Leilão com chefs renomados apoia vítimas de explosão em Beirute

As doações têm pequena escala se comparadas às perdas bilionárias no Líbano, mas fortalecem esforços individuais em um momento de descrença na classe política do país

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Mundo Líbano 13/09/20 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Marcado para terminar neste domingo (13), o leilão online de três dias Ask Chefs Anything Beirut (pergunte o que quiser aos chefs, em inglês) tem a meta de arrecadar US$ 30 mil (R$ 158 mil) para reparar casas, oferecer refeições e ajuda médica e psicológica a vítimas da explosão que atingiu Beirute, a capital libanesa, no início de agosto.

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A particularidade do projeto, que nasceu nos EUA em apoio a trabalhadores imigrantes atingidos pela crise da Covid-19, é que os lances não disputam obras de arte ou rótulos premiados de vinho, mas o tempo de personalidades gastronômicas –cada uma vai passar 30 minutos em uma videoconferência com o vencedor de seu leilão, que tem lances individuais.

As doações têm pequena escala se comparadas às perdas bilionárias no Líbano, mas fortalecem esforços individuais em um momento de descrença na classe política do país. Até as 19h (horário de Brasília) é possível fazer lances em 32auctions.com/askchefsanythingbeirut.

A edição libanesa do projeto tem quase cem voluntários, entre eles chefs do topo da lista 50 Best, que classifica os melhores restaurantes do mundo, como o italiano Massimo Bottura, da Osteria Francescana, e o mexicano Enrique Olvera, do Pujol. Até o temido crítico François Simon, que já assinou textos nos jornais franceses Le Figaro e Le Monde, faz parte da empreitada.

"Vamos falar ou cozinhar. O que a pessoa quiser fazer dentro deste limite de 30 minutos, estamos felizes em fazer juntos", diz Anissa Helou, também participante do evento virtual e uma das mais respeitadas pesquisadoras da cozinha do Oriente Médio no mundo.

Helou tem familiaridade com os dois universos: nascida no Líbano, ela foi representante da Sotheby's, empresa de leilões. Mas abandonou uma carreira dedicada a artes plásticas em Londres para se voltar à comida.

Uma das motivações para a mudança foi a falta de publicações sobre a cozinha de sua terra natal –e de muitos outros libaneses que passaram a viver fora do país devido à guerra civil (1975-1990) no país. Daí surgiu "Lebanese Cuisine" (204 págs.; ed. Grub Street), o primeiro de nove livros.

"Comida é uma coisa que continua com você onde você for, é cultura e te reconecta com o lugar de onde você veio e com as pessoas que vivem nesse lugar", diz ela que, como outros libaneses que vivem fora do país, acompanhou com angústia a explosão na região portuária que destruiu metade da capital do país no início de agosto.

"Quando via a área que conheço tão bem, onde muitos amigos moram, completamente destruída, entrei em choque. Passado mais de um mês, ainda não acredito que isso aconteceu. Diferentemente da guerra civil, esse foi um caso de má administração, uma tragédia completamente evitável", diz Helou.

Assim como muitos libaneses, ela espera que a onda de protestos que derrubou o agora ex-primeiro-ministro Hassan Diab possa pressionar por uma renovação política. "Mas quem está no poder não vai desistir facilmente, porque eles consideram o país uma fonte de dinheiro."

Agora, a pesquisadora diz ouvir de amigos que a cidade é um lugar onde há pedaços de vidros quebrados por toda a parte –e isso inclui os restaurantes, que, antes da explosão, já haviam sido afetados pela crise da Covid-19.

Helou afirma acreditar que a cena gastronômica da cidade vai ser duramente afetada, assim como o turismo. "A área onde fica o porto funciona como a entrada da cidade, é uma região muito próxima a bairros cheios de restaurantes, bares, galerias de arte e lojas de livro. Muitos deles foram dizimados ou seriamente danificados", afirma.

Seu último livro, "Feast: Food of the Islamic World" (544 págs.; ed. Ecco), um calhamaço de mais de 500 páginas, foi lançado em 2018 com a ideia de apresentar uma imagem positiva do Oriente Médio e do povo muçulmano em um momento em que atentados como os promovidos pelo Estado Islâmico em Paris, nos quais foram mortos ao menos 130 pessoas, ainda estavam frescos no mundo.

"Gostaria de fazer o que puder para ajudar o Líbano, mas não sou uma ativista. Meus livros e minha escrita são o meu ativismo", diz.

"O governo atual e como as coisas vêm sendo administradas são o problema. E a explosão é uma ilustração muito triste disso", diz.

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