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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Líderes das 20 principais economias do mundo debatem neste sábado (21) e domingo (22), em formato virtual, esforços para conter a pandemia de Covid-19 e os caminhos para a recuperação econômica, com destaque para o endividamento dos países emergentes.
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Os países mais vulneráveis são os mais pobres e altamente endividados do mundo em desenvolvimento, que estão "à beira da ruína financeira e da crescente pobreza, fome e sofrimento incalculável", disse o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, na sexta-feira (20).Na mesma linha, o presidente do Banco Mundial, David Malpass, alertou os líderes do grupo que deixar de fornecer alívio permanente da dívida para alguns países agora pode levar ao aumento da pobreza e a uma repetição dos padrões de calote vistos na década de 1980."Os desafios de dívida estão tornando-se mais frequentes, incluindo no Chade, Angola, Etiópia e Zâmbia onde, na ausência de um alívio de dívida mais permanente, as perspectivas de pobreza continuam sombrias", afirmou ele em declaração durante a cúpula.Para resolver isso, o G20 endossará um plano para estender uma moratória do serviço da dívida para os países em desenvolvimento por seis meses até meados de 2021, com a possibilidade de uma nova prorrogação, conforme consta em uma primeira versão de um comunicado do G20 visto pela Reuters, ainda não divulgado.Os líderes do G20 temem que a pandemia possa aprofundar ainda mais as divisões globais entre ricos e pobres.Em um relatório para a cúpula, o FMI (Fundo Monetário Internacional) afirma que o vigor da retomada econômica está diminuindo em países com taxas de infecção crescentes pelo vírus. O fundo avalia que a recuperação experimentada é desigual e que a pandemia provavelmente deixará cicatrizes profundas."Precisamos evitar a todo custo um cenário de um mundo de duas velocidades, onde apenas os mais ricos podem se proteger contra o vírus e reiniciar uma vida normal", disse o presidente francês, Emmanuel Macron, durante a cúpula.Para isso, a União Europeia pediu aos líderes do G20 que insiram rapidamente mais dinheiro em um projeto global de vacinas, testes e tratamentos batizado de Acelerador de Acesso às Ferramentas para Covid-19 (ACT Accelerator).Na semana passada, os ministros das Finanças do grupo acordaram um "marco comum" para aliviar o peso da dívida, no qual participaram pela primeira vez a China e os credores privados.Mas as ONGs e Guterres acreditam que não é suficiente e pediram "um alívio maior da dívida". O secretário-geral também quer que a suspensão seja estendida até o final de 2021.Neste sentido, o ministro da Economia argentino, Martín Guzmán, pediu na sexta-feira (20), em uma reunião virtual de ministros das Finanças do G20, um "apoio" dos membros na negociação da Argentina com o FMI.Guzmán agradeceu "a todos os países do G20 por terem apoiado o processo de reestruturação" e destacou que "o próximo passo para resolver nossa crise macro e de dívida é o programa com o FMI", em declarações citadas em um comunicado do governo.A reunião acontece em um momento em que o grupo recebe críticas por sua resposta à recessão mundial e quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, continua sem reconhecer sua derrota nas eleições presidenciais.O americano saiu para jogar golfe durante a cúpula, após fazer um breve discurso fechado à imprensa. Fontes ouvidas pela AFP afirmam que Trump afirmou ter feito "um trabalho absolutamente incrível durante sua gestão, economicamente e com a pandemia".Desta vez, não houve uma grande cerimônia de abertura, nem há expectativa de chegar a acordos bilaterais. A cúpula está limitada a sessões curtas online, o que alguns já chamam de "diplomacia digital".Em seu discurso de abertura da cúpula, Salman bin Abdulaziz, rei da Arábia Saudita, país que detem a presidência rotativa do grupo, enfatizou a necessidade de acesso equitativo às ferramentas para combater o vírus, incluindo vacinas."Devemos trabalhar para criar as condições de acesso equitativo e a preço acessível dessas ferramentas para todos os povos. Ao mesmo tempo, devemos nos preparar melhor para qualquer futura pandemia", afirmou.O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido), defendeu em seu discurso na cúpula reformas na OMC (Organização Mundial do Comércio). Ele também disse esperar que o órgão de apelação da OMC possa voltar à plena operação o mais rápido possível.Apesar da possibilidade de uma nova onda do coronavírus no país, Bolsonaro buscou ressaltar a visão de uma recuperação da economia brasileira."À medida que a pandemia é superada no Brasil, a vida das pessoas retorna à normalidade e as perspectivas para a retomada econômica se tornam mais positivas e concretas."Os países do G20 já gastaram mais de US$ 21 bilhões para combater o coronavírus. Também mobilizaram cerca de US$ 11 trilhões para salvar a economia mundial, segundo os organizadores.