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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Primeiro, o presidente Jair Bolsonaro foi bicado. Agora, foi a vez do ministro da Economia, Paulo Guedes, ser atacado. Moradoras antigas dos palácios do governo, as emas da Presidência da República têm um histórico conturbado com os inquilinos das residências oficiais.
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A relação difícil, sobretudo por conflitos com os bichos de estimação das famílias presidenciais, já levou as aves, que costumam chegar a 1,40 m de altura, a serem retiradas do Palácio da Alvorada.
Os hábitos alimentares das emas, no entanto, que nos palácios atuam no controle de animais peçonhentos, como cobras e escorpiões, garantiram o retorno triunfal e a permanência delas até hoje.
O mais recente incidente envolvendo as aves foi descrito na última segunda-feira (26) por Guedes. Em seminário virtual, o ministro disse que foi atacado por uma delas enquanto caminhava na Granja do Torto, onde tem morado durante a pandemia.
"Eu estou caminhando hoje de manhã e sou atacado por ema. Uma ema, por exemplo, na Granja do Torto. Razão simples. Vários filhotinhos passando. O instinto de proteção, solidariedade, maternal. Normal. Estou querendo caminhar e estou ameaçando os filhotinhos", disse Guedes.
Antes dele, em julho, Bolsonaro foi bicado por um dos animais enquanto o alimentava. O ocorrido rendeu à ema o apelido de "Bicão".
As emas estão no Alvorada desde o início da década de 1960, pouco após a inauguração da residência oficial. Na natureza, vivem em média dez anos, tempo que pode ser ampliado em um ambiente sem predadores. "Elas estão desde o início. Como o Palácio da Alvorada fica às margens do lago Paranoá, há a presença de cobras. Então, foram sugeridas as emas, que se alimentam dos animais peçonhentos", contou o ex-curador da Presidência Rogério Carvalho.
As aves integram ainda a dinâmica dos jardins, compondo uma reprodução do ambiente do cerrado. Ao todo, há 37 emas no Palácio da Alvorada e 20 na Granja do Torto.
A relação conturbada dos animais com os inquilinos do Alvorada não é exclusividade da atual gestão. Na ditadura militar, por exemplo, a primeira-dama Lucy Geisel, mulher do presidente e general Ernesto Geisel, pediu para retirar as emas porque elas perturbavam os dálmatas da família.
Menos de um mês após a saída das aves, uma cobra-coral apareceu na área externa da residência oficial. "Obviamente, ela mandou que as emas retornassem", contou Carvalho.
No início de seu governo, a ex-presidente Dilma Rousseff também transferiu alguns dos animais para a Granja do Torto, segundo servidores da época. O objetivo foi evitar conflitos com o labrador Negão, herdado do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Para contornar acidentes, a então presidente, que tinha simpatia pelas aves, pedia para que os animais fossem recolhidos quando o cachorro circulava pelos jardins.
O sucessor de Dilma, Michel Temer, também enfrentou turbulências com os animais. Os problemas ocorreram no Palácio do Jaburu, onde ele residiu até mesmo após assumir o cargo de presidente.
Por causa da relação difícil das emas com o golden retriever Thor, animal de estimação do caçula Michelzinho, os funcionários da residência cogitaram colocá-las em uma área cercada. Segundo servidores, a então primeira-dama, Marcela Temer, foi contra prendê-las. As aves então continuaram a circular livremente.
Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a então primeira-dama, Marisa Letícia, não se incomodavam com as emas. Eles, inclusive, aumentaram o número de animais no Alvorada e criaram pavões, galinhas e codornas.
Hoje, segundo a Secretaria-Geral da Presidência, o custo mensal com a alimentação dos animais é de R$ 960. O valor supre o consumo de oito sacos de ração de 40 kg.
De acordo com o Palácio do Planalto, não há custos extras com tratadores das emas, uma vez que os próprios servidores das residências oficiais acumulam a função.
Segundo o Ibama, a Presidência tem autorização para criar as emas. Elas são provenientes de criadouros conservacionistas, que ajudam na preservação da Rhea americana, nome científico do animal.
Além das aves, são criados nos palácios galinhas, patos, gansos e peixes (carpas e tilápias). O gasto mensal com os animais do Alvorada é de R$ 3.531. Eles são cuidados por dois funcionários.
Segundo o ornitólogo Marcos Raposo, professor do Museu Nacional, as emas não são animais violentos, mas que, como qualquer outro, se protegem de eventuais ataques de predadores.