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RICARDO DELLA COLETTABRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Mesmo com o silêncio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a vitória de Joe Biden nas eleições americanas, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu informações neste fim de semana a diferentes áreas do Itamaraty para avaliar os impactos de uma administração do democrata na política externa brasileira.
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Segundo relatos feitos à reportagem, diplomatas passaram a ser instruídos neste domingo (8) a enviar relatórios ao gabinete de Araújo detalhando como um governo Biden influenciaria seus respectivos campos de trabalho.
Diferentes áreas foram instadas a fazer essas projeções, considerando que Biden tomará posse em janeiro do próximo ano. O democrata passou a maior parte da campanha como o favorito nas pesquisas de opinião.
O Itamaraty é dividido em estruturas que abarcam as diversas regiões do globo. Há ainda secretarias responsáveis por organismos multilaterais e por cuidar das negociações comerciais.
No funcionamento do ministério das Relações Exteriores, as áreas técnicas produzem relatórios que municiam o ministro e seus principais auxiliares na tomada de decisões importantes.
É normal que diplomatas preparem esses informes após eleições em países estratégicos. Mas as atuais eleições americanas ganharam fortes contornos políticos para o governo Bolsonaro.
Além do mais, diplomatas ouvidos pela reportagem sob condição de anonimato consideraram a requisição de informações tardia mais um sinal de que a gestão de Araújo evitou traçar cenários que considerassem a possibilidade de Biden ser eleito.
O presidente Bolsonaro é admirador de Donald Trump –que foi derrotado em 3 de novembro– e disse em diversas ocasiões que torcia pelo republicano.
A identificação de Bolsonaro com Trump é considerada exagerada por diplomatas e outros especialistas, que alertam para dificuldades no relacionamento entre os dois países agora que Biden venceu o pleito.
Biden foi projetado vencedor no sábado (7) pelas imprensa americana, mas Trump ainda não reconheceu o resultado.Sem provas, ele alega que as eleições foram fraudadas e já afirmou que pretende judicializar o processo.
O cenário é delicado para Bolsonaro, que ao contrário de outros líderes ainda não parabenizou o democrata pela vitória.
O silêncio do líder brasileiro tem sido interpretado como um sinal de que ele ainda não pretende abandonar o trumpismo, o que frustra militares e assessores que torcem por uma política externa menos ideologizada e mais pragmática.
Os chefes de governo dos principais países do mundo já felicitaram Biden, inclusive aliados próximos de Trump. É o caso dos primeiros-ministros do Reino Unido, Boris Johnson, e de Israel, Binyamin Netanyahu.
Internamente, a justificativa para o silêncio de Bolsonaro é que ele pretende esperar até o discurso de Trump reconhecendo a derrota –o que não ocorreu até o momento– ou a oficialização do resultado.
O problema é que os Estados Unidos não têm uma autoridade eleitoral nacional e a proclamação oficial do vencedor demora semanas.
No sábado (7), Bolsonaro fez uma live em seu perfil no Facebook, na qual comentou a crise de energia no Amapá e fez propaganda para candidatos que apoia nas eleições municipais. Ele ignorou a vitória de Biden, projetada horas antes pela imprensa americana.
"Vocês estão vendo as questões no mundo, como está a política no mundo. Cada um tem a sua opinião, vocês têm que discutir, tem que ver que na América do Sul vários países estão sendo pintados mais uma vez de vermelho", limitou-se a dizer o presidente.