Anticorpos contra Covid-19 continuam em alta 5 meses após infecção, diz novo estudo

O novo estudo, publicado na tarde de hoje, analisou dados de 30.082 pessoas que tinham sido examinadas no complexo de saúde Mount Sinai, em Nova York.

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Mundo CORONAVÍRUS-ESTUDO 28/10/20 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dois dias depois de pesquisadores do Imperial College de Londres anunciarem que os níveis de anticorpos contra a Covid-19 caem três meses após a infecção pelo novo coronavírus, uma nova pesquisa, publicada na prestigiosa revista Science, mostra que a resposta imune continua robusta por pelo menos cinco meses.

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O artigo do Imperial College ainda está em pré-print, ou seja, não teve revisão por pares. Já o estudo na Science passou pela avaliação rigorosa de outros cientistas da área.

O novo estudo, publicado na tarde desta quarta-feira (28), analisou dados de 30.082 pessoas que tinham sido examinadas no complexo de saúde Mount Sinai, em Nova York, nos Estados Unidos.

Segundo os pesquisadores, a maior parte dos pacientes que tiveram Covid-19 leve ou moderada mantém níveis detectáveis de anticorpos, e os valores encontrados permanecem estáveis meses após a infecção.

Os autores olharam especificamente para os anticorpos IgG (imunoglobulina G, associada à defesa de memória e que aparece depois, com o paciente recuperado), observando a resposta imune em relação à proteína spike (a estrutura usada pelo vírus para se ligar às células humanas).

O método usado para detecção de anticorpos tinha elevada sensibilidade, superior a 90%, e especificidade de 100%.

Com os dados das mais de 30 mil pessoas em mãos, os pesquisadores verificaram que a maioria dos infectados com a Covid-19 desenvolveu níveis moderados ou altos de anticorpos. O mesmo já havia sido apontado por pesquisas anteriores.

Como nem todos os pacientes tinham confirmação do novo coronavírus por testes PCR (considerado o padrão-ouro para detecção da doença), os pesquisadores fizeram uma segunda e uma terceira análises com 568 pessoas com confimação do vírus por PCR e 2.347 pessoas que se autodeclararam PCR positivo para o novo coronavírus.

Os resultados apontaram que mais de 99% e 95% desses subgrupos, respectivamente, apresentavam anticorpos contra a Covid-19.

"Portanto, a parcela de pessoas que não tem seroconversão [produção de anticorpos] é baixa, apesar desses indivíduos existirem", afirmam os autores.

Finalmente, os pesquisadores acompanharam 121 pacientes para verificar os níveis de anticorpos com o passar do tempo. Essas pessoas haviam feito testes sorológicos aproximadamente no 30º dia após o início dos sintomas. A segunda e terceira verificações do nível de anticorpos foram feitas, respectivamente, cerca de 82 e 148 dias depois do aparecimento dos sintomas.

Os níveis de anticorpos, segundo os cientistas, permanecem estáveis por pelo menos três meses, com declínios modestos após cinco meses.

"Nossos dados revelam que indivíduos que se recuperaram de quadros leve de Covid-19 possuem resposta de anticorpos relativamente robusta à proteína spike, o que se correlaciona significativamente com a neutralização do Sars-CoV-2", dizem os autores. O plano agora é continuar acompanhando esses pacientes.

A pesquisa não indica de modo conclusivo que os anticorpos encontrados protegem contra a reinfecção, mas os autores dizem crer que é "muito provável que eles diminuam as chances de reinfeção e possam atenuar a doença em casos de infecção".

Contestado por especialistas, o estudo do Imperial College de Londres observou 17.576 pessoas com anticorpos IgG detectados por testes rápidos (menos precisos do que o método usado no estudo publicado na Science). Comparando as três fases da pesquisa, houve uma queda na taxa de anticorpos de 26,5%.

Os autores afirmaram, inclusive, que essa queda poderia estar relacionada ao aumento de novos casos de coronavírus no Reino Unido a partir de setembro.

O estudo, porém, tinha diversas limitações além da precisão do teste usado. A primeira, relatada pelos próprios autores, consiste no desenho do estudo: foram selecionadas amostras da população aleatórias e não sobrepostas, isto é, não houve um monitoramento da queda nos anticorpos em populações idênticas entre as três fases. Os autores também afirmam ainda que a importância dos anticorpos tanto para proteção quanto para possibilidade de reinfecção não está muito clara.

Além disso, é normal que o nível de anticorpos caia depois de o organismo de uma pessoa superar uma infecção. Ainda assim, as células do sistema imune carregam uma memória do vírus e são capazes de produzir novos anticorpos quando for preciso.

Dados de estudos em macacos sugerem que mesmo níveis baixos de anticorpos podem prevenir casos graves de doença, mesmo que não impeçam uma reinfecção.

Algumas poucas pessoas podem não produzir anticorpos, mas mesmo essas pessoas podem ter células imunes chamadas células T, que podem identificar e destruir o vírus. A maioria das pessoas infectadas com o coronavírus desenvolve respostas celulares duradouras, segundo estudos recentes.

Segundo Raquel Stucchi, pesquisadora da Unicamp e consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), a diferença de metodologias não permite uma comparação direta entre o estudo de Mount Sinai e o do Imperial College. Ela aponta, porém, a necessidade de mais estudos que investiguem os anticorpos contra diferentes antígenos do vírus e o papel de cada um na evolução da doença e na proteção posterior.

A divergência dos estudos mostra que ainda sabemos pouco sobre a duração da proteção contra uma possível reinfecção e sobre os anticorpos contra a Covid-19.

Por isso, Stuchhi destaca que é importante que mesmo quem já teve a doença mantenha as medidas de proteção, como uso máscara, distanciamento social e higienização das mãos.

"Ainda não temos conhecimento suficiente para falar que a doença confere proteção posterior ou não. O significado prático do novo estudo nós ainda não sabemos, mas ele traz alento."

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