Em carta à torcida, presidente diz que eliminou esquema de roubos no Vasco

Sem dar maiores detalhes, Campello alegou ter derrubado supostos esquemas de corrupção dentro do clube.

© Paulo Fernandes/Vasco.com.br

Esporte Vasco 17/11/20 POR Estadao Conteudo

Em uma carta de despedida aos torcedores do Vasco, o presidente Alexandre Campello afirmou nesta terça-feira que eliminou dentro do clube um esquema de roubos e desvios de dinheiro. O dirigente, que deixará o comando do time carioca daqui a dois meses, não citou nomes ou responsáveis.

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"Em três anos de mandato, não fiz outra coisa todos os dias se não detonar o sistema. Soa familiar, não? Já ouvimos a expressão no cinema, mas, posso dizer, com conhecimento de causa, que a realidade é ainda mais cruel. No Vasco da Gama, o sistema entrega a mão para salvar o braço", disse Campello, em uma de diversas referências ao filme "Tropa de Elite".

A carta conta também com referências a sua trajetória de vida e profissional. Campello é médico. "Para mexer no sistema, não basta uma cirurgia plástica. É preciso cavoucar fundo, arrancar vísceras, transplantar órgãos. Quero dividir aqui com os vascaínos alguns dos casos em que tivemos de abrir o corpo e extirpar pedaços necrosados do Clube. Quase sempre sem anestesia."

Sem dar maiores detalhes, Campello alegou ter derrubado supostos esquemas de corrupção dentro do clube. "Tão logo assumi, mudei parte da equipe do então Departamento Pessoal. Acreditem: nem sempre é por falta de recursos que um Clube deve encargos trabalhistas. Cortamos esse mal pela raiz. Ainda no início da gestão, desmantelei um esquema dentro da Operação de Jogos", afirmou.

"Não vou usar de meias palavras: funcionários, com a conivência - ou melhor - a cumplicidade de dirigentes, roubavam dinheiro da bilheteria em todas as partidas. Não satisfeitos, essa quadrilha ainda apresentava recibos fajutos para inflar as despesas de jogo, em conluio com prestadores de serviço. Cortamos esse mal pelo raiz."

Sem citar nomes, atacou candidatos à presidência, que estariam acolhendo ex-funcionários do clube, alguns envolvidos em supostas irregularidades. "Identifiquei na campanha de um dos candidatos vários dos funcionários que demiti, pessoas que passavam por mim exalando desejo de vingança em seu suor. Eles querem um emprego, um trabalho honesto para sustentar suas famílias? Não. Eles querem voltar a sangrar o Vasco. Os vermes estão à espreita. Para essa gente, o Vasco será sempre uma vaca leiteira.

O presidente vascaíno adotou tom de alerta quanto ao futuro do clube. "Fiz o que se esperava de um Presidente: detectei as sacanagens e arranquei do Clube uma por uma. Fiz inimizades, fui ameaçado, passei a ser achincalhado por ex-funcionários nas redes sociais. Conheço o rosto e a voz de cada um desses inimigos. Não arredei um milímetro do meu propósito. Mas as raízes têm vida própria. Elas insistem em voltar a crescer. O sistema, companheiro, se reorganiza, se regenera, articula novos interesses, cria novas lideranças. Quem perde a boquinha logo identifica e gruda naquele que pode devolvê-la."

Campello afirmou que sua eleição, há três anos, representou uma "quebra de um pacto", que teria impedido a permanência de esquemas de irregularidades. "Muitos acreditam ainda hoje que fiz uma espécie de pacto para receber, no Conselho Deliberativo, os votos que me conduziram à presidência da Diretoria Administrativa. Pois foi exatamente o oposto: minha candidatura foi a consequência da quebra de um pacto, do descumprimento de acordos."

"Desde o primeiro dia de gestão, eu me preparei, como diz a linguagem dos boleiros, para carregar o piano. Ou em português mais claro: fazer o 'trabalho sujo', uma expressão curiosa, de sinal trocado. Fazer o 'trabalho sujo' significava limpar o Clube das mais práticas mais danosas, muitas delas encrustadas nas paredes de São Januário há décadas. Quem dera os esquemas do futebol fossem apenas táticos."

O presidente vascaíno pediu desculpas por ter falhado na comunicação com a torcida. "Fui espancado por todos os lados. Não guardo mágoas. Humildemente prefiro reconhecer que se, até hoje, alguns vascaínos não entenderam ou entendem os meus atos é porque eu não tive a capacidade de explicar minhas intenções. Em certos momentos, é preciso admitir, talvez por temperamento, talvez pelo calor das circunstâncias, eu contribuí para nos afastarmos. Peço desculpas a todos."

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