sul, por sua vez, 96,8% das cidades têm desenvolvimento alto ou moderado, enquanto no Sudeste esse porcentual é de 91,5%. A avaliação inclui aspectos econômicos, educacionais e de saúde.
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"Os indicadores são muito díspares. Norte e Nordeste ainda são muito carentes", nota a pesquisadora Tatiana Sanchez, chefe da Divisão de Pesquisa e Estatística da Firjan. "Mesmo entre eles existe diferença no desenvolvimento. O Norte apresenta vantagens conjunturais, em emprego e renda, mas há carência nas áreas sociais. Já o Nordeste vai melhor no social, em detrimento de emprego e renda."
A edição do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) de 2013 ainda mostrou aprofundamento da desigualdade entre as regiões, segundo Tatiana. Entre os 500 piores municípios dos 5.517 listados, 97,4% são do Norte e do Nordeste - 178 cidades, ou 35,6% do grupo, estão na Bahia.
Por outro lado, 92,6% dos 500 municípios mais bem colocados no ranking são do Sul e do Sudeste. Quase metade (215 cidades, ou 43% do grupo) está no Estado de São Paulo.
"Os resultados regionais ratificam um pouco os resultados gerais. O desenvolvimento é a redução das desigualdades entre as regiões do País. Vemos o Sudeste com condições de vida muito avançadas, que se assemelham a padrões internacionais. O desafio é trazer Norte e Nordeste para esse padrão", afirma o pesquisador Guilherme Mercês, gerente de Ambiente de Negócios e Infraestrutura da Firjan.
"O ano de 2013 estancou esse desenvolvimento. A desigualdade aumentou, revertendo movimento visto nos últimos anos de aproximação entre as regiões", acrescentou o gerente.
São Paulo
São Paulo é o Estado com a maior parcela de municípios com desenvolvimento alto ou moderado: 99,8%. Do top 100 nacional, mais da metade (56) são municípios paulistas. Segundo a Firjan, quase todos têm alto ou moderado desempenho em saúde e 97,5% têm alto desenvolvimento em educação. Por outro lado, quase dois terços dos municípios registraram piora na área de emprego e renda em 2013.
Na capital, houve retração de 0,3% no IFDM devido à menor geração de emprego e renda no setor formal. Com isso, São Paulo recuou quatro colocações no ranking estadual e agora está na 56ª posição.
Emprego e Renda
O desenvolvimento dos municípios brasileiros estagnou em 2013, graças ao retrocesso verificado na área de emprego e renda, que anulou as melhorias observadas nos campos da saúde e da educação. O IFDM avançou 0,2% na comparação com 2012, o menor crescimento já verificado na série do indicador, iniciada em 2005.
Em 2013, o desenvolvimento em educação melhorou 2,8%, enquanto na saúde a alta foi de 1,9% ante 2012. Mas esses resultados não foram páreos para o tombo de 4,3% observado no índice de emprego e renda. Como os três têm o mesmo peso no IFDM, houve a estagnação.
Pesquisadores da Firjan atentam para o risco de que a deterioração econômica comprometa os ganhos sociais obtidos na última década. Estimativas preliminares da entidade a partir de dados já conhecidos mostram que o índice de emprego e renda teve queda de 4,9% em 2014 e será seguido por um recuo impressionante de 22,1% neste ano. O fechamento de mais de um milhão de postos formais e a queda real na renda média devem pesar para o resultado.
"Vamos retroceder sete anos em termos de mercado de trabalho com o resultado de 2014. Em 2015, o recuo será de pelo menos dez anos. Começamos a ter preocupação em relação ao futuro, não só econômico, que vai ser difícil. Nos perguntamos se a crise não está colocando em risco os avanços sociais", diz o pesquisador Guilherme Mercês.
Os ganhos obtidos na área econômica durante a última década permitiram que a capacidade de investimento em políticas públicas de saúde e educação per capita aumentasse 80% entre 2005 e 2013, segundo dados do Tesouro Nacional citados pela Firjan. Apenas no ano de 2013, porém, esse indicador ficou estagnado (0,0%). Em 2014, a despeito da reação, a alta real de 3,9% ficou bastante aquém da média dos últimos anos.
"Economia e políticas públicas são ligadas pelo cordão umbilical. A expansão da economia é o que gera recursos para as políticas públicas, seja via arrecadação própria ou via transferências. Na medida em que a economia desacelera, os recursos disponíveis também diminuem bastante", explicou Mercês. "Num cenário econômico com queda de PIB e mercado de trabalho em um dos piores momentos, é quase impossível não ligar sinal de alerta e perceber que a crise coloca em xeque continuidade dos avanços sociais que vimos nos últimos anos."
Piora generalizada
O indicador de emprego e renda avalia variáveis como geração de emprego formal, absorção de mão de obra local, geração de renda e salário médio, além da desigualdade. Segundo a Firjan, o quesito piorou em 55,4% das cidades, movimento que se espalhou por todas as cinco regiões do País. A deterioração não poupou sequer localidades onde o mercado de trabalho já apresentava baixo desenvolvimento.
"O interessante é que analisamos emprego e renda, e os dois pioraram. Houve redução de geração de empregos em grandes centros urbanos e uma desaceleração da renda no interior. Isso foi tão significativo que estamos no menor nível (do índice) desde 2009, quando houve a crise", observa Tatiana Sanchez.
A expectativa da entidade é de que esse movimento deve continuar e até se intensificar, à medida que os pequenos municípios passem também a demitir, enquanto os grandes centros não resistirão a um ajuste na renda dos trabalhadores.
Em uma mostra de que a piora já chegou às grandes cidades, oito capitais ficaram na lista de cidades com alto desenvolvimento - duas a menos do que no ano anterior. Deixaram esse seleto grupo Cuiabá e Palmas, que tiveram quedas de 6,3% e 15,6% no indicador de emprego e renda, respectivamente. Com informações do Estadão Conteúdo.